segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Meu presente

Eu estou longe de você já faz muito tempo.

Espero que essa distância não tenha te machucado tanto quanto está me machucando. Gostaria que soubesse que mesmo longe tenho olhado por você.

Posso não estar presente, mas meu coração nunca foi para longe do seu.

E por isso, nessa época de festa e alegria que você está passando, te mando este simples presente, que talvez nem chegue ao seu devido destino.

Como você já tem muitas coisas, oque te dou é algo especial, pois não pode ser tocado nem mensurado, e nada além destas palavras vão confirmar que são tuas – e só tuas – estas coisas.

Desejo-te a coragem e a persistência do primeiro raio de sol da manhã, que rompe as trevas e cria o maior espetáculo da Terra, enquanto todos dormem, pois sabe qual é sua missão e tem a certeza que o dever cumprido é a maior de todas as recompensas.

Desejo-te força de vontade, pois ela é a primeira das virtudes que as grandes pessoas cultivam – e sei que você é uma grande pessoa.

Seu destino será fabuloso, pode acreditar.

Ele me disse.

Nunca tema nada, pois a além do seu, o meu anjo da guarda está fazendo uma hora-extra para me certificar que nada de ruim aconteça com você.

Força nessa nova estrada que surge diante de ti.

Do sempre teu,

Tarso.

"Veja você, onde é que o barco foi desaguar
A gente só queria um amor
Deus parece às vezes se esquecer
Ai, não fala isso, por favor
Esse é só o começo do fim da nossa vida
Deixa chegar o sonho, prepara uma avenida
Que a gente vai passar"

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Titanomaquia Parte 2 - O Monte Olimpo

Capítulo 10

- Peguei-a Óbulo! Peguei-a! Gritava Zeus efusivo.

- Mantenha-a firme Zeus, vamos evitar mais surpresas desagradáveis. Agora, senhorita, poderia trazer nossos amigos de volta à consciência?


Métis lutava ainda de costas para seu atacante, incapaz de vê-lo, a aproximação da águia fazia a situação piorar. Maldita hora em que resolvi desvendar os mistérios de Réia, maldita curiosidade, maldita sede de conhecimento! Assim que tiver uma oportunidade irei cravar meu punhal no peito deste bárbaro que me mantém presa, depois me preocupo com a ave.
Já de frente para a jovem Óbulo insiste - Vamos lá minha cara, imaginei que dissipar o aroma cortaria o efeito de seu sortilégio, vejo que não funcionou. Então, como faço para reaver nossos companheiros?

- Bem... posso desfazer o feitiço, mas não assim presa, necessito de meus movimentos.

Óbulo meneou a cabeça. - Me tomas por um tolo Métis? Acaso não acabo de ver o que fez com todos os Curetes em tão pouco tempo?

- Não era minha intenção, isso tudo foi um mal entendido. Estava apenas sendo cautelosa, que reação esperava de alguém que encontra uma equipe de guerra?

Neste ponto Zeus interfere sorridente. - Ora Óbulo, se ela precisa estar livre para retirá-los desse torpor, que seja. Confio que não nos fará mal algum. Dizendo isso soltou a Oceaniade, antes que a Águia pudesse se opor a tal ideia.

Ao se ver livre Métis sacou seu punhal virou-se para atacar Zeus, o qual em um hábil movimento segurou-lhe o punho com firmeza, sem perder o ar sorridente e jovial. Ao olhar pela primeira vez o jovem filho de Cronos face à face, Métis se surpreende e balbucia um inauldível pedido de desculpas enquanto deixa sua arma escapar por entre os dedos.

- Viu? Não lhe disse que ela era de confiança, agora pode libertar meus amigos... Métis, certo?
Desnorteada a oceaniade espalha um aroma cítrico pelo ar, e segue com movimentos rápidos dos braços. Rapidamente os Curetes despertam sem compreender como Óbulo e Zeus estão presentes, e, principalmente, o que aconteceu com a bela dama, para que sua expressão mudasse da altivez imponente para a confusão subserviente.

Com a situação sob controle Óbulo ordenou que Alcmon construísse algo que a mantivesse presa, pois ainda não sabiam de suas reais intenções . Os demais Curetes seguiram escoltando a beldade enquanto Zeus libertava o lobo utilizado como distração por Métis.

- Pobre animal, também estava sobre os encantos dela. Enquanto falava Zeus afagava carinhosamente a criatura. - Mas não posso culpá-lo, ela é mesmo encantadora, não?
Óbulo notou que a feiticeira caminhava com passos curtos, volta e meia olhando para trás, então, dirigindo-se a Zeus:

- Acha que não vejo o que está fazendo, jovem Zeus?

- Ora Óbulo, só falta me dizer que agi de forma errada!

- Arriscou-se por um flerte Zeus! Poderia ter saído seriamente ferido deste encontro!

Mirando os já distantes belos olhos de Métis, negros como as fendas abissais do Oceano, Zeus sorrindo ousou argumentar.

- Nesse tipo de encontro Óbulo, é a inanição que nos deixa seriamente machucados, não a atitude.

Vendo-se incapaz de refutar tal argumento Óbulo indaga:

-
Então Métis é a criatura com quem desejas compartilhar seu destino?
Já de pé, após libertar o animal que se embrenhara na mata, Zeus sentiu um calafrio passar seu corpo com o comentário da Águia.

- Compartilhar o destino Óbulo!? Você transforma qualquer cosia em uma epopéia! Digamos que pretendo compartilhar nossos destinos, mas isso não quer dizer que o faremos para sempre.

Com um sorriso jocoso Zeus indicou que voltaria ao acampamento, o que fez com que Óbulo alçasse voo.


Caminhando floresta a dentro Métis piscou repetidamente os olhos. Teria sido um feitiço? O que aquele jovem teria feito a ela? E qual seria a fonte de todo o poder que emanava de seu corpo?

Absorta nestes pensamentos seguia conduzida pelos guerreiros, volta e meia arriscando olhar para trás, e sempre que o fazia encontrava o olhar fixo e imponente que a fitava com um sorriso simpático.

Ela notou que todos os membros da "comissão" em algum momento deixaram seu posto e foram até o jovem para uma breve conversa, ao que tudo indicava se preocupavam com ele.



À frente do grupo, em marcha acelerada, ia Alcmon, incumbido por Óbulo de construir algo capaz de reter Métis. Enquanto corria pela mata uma gama de possibilidades se desarcotinava pela mente de Alcmon. O guerreiro pensava nos materiais que poderia usar, e como dispô-los de forma a rapidamente construir algo improvisado, mas resistente, depois pensaria em uma cela melhor. Ao chegar ao lugar chamou alguns sátiros e comandou-os para que buscassem determinados materiais.

Vinte minutos depois, quando os demais chegaram em frente ao Monte Ida encontraram uma grande armação de cipós, juncos, galhos, argila, e outros elementos da natureza, que por mais improvisada que parecesse à primeira vista, com uma análise mais minuciosa, se mostrava resistente e bem engenhada.

Colocando a ninfa em sua cela Célmis, o líder dos Curetes deu espaço para que Óbulo pousasse.

- Vamos lá minha cara, comece nos contando como chegou aqui. Alguém lhe enviou?


Com sua altivez recuperada Métis fitou diretamente os olhos de seu inquisidor para responder:

- Bela ave, Óbulo, certo? Estou aqui por conta própria, trilhei meu próprio caminho. Como bem deves saber as coisas não vão bem no Monte Ótris há tempos. Desde que Réia transmutou minha irmã Ásia em uma vasta extensão de terras que agora encobre a parte oriental de Gaia Jápeto vive afastado, no extremo Oriente, cavando e arrancando rochas na esperança de reavê-la, tolo. Réia não engravidou mais, ninguém sabe a extensão do sortilégio que a atingiu, mas todos ficaram muito satisfeitos de seu rompante de ódio ter cessado contra Ásia. Todos menos eu.


- Por quê?



- Ora meu caro, por que não faz sentido! Quando se voltou contra os demais Titãs Réia ainda não tinha como saber se estava infértil, como, após constatar tal fato, ela se manteve calma ao invés de explodir em fúria contra os culpados?


- E a partir desse ponto...


- A partir desse ponto entrei em contato com as ninfas de seu séquito, e após muito tempo reunindo informações descobri que antes do nascimento do último filho Réia veio ao monte Ida, para algum tipo de culto. Então imaginei que ela guardasse por aqui algo de grande valor ou poder.


- E por isso veio para cá sozinha? Inquiriu desconfiado Óbulo.


- Vim pois me preocupo com meu futuro, imaginei que Réia guardasse algo perigoso, com a pretensão de usar contra os demais Titãs em uma vingança, o que poderia afetar meu pai ou até mesmo a mim. Entretanto
, disse Métis lançando um olhar sorridente para Zeus, mudei de ideia quanto a periculosidade do que é guardado por vocês.
Visivelmente aborrecido Óbulo deu um profundo suspiro enquanto movia a cabeça de um lado para o outro.

- Eônis, veja se nossa "hóspede" carece de algum alimento, Jásio, venha comigo preciso pensar no que fazer. Ah, e Zeus, mantenha-se longe de Métis!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Meu coração favorito


mal sei como o faço
mas juro não é por maldade
não sei como parar
por mais que peça piedade

então estou parado
escutando que sou insensível
te digo que foi de repente
e você que isso é impossível

quando eu quiser
sei que volta para mim
pelos bons momentos
por isso que sou assim

também posso te ajudar
a colar os pedaços
te faço abrir a guarda
para fazer o que eu faço

fazer sangrar
partir rasgar
meu coração favorito
para despedaçar
meu coração favorito
para despedaçar

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

COMO SER UM GRANDE ESCRITOR - Bukowski

(Tradução Pedro Gonzaga)

você tem que trepar com um grande número de mulheres
belas mulheres
e escrever uns poucos e decentes poemas de amor.

e não se preocupe com a idade
e/ou com os talentos frescos e recém-chegados.

apenas beba mais cerveja
mais e mais cerveja

e vá às corridas pelo menos uma vez por
semana

e vença
se possível.

aprender a vencer é difícil -
qualquer frouxo pode ser um bom perdedor.

e não se esqueça do Brahms
e do Bach e também da sua
cerveja.

não exagere no exercício.

durma até o meio-dia.

evite cartões de crédito
ou pagar qualquer conta
no prazo.

lembre-se que nenhum rabo no mundo
vale mais do que 50 pratas.
(em 1977).

e se você tem a capacidade de amar
ame primeiro a si mesmo
mas esteja sempre alerta para a possibilidade de uma
derrota total
mesmo que a razão para essa derrota
pareça certa ou errada -

um gosto precoce de morte não é necessariamente
uma coisa má.

fique longe de igrejas e bares e museus,
e como a aranha seja
paciente -
o tempo é a cruz de todos,
mais o
exílio
a derrota
a traição

todo este esgoto.

fique com a cerveja.

a cerveja é o sangue contínuo.

uma amante contínua.

arranje uma grande máquina de escrever
e assim como os passos que sobem e descem
do lado de fora de sua janela
bata na máquina
bata forte

faça disso um combate de pesos pesados

faça como o touro no momento do primeiro ataque

e lembre dos velhos cães
que brigavam tão bem:
Hemingway, Céline, Dostoiévski, Hamsun.

se você pensa que eles não ficaram loucos
em quartos apertados
assim como este em que agora você está

sem mulheres
sem comida
sem esperança

então você não está pronto.

beba mais cerveja.
há tempo.
e se não há
está tudo certo
também.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Malandragem


"Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua"


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Faca de dois gumes


Em um dia de sol como todo turista adoraria ver na cidade do Rio de Janeiro, estava eu isento de todo esse calor em uma não tão confortável poltrona de ônibus. Porém tinha algo nele que me fazia agradecer qualquer coisa que poderia me incomodar no momento: ar-condicionado.

Um ar refrigerado através da subtração de umidade que tem como a principal característica o egoísmo. Sim, sempre em ambientes selados para que o ar não escape, afinal não daria para resfriar o mundo inteiro. E no ambiente no qual me encontrava, o selo principal era a janela, que além de impedir que eu sinta o calor também me tornava invulnerável ao enfado proporcionado pelos sons gerados por toda grande cidade.

Porém, ao pararmos em um ponto de ônibus vi uma cena que desejei que toda essa proteção se estilhaçasse no chão e me permitisse ouvir o que um artista de rua, um violinista, tocava. Considero-me um apreciador de vários estilos de músicas e instrumentos, e sem dúvidas, o violino é um que me fascina, talvez por não souber tocar. Cada nota executada ainda me parece mágica, como a uma criança aquele coelho saindo da cartola, e por não terem trastes o instrumento, eu não consegui se quer supor que notas eram tocadas e imaginar a melodia.

Era tão estranho assistir às diferentes expressões no rosto do mesmo garoto e a mesma de indiferença das várias pessoas que passavam e não poder ouvir o que saia daquelas quatro cordas. Será que eram músicas famosas? Será que eram tão mal executadas que valiam menos que uns centavos para desencargo de consciência? Ou seria o próximo gênio da música que o grande público jamais conhecerá? Não sei e nem posso dar uma opinião, e o que mais me incomoda é que chegando ao meu ponto de descida, comecei a sentir o calor e ainda não posso julgar a arte do violinista, por que já estou muito longe agora.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Not so real



Ela estava linda. Como pode uma pessoa poderia sorrir daquela forma? Não lembro a roupa que usava, nem exatamente que horas eram, sabia apenas que era uma tarde de outono e que ela estava linda.

Fazia poucos dias que haviam se mudado para a nova cidade no interior de Minas e o clima acolhedor daquele lugar dava a tudo um ar de sonho e fantasia. Muito tempo havia se passado desde a última vez que pensou estar tão feliz. Nem parece que há poucos dias atrás eles estavam lutando contra todos aqueles problemas.

O interfone toca.

Dessa vez a pizza demorou mais para chegar do que de costume. É bom que o motoboy não espere gorjeta.

Desço os 7 andares que me separam do asfalto e sigo em direção ao entregador que conversa despreocupadamente com o porteiro.

- 16,90?

- Isso. Só uma pizza de mussarela mesmo?

- Exato.

- Ok, bom apetite e boa noite.

- Boa noite.

Por sorte o elevador ainda está no térreo quando retorno com a pizza. Aperto o botão de metal que indica o meu andar e observo a porta se fechar lentamente.

Essa pizza vai durar dias.

Até que é um bom investimento comprar uma pizza quando se mora sozinho, por um preço relativamente baixo você tem alimento para várias refeições. Só tem dois problemas em fazer isso.

Você vai comer sempre a mesma coisa – o que não é lá tão ruim – e não vai terninguém com quem dividir.

Esse é o real problema.

Como a porta do apartamento estava destrancada, entro com velocidade logo que chego ao meu andar. Deixo a pizza em cima da mesa.

Cristina havia saído de uma cirurgia que a tinha colocado em risco de vida há poucas semanas. Os médicos indicaram que ela mudasse para um lugar mais tranquilo e não tivesse nenhum abalo emocional, pelo menos enquanto estivesse se recuperando da remoção do tumor.

Logo que recebi essas instruções,larguei o escritório na mão do Álvaro e, após arrumar tudo o mais rápido possível, me mudei com ela para Santa Bárbara.

Álvaro foi um grande amigo, sempre pude contar com ele desde os tempos de faculdade na SanFran, e desde de que a Cris começou a apresentar os primeiros sintomas ele sempre esteve com a gente eme ajudou a continuar quando fraquejei.

Sábia que tinham errado o meu pedido.

É difícil fazer uma pizza com massa grossa? Por sorte, dessa vez, erraram só a massa.

Abro a geladeira para pegar uma cerveja quando o telefone toca.

- Ricardo?

- Sim.

- Sou eu a Júlia.

- Eu percebi.

As palavras de Ricardo eram de uma frieza tal, que os quilômetros de fibra ótica que os separavam não foram suficientes para que essas palavras a atingissem e a fizessem perceber que não deveria ter ligado, mas mesmo sem jeito ela continuou.

- Teria como você vir pegar as suas coisas que deixou aqui na minha casa? É que estou precisando arrumar a casa e a viagem já está chegando.

- Amanhã eu passo ai. Agora tenho que desligar, estou trabalhando.

- É uma história feliz?

- É.

- Então tá, até amanhã.

- Até.

Ao desligar o telefone sentiu um aperto no peito tão grande que pensou até que fosse chorar.

Desde a última discussão, decidiu que nunca mais iria derramar uma lágrima por ela e tirá-la de sua vida, com já havia feito com tantas outras que passaram por seu caminho.

Apesar de todos os pesares, agora tínhamos uma vida nova pela frente. É reconfortante ter a certeza que a pessoa que se ama está do seu lado e disposta a enfrentar o mundo, se for necessário, para que vocês continuem juntos.

Um estranho misto de ansiedade e alegria ocupava o lugar que antigamente pertencia aos meus medos. Todos eles haviam ido embora.

Com um sorriso nos lábios, me perguntei:

Como isso poderia ser tão real?