segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Pátria que pariu!




Acompanhei calado o fenômeno do linchamento dos atletas brasileiros que rolou no Facebook ao final das Olimpíadas regulares de Londres. Assisti a inúmeros colegas criticando grosseiramente o desempenho da delegação brasileira no quadro de medalhas, dizendo que faltou empenho, que faltou garra, vontade, e todas essas coisas que supostamente levam à chamada vitória. O resultado foi chamado de vergonhoso, como se fosse obrigação de nossos compatriotas ganhar todas as medalhas.
Quase ninguém se lembra, nesses momentos, que grande parte desses nossos compatriotas não têm patrocínio, não têm equipamentos, não têm locais para treinar, não têm treinadores. É claro que esse raciocínio não é válido pra seleção de futebol: eles têm tudo do bom e do melhor e não fazem melhor porque seus fígados já estão fibrosados de tanta cachaça, e os antibióticos contra gonorreia dão um mal-estar infinito. Os demais atletas carecem de boa estrutura, e muitos deles precisam caçar condições melhores no exterior, haja vista o exemplo do César Cielo, que precisou treinar nos EUA, já que o Brasil não oferecia boas condições. Olhem isso... outro país deu condições pra um atleta adversário se sair melhor! Tem também o caso das duplas Jorge e Renato e Cristiane e Andrezza, jogadores de vôlei de areia que atualmente jogam pela Geórgia, um país do Leste Europeu, que certamente ofereceu melhores condições que as brasileiras pra esses jogadores.
Mas bem, alguns deles têm patrocínio né? Legal. Ganham tênis, casacos, sapatilhas, locais de treinamento e suporte geral, como hospedagem e passagens para os campeonatos. E dinheiro? Só uns poucos, e mesmo assim, sem direito a férias, 13º nem porra nenhuma. E se ocorrer de se aposentar, tão fudidos! Patrocínio não é salário, não é fixo, e não tem previdência. 
Agora, os para-atletas são especiais né? "Que lindo... ele venceu... e sem as mãos!" De fato, os para-atletas merecem nosso respeito. Eles passam pelos mesmos perrengues que os atletas ordinários, e conseguem vencer no esporte diante das condições oferecidas pelo Brasil, que acredito serem ainda piores, levando em consideração que há particularidades como documentos em braile, rampas de acesso, tradutores de libras, que são necessárias a muitos desses amigos atletas. Mas, fala sério: a vitória de um deficiente visual sobre outro deficiente  visual é tão vitoriosa quanto qualquer outra vitória! Paparicar os para-atletas por seu desempenho enquanto crucificamos os atletas ordinários é subestimar a capacidade de nossos compatriotas injuriados. 
A verdade é que as condições de ambos são parelhas, e cada classe passa por suas devidas dificuldades, particulares ou partilhadas, e TODOS estão de parabéns por terem conseguido chegar onde chegaram. Quem somos nós pra falar de alguém? Quantos de nós fomos medalha de ouro em alguma coisa? Quantos de nós somos os primeiros colocados em nossos trabalhos? Em nossas faculdades? Até mesmo nos jogos de vídeo-game ou de tabuleiro? Quantos de nós trabalha sem receber nada por isso, sem férias, sem benefícios? QUEM É VOCÊ, SEU FILHO DE UMA PUTA? Aposto que é à favor das políticas de cotas... seu merdinha.

Vergonhoso de fato é o desempenho do Governo brasileiro, em todos os aspectos. Lá fora, além de condições de se tornarem os melhores no que fazem, os atletas ainda tem a oportunidade (e a responsabilidade) de estudar, de ter uma profissão após se aposentar.

PARABÉNS, nobres irmãos! Não escutem essa gentalha...

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Monumento

Monumento

mo.nu.men.to
sm (lat monumentu) 1 Obra de arte levantada em honra de alguém, ou para comemorar algum acontecimento notável. 2 Construção ou obra de escultura digna de admiração pela sua antiguidade ou magnificência. 3 Mausoléu. 4 Obra intelectual ou material digna de passar à posteridade. 5 Lembrança, recordação. 

Ao ouvir a palavra monumento, via de regra, nos vem a mente uma grande estrutura, uma escultura em pedra ou metal. Pululam em nossas mentes imagens do Cristo Redentor, Torre Eiffel, Taj Mahal. Ou descrições de grandiosidades perdidas no passado, como o Mausoléu de Halicarnásso, a Biblioteca de Alexandria e a estátua de Palas Athena. Perfeitamente correta essa acepção. Entretanto, pretendo falar hoje de uma compreensão um tanto quanto diferente dessa palavra.
Me incomoda a visão estática que se tem dos monumentos, de que são estruturas fixas, que remetem a um momento, personagem ou sentimento exato.
Me lembro de um fato, durante as guerras na Grécia antiga, quando uma batalha era vencida, um monumento era erguido com os escudos e armas do exército inimigo. No ponto em que este começou a recuar, ponto este denominado tropein, de "dar a volta" e o monumento de tropaion, o qual originou a palavra troféu. Mas qual o intuito disso? Qual o porquê desse tipo de atitude?
Não me satisfaço com a resposta "comemorar um acontecimento notável", ou "lembrar os personagens desse evento". Na minha visão responder desta forma é confundir um mecanismo com um fato.
Digo isso raciocinando que o ato de lembrar, por mais que nos seja caro, ainda é pouco perto do que pode nos suscitar um monumento.
Ao marchar no campo de batalha ao lado de um monumento feito com os espólios do inimigo será que os soldados gregos apenas se lembravam que naquele lugar, em um certo dia, de um certo mês, houve uma vitória? Nada mais agia neles? Não havia algo dinâmico, motor, ativo?

Contemplar, ou melhor, vivenciar um monumento é, ao meu ver, algo mais do que lembrar. Mas sim, através dessa lembrança, suscitar ideias, revoluções, quebras e construções de pensamento.
 Os Lusíadas foram escritos para homenagear a bravura dos portugueses no tempo das navegações. É uma "4 Obra intelectual ou material digna de passar à posteridade", é uma lembrança, a sinalização de um marco na história, mas para além disso, é um marco capaz de tocar profundamente aquele que o olhar atentamente, que vivenciá-lo. Por isso traz em si um caráter monumental.
O Cristo Redentor me aparece como um monumento quando ao fitá-lo me permito um espaço. Um espaço de calar para vivenciar a contemplação, para lembrar que a construção dele foi feita com donativos da população de todo o país, para me indignar com o fato de que o acesso a ele, que deveria ser um bem público, é realizado necessariamente por uma empresa de vans, (ou pagando o mesmo valor da passagem em um "ingresso" caso você suba a pé pela trilha), ou simplesmente, me transformando em sua presença. Monumentos, no meu pensamento, são complexos com os quais entramos em contato e que fazem isso, nos transformam e nos transmutam. Dessa forma, considero que hajam em nosso cotidiano muito mais monumentos do que imaginamos, muito além das armações de concreto e aço, um pouco além do papel e tinta.