sexta-feira, 12 de junho de 2020

Dia dos namoradxs

No meu teclado falta a letra x.

Me perguntei algumas vezes, quantos vocábulos e parálises pretenderia imputar nos escritos que continham esta letra. Alerto, por observação prática, que a maioria destas vem acompanhada previamente de um E. Excessos de explicações e expressões extenuantes.

O paralelo que faço com aquela que é a matéria-prima daquele que escreve. Que deve ou não deve ser expresso, tendo ou não o gabarito, a abertura, o composto. Conto com a possibilidade, através das palavras, palavras, palavras, palavras, como diria Cássia Eller, de exprimir o que bem entender. Bonito suficiente é a tua infinitude interpretativa. Não conto com esta, uma vez que não constitui o meu sonho.

Um dia que supostamente seria aleatório, não fosse o significado capitalista dado. 12 de Junho. Interpelado pelas mesmices anuais. Fotos de casal, rolês no shopping, cinema, jantares, motéis. Ironicamente assassinado pela crise epidêmica. E eis o x da questão.

Me encontro na cruzada entre expressar o que não preciso e viver o que quero. Como se deseja algo por alguém que não se sabe a reação. Como voar se não se sabe onde pousar. Como atirar sabendo que o alvo está se movendo. Incógnito, estranho, incerto. É como pedir um aumento. É como viver. E que diabos a vida quer da gente?

Ironicamente confortável a expressão aqui contida. Desdenhosa de tristezas ou morbidez, afaga com carinho um coração cheio que adora um significado, se entorpece da admiração gigante e mais, compreende. Compreende que amar definha o medo. Amar é coragem. É se estrepar, mas também é conquistar os mais altos castelos, os mais protegidos dragões, ter as maiores e mais belas borboletas a girar em seu sistema digestivo e, finalmente se DESAPAIxONAR. E ri de si pelo x que cá não se capitaliza. Ri de si pela alusão aos contos-de-fada. Ri da própria porcaria literária. Falta de repertório, gorda referência. Referência!

E entende, talvez noutro equívoco, a solidez.
No seio de nossa coisinha, reside o x.
Agradeço, a quem não é mais, por ser mais.

xxxxx xxx xxx xxxxxxxxx.