sábado, 31 de dezembro de 2011

Fim de ano (e do mundo)


Em 2012, eu espero, que o mundo acabe.

Não por causa de uma profecia Maia mal interpretada ou por causa de uma guerra catastrófica.

Espero simplesmente que nesse ano que vem chegando, nós consigamos destruir esse monstro que muitas vezes nos aprisiona, chamado passado e consigamos dar espaço para o futuro.

É uma filosofia meio Kong Fu Panda, mas temos que deixar o passado para trás, lembrando-se que ele, agora, é apenas história. O futuro, com suas brumas misteriosas, podem guardar belos tesouros ou desafios ainda maiores – acho bem provável que guarde os dois.

O único problema é que o futuro ainda é só especulação. Por mais que o planejemos e tentemos medi-lo, ele ainda não existe.

Tudo que temos é o presente, e ele não tem esse nome atoa, ele é um dom dado a nós para que possamos mudar tudo que não nos agrada e possamos construir nossos futuros.

Em 2012 desejo paz, pois só nela podemos cultivar o resto, desejo força, para não fraquejar nos desafios que encontrarmos, e sabedoria para conseguirmos distinguir as boas das más escolhas.

Que todos encontrem a sua verdadeira Verdade e consigam cumprir com os seus papeis nesse mundo.

Feliz 2012 e que o velho mundo acabe logo.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Dúvida coerente

Andamos milhas, quilômetros, distanciamo-nos, aproximamo-nos... chegamos e saímos.
Afinal de contas, realmente sabemos onde queremos chegar? Com isso pertina-me outra indagação... no que tange ao limite, conhecemos os próprios, sabendo que podemos ultrapassá-los ou simplesmente respeitamos este, vivendo na pacata zona de conforto do "eu"?



Afinal de contas, dá pra ir além?!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Viagem monótona

Pela janela do ônibus vê o nascer de um sol esmaecido. Do rio que acompanha a auto estrada emana uma espessa neblina que acinzenta friamente a paisagem. O bafejar ritmado marca uma mancha no vidro, que surge e desaparece junto com sua respiração.
Pelo vidro superior entra uma brisa que ganha força com a velocidade do ônibus, causando um prazer gélido sobre sua pele. Segue contemplando o rio, que em suas curvas se aproxima e se distancia do veículo, trazendo sempre consigo um ambiente fúnebre e enevoado que os ainda timidos raios de sol lutam para transformar em uma bela manhã.

Viagem monótona...

Neste instante ouve uma voz que um tanto quanto desconcertada lhe pede para fechar a janela devido ao frio.
Olha para trás com calma e um belo ser, de olhos ternos, da mesma idade que tu, trajando um gorro e vestindo uma jaqueta jeans que parece não lhe proteger muito do frio. Levando a mão a janela sorri-lhe enquanto veda a causa de tal suplício. Endireita a postura enquanto pergunta-lhe o nome. Certificando-se de que viaja sozinho faz um convite para que se sente ao seu lado, o trajeto será longo, seria bom ter alguém para conversar. A resposta vem com um sorriso e ganhas uma ótima companhia para a viagem que agora se torna muito interessante...

Bem, na verdade, isso é o que descobriu que deveria ter feito, depois de descer do ônibus, já muito longe dali, ainda pensando sobre o acontecido. O que realmente fez foi um pouco diferente...

Viagem monótona...

Neste instante ouve uma voz retraida, um tanto quanto desconcertada que lhe pede algo. Olha para trás de sobressalto e da de cara com uma pessoa de belas feições, ao menos é o que lhe parece nos poucos segundos que a encara.
- Que?
- A janela...
- Ah, sim. Um tanto quanto atrapalhadamente tenta fechar a janela de forma eficiente, primeiro com uma mão apenas, depois com as duas, por fim empurrando-a com o peso do corpo. Como se fechar janelas impressionasse alguém. Após esse esforço épico se volta sorridente, esperando uma resposta. Em troca recebe outro sorriso embaraçado. Pensa rápido em algo para dizer antes que os bancos tampem por completo sua visão, palavras saem de sua boca e não se reconhece em sua fala. Quanta idiotice! Em resposta recebe um murmúrio que pode ser qualquer coisa, mas que provavelmente não é nada, apenas uma resposta dada por educação, ou hábito de se responder quando lhe dirigem a palavra. Lembra-se que não lhe perguntara o nome. Passa boa parte do longo trajeto buscando uma nova oportunidade para se virar e falar algo. Não há motivo para isso...

Viagem monótona!


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Realejo


A velha lata vermelha estava aberta e o passado trasbordava dela.

O tempo havia sido gentil com o metal e muito pouco havia sido transformado após todos esses anos. 

Ainda dava para ver uma rena dourada pintada na tampa e desenhos natalinos no fundo com certa clareza, mas algumas manchas de ferrugem podiam ser percebidas na borda e dentro dela.

Eu não lembrava ao certo em que ano havia comprado aquela caixa e muito menos porque ela era de natal.

Só tinha a certeza que nela estava guardado o meu mais precioso tesouro.

Cartas de antigos amores, entradas de cinema , fotos e outras coisas insignificantes de valor inestimável .

Todas agora estavam esparramadas pelo chão da sala e muitos minutos foram gastos entre todos aqueles fragmentos de minha própria história.

Uma foto em especial havia me chamado a atenção.

Devia ser uma festa junina. Ou seria uma quermesse? Não importava.

Eu estava com um sorriso bobo no rosto, típico dos apaixonados, ao meu lado estava uma garota com um sorriso igualmente bobo na foto.

Era a festa junina do colégio! Claro.

As lembranças daquela noite foram tomando forma e minhas memórias e pareciam tão reais que quase podia sentir o cheio de canjica e ouvir os forrós que insistiam em sair de caixas de som quase da mesma idade que eu tinha na época.

“Ah! Essa foi a última foto André! Essa deve ter ficado ótima. Não pisquei nem sai de boca aberta, o que já é uma vitória. Vamos logo que eu vou ter que voltar cedo para casa hoje.”

“Tá bom Clara, mas depois não reclama que não temos nenhuma foto ou que você nunca sai direito nas nossas fotos.”

“Tá bom, tá bom.”

Eles caminhavam de mãos dadas por entre as pessoas da festa e sua efêmera felicidade de novo amor fazia o frio parecer menos frio e a bandeirinhas trêmulas pelo vento sussurrarem desejos de boa sorte.

“Olha ali! Um realejo! Nunca tirei a sorte em um realejo... Vamos ver o que o destino guarda para nós?”

Era impossível recusar um pedido dela quando ela inclinava um pouco a cabeça para a esquerda e sorria daquela forma que estava sorrindo.

Os dois chegaram em frente aquele incomum instrumento e chamaram a atenção do músico, que havia parado por um momento para dar algumas sementes de girassol para o papagaio oráculo.

Ao perceber a presença do casal ele abriu um largo sorriso que surpreendentemente tinha um canino de ouro – ou coisa parecida – que brilhava quase tanto quanto os alvos dentes dele.

“Será que o belo casal está disposto a descobrir seu esplendoroso futuro no magnifico Realejo do Senhor Crispim?”

Enquanto proferia a pomposa frase, tirou a cartola e fez uma reverência para o seu reduzido público.

“Sim”, disse com um pouco de vergonha.

“Maravilhoso! Vamos lá Senhor Crispim! Surpreenda estes jovens com seus místicos poderes!”

E o artista começou a girar à manivela que dava vida ao instrumento.

A ave parou de fazer sua refeição, olhou para o casal e foi em direção a uma pequena caixa com dezena de papeizinhos coloridos dobrados.

Pegou um amarelo, caminhou por cima do instrumento, depois pelo corpo do artista e entregou nas mãos, brancas como leite, da Clara.

Antes da garota poder abrir o papel, o artista interveio.

“O futuro não vem de graça. Um real, pela previsão, por gentileza.”

Rapidamente peguei uma nota de cinco reais e entreguei, enquanto Clara abria o papel e fazia um olhar perplexo e movia os lábios como sempre fazia quando não entendia alguma coisa.

“Não entendi. Me explica.” E entregou o papel para mim.

“Como vou saber!? Quem queria descobrir o futuro era você.”

“Mas você sabe tudo, ué! Pensei que entendia dessas coisas futurologisticas também.”

E os dois riram e foram comer canjica ou pipoca, não lembro ao certo.

O que estava escrito naquele papel? Eu devo tê-lo guardado em algum lugar...

Remexendo todas aquelas folhas encontrou um pequeno pedaço de papel, que estava ainda mais amarelado, por causa do tempo.

Ao reler aquela frase sorriu. Como quem entende um piada que foi contada há muito tempo e ignorada por parecer não fazer sentido.

“De coisas frágeis como sonhos, beijinhos e pipocas, todos somos feitos, nunca se esqueça.”

Foi pipoca.

sábado, 3 de dezembro de 2011



Você ainda a ama, mesmo depois de todo esse tempo?

Amo.