sexta-feira, 5 de março de 2010

Lealdade


Então, o seu nome é Darleny Cunha, não é?

É isso mesmo doutor.

É senhora Cunha, o seu caso é complicado. Como vou poder dizer para o Juiz que ele ameaçava a sua família se não tenho nenhuma prova? Você devia ter feito pelo menos um boletim de ocorrência para poder confirmar a sua história.

É como eu disse da última vez que você esteve aqui, Promotor...

Não, já te falei algumas vezes, eu sou Defensor Público, o Promotor é o cara que quer te manter aqui.

Pois bem seu Defensor, o Wanderley, o Wandinho, vinha ameaçando eu e o Douglas já tinha muito tempo, ele queria que nois saísse da casa onde a gente tava pra fazer um boca pra vender crack, mais nois não ia sai não! Ai quando ele falou que ia sumir com as crianças eu não vi outra opção senão acabar com aquele sujeito.

Crianças? A senhora tem filhos?

Sim, tenho 3. Mais não sou eu quem cuida não, é a minha mãe que cria, ela tá morando ali perto de Campo Grande, bem no finalzinho de Bangu, conhece?

Não... Mas vou colocar isso no seu processo, bem, o nosso tempo acabou. Assim que conseguir alguma novidade eu venho te informar. Boa Tarde.

Após terminar de falar o Defensor fecha o processo que tinha nas mãos e sai da sala, quase que no mesmo instante entram duas agentes penitenciárias e me levam de volta a cela. Na Penitenciária Feminina Tavarela Bruce, a TB, tudo é cinza. E essa cor me dá pesadelos, pois me lembram como vim parar aqui.

Tive que mentir para o advogado porque se contasse a verdade iria mofar aqui até as crianças terminarem o colégio e não ia poder ver o Douglas jogando.

O Douglas é uma pessoa boa, é o melhor do bairro na pelada. O Bangu já tinha chamado ele pra jogar e disse que ele tinha potencial, com um pouco de treino ele ia estar logo logo jogando no Flamengo e em seis meses estaria na Europa.

Mas o Wandinho não gosto nada disso e falô que ele tinha que ser um dos guerreiros dele senão ia comer grama pela raiz.

Não podia deixar o Wandinho fazer isso! Por isso fui na casa dele quando ele tava dormindo e virei uma panela de água quente bem no ouvido dele! A casa dele era toda chapiscada de cimento, exatamente a mesma cor que é tudo por aqui.

Eu sei que o que fiz vai servir para alguma coisa no futuro quando o Dodô estiver lá
na Europa ganhando milhões.

Agora é só esperar. Ele ainda não veio aqui nesses dois meses porque deve estar treinando, mas eu sei que ele vai vir aqui me visitar e arranjar um jeito pra me tirar daqui.

Eu só tenho agora é que esperar...

6 comentários:

André M. Oliveira disse...

Olha só... Tarso Santana em uma semana produtiva! Ótimo texto.
E tem um jeito de historia real, desas que você contava lá da defensoria.

Ludmilla disse...

Tem jeito de história real mesmo, ou filme biográfico, tipo aquelas histórias que o Dráuzio Varela contou no Carandiru.

Tarso "Carioca" Santana disse...

Que bom que pareceu real, sinal de trabalho bem feito. hehehe.
Essa semana como estou pondo em prática o ócio produtivo.

Mt obrigado pelos comentários.

Wolv disse...

Oh... não vale copiar depoimento dos arquivos da defensoria pública, vei!
Feio, muito feio!
IUAHiuahiUAHIuh
Massa bagarai vei!! Mandou benzão!!

Stéfs disse...

Muitoooo bom!Parabéns!

Até que a ociosidade tem-lhe feito muito bem sabia?!
Continua assim que vc vai longe!

E aí,será que o Dodô vai aparecer?!

Cenas do próx capítulo!

Bjs!

Unknown disse...

Tinha que ser Dodô né...

Pq o DODÔ É O PODER!

_`x´_