sábado, 30 de julho de 2011

Coisas que não se entende... Parte 1/2



Desde que tem lembranças, de quando era apenas um garoto, um jovem carrega duas certezas acerca de seu velho avô: que ninguém toca em suas envelhecidas garrafas de whisky, nem seu filho, pai do jovem, quando passou a ser maior de idade, nem amigos e nem sua falecida esposa. Ele mesmo fazia questão de limpar aquela parte do armário da sala escura, na qual passava poucos instantes do dia, entrava apenas para abastecer seu copo e voltava a varanda, onde, lá sim, passava horas olhando para o nada, passando a impressão de que uma lágrima escorreria a qualquer momento, o que nunca aconteceu. E isso era a segunda certeza, que agora virara uma dúvida: o garoto sempre teve a impressão de que seu avô estava triste. Anos se passaram desde a morte da esposa, netos vieram, aniversários foram comemorados, e aquela angústia pela lágrima que não escorria continuava. Até que um dia, o rapaz, certo de sua maturidade e confiança que seu avô o creditaria, resolveu perguntar ao velho se ele sempre estava triste mesmo e o porquê dessa incógnita durar tanto tempo. O velho deixou escapar um sorriso tímido de canto de boca, como se sua experiência de vida finalmente fosse útil, ou rindo da ironia da vida, pois só então alguém falou sobre com ele, e disse ao neto que aquilo não era tristeza apenas, e se a fosse, seria por pensar em coisas que nunca entenderia, nem se vivesse outros dez septênios. O rapaz, notoriamente sem entender, não precisou falar para o velho começar a se explicar, e o fez exemplificando com uma história que tinha ouvido, mas não se lembrava de quem, há alguns anos.


"Era carnaval, e a pequena cidade estava em festa. Muita luz, muita música e muitos forasteiros, dentre os quais, nada em destaque, havia um jovem com vestes baratas, como sua vida, que de nada valia, pois ele sentia que faltava algo nela, que faltava alguém nela. Ele gostava de romances épicos, de poesias e de musica, mas não as entendia, pois era como um vaso que ele sabe que contém água, mas não pode vê-la.

Não muito ocupada havia uma garota, bela, pele alva, olhos escuros como o mistério que guarda a noite. Ela gostava da festa que estava para acontecer, ela era da cidade, acostumada com o grande movimento nessa época do ano, principalmente de rapazes que a cortejavam, em vão. Ela não acreditava que podia amar alguém, ela não acreditava que alguém poderia amá-la. Nunca olhava nos olhos dos outros, desconfiança, talvez. Era tímida, mas seu sorriso era encantador, como tudo que ela era.

Com fome após chegar à estranha cidade, o jovem forasteiro procura uma casa para acolher-se, os moradores dessa cidade tinham a fama de serem bem hospitaleiros. Ele bate numa casa bem iluminada, com pessoas bem vivas dentro. Quando é atendido ele fica paralisado com a beleza da jovem que o atende, ele olha diretamente nos olhos da garota, fica hipnotizado, seu corpo gela, fica calado, e após um silencio constrangedor ele se apresenta. A garota desvia o olhar e ri, envergonhada, e também se apresenta.

Depois, já dentro da casa, ele conta sua historia para toda a família, eles não se impressionam mais como da primeira vez, que escutaram atentamente a historia de um homem que perdera um olho caçando. Ele repara que a garota que o recepcionou não estava na sala com os outros. Fica triste, ao contar sua vida, pois não entendia como pudera viver tanto tempo sem conhecer uma pessoa tão bela. Agora parecia ver a tal água do pote.


Cantarolando uma canção da festa, estava encostada na janela, vendo os viajantes, e os comerciantes. Ela não queria mais nada, não imaginava mais nada além de sua vida nessa cidade, achava estar feliz, achava ter tudo. Lembrava-se da infância, de quando corria com seus irmãos pelo campo. Lembrava-se de tudo, menos de alguém. Ninguém em especial, mas talvez a pessoa mais importante de sua vida, que ela esperava, mas não sabia como ele era. De repente, foi interrompida, com seus sonhos, por batidas na porta de madeira, eram batidas incessantes. Ela vendo que ninguém no local reparara nas batidas resolveu atender a porta. Ela estava com os olhos cheios de lagrimas, frutos de suas recordações e previsões, quando ela abriu a porta e viu um jovem, que apesar de não se vestir muito bem, belo. Ele ficou um tempo olhando para seu rosto, ela ficou envergonhada, achando que o estranho reparava em suas lagrimas. Ela desvia o olhar, e antes que pergunte o que ele deseja é mais uma vez interrompida por ele, desta vez ele se apresenta e diz o porquê de estar ali. Ela acredita, também se apresenta e permite-lhe a entrada. Ela o apresenta para a família, que feliz começa a enchê-lo de perguntas. Ela, sem ser percebida, afasta-se e vai para seus aposentos. Lá ela começa a chorar descontroladamente, sem motivo, pelo menos ela não sabia até então.

O rapaz trazia consigo uma caixa, daquelas com o formato de uma viola, o que era exatamente o que continha na mesma. Logo perguntaram se ele sabia tocar tal instrumento e ele modestamente disse que sim e instantaneamente pediram que tocasse algo para eles; ele como boa visita não se fez de rogado e começou a tocar e cantar uma musica bem festiva, uma musica alegre, mas que ao mesmo tempo tocava o coração de cada um que lá estava. Ele então se tornou a atração da família pelo resto da noite, sua musica atraia vizinhos até.

De manhã, após deliciar-se com o saudoso café que seus anfitriões o ofereceram, sai para uma caminhada pela cidade, mais com o intuito de conhecê-la. Não muito longe da casa ele achou um campo, com flores, árvores e um imenso e inspirador planalto. Ele ficou minutos a observar tal paisagem, mas, dessa vez, ele que fora interrompido. Sua admiração pela paisagem logo acabara, ele encontrou algo mais bonito que aquele lindo lugar, ou melhor, alguém mais linda, a mais linda. Ele lembrou-se da jovem, era a que atendera a porta na noite passada. E como ele se lembrava dela. Só lamentava não tê-la visto mais vezes. Ele se aproximou e a cumprimentou. Eles já sabiam que eles se amavam desde noite passada. Ninguém podia perceber, ninguém podia acabar com aquilo, mas eles se amavam.

Eles ficaram juntos a tarde toda. Perceberam que eram ligados por algo mais forte que a simples e animal atração corporal. Resolveram voltar a casa, quando chegaram lá todos felizes como sempre nessa época do ano os saudaram, sem saberem de nada que aconteceu, jantaram e foram para seus quartos.

O jovem hóspede não conseguia dormir, não parava de pensar na garota que estava a menos de dez metros dele. Ele pensava como será dali em diante. Ele pensava como seria sua vida, já que só sabia andar pelas cidades. Ele pensava nela, só nela..."

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Dúvida Coerente



Afinal de contas, o que ensina uma Escola de Samba?

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dúvida Coerente



Porquê o tomate seco é molhado?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Fluxo etílico

Estou no Terminal Leste, a garota que desce do ônibus na minha frente usa o mesmo perfume que ela costumava usar, cheiro de estrelas.

Se as estrelas tiverem um cheiro, provavelmente será o perfume dela. As lembranças fazem meu coração doer e meus olhos encherem de lágrimas, mas não choro. Tento esquecer isso enquanto entro no trem.

Ele caminha lentamente e meu olhar perdido observa o chão durante todo o percurso. Lembro das palavras de Hemingway, “Um homem inteligente é por vezes forçado a embebedar-se ou a isolar-se, para conseguir agüentar os idiotas com que se vai cruzando todos os dias.”. Ele não poderia estar mais certo.

Desço no Brás, centenas de pessoas passam por mim, elas tem feições cansadas, a grande maioria nem me nota, somente aquelas que esbarram em mim percebem a minha presença na grandiosa estação.

Pego a linha Vermelha em direção ao Palmeiras. Uma mulher entra no metrô com a garota que seria minha filha, caso nós continuássemos juntos, essa visão faz meu coração voltar a doer. Talvez seja saudade do que nunca senti.

O Anhangabaú é uma estação feia, mas curiosamente, é o lugar em que me sinto mais a vontade em toda a cidade. Gosto de passar por seus corredores e escadas passando por pessoas que nunca mais encontrarei.

Compro um lanche em um dos quiosques que margeiam o Terminal da Bandeira, a atendente me dá duas opções, escolho uma, mas o lanche que recebo era a opção que não escolhi. Penso em reclamar, mas chego a conclusão que seria inútil.

Ainda sinto fome. Como um lanche em cada um dos outros quiosques que existem por lá. Ainda não sei por que fiz aquilo.

Chego em casa e começo a escreve esse texto.