quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Titanomaquia: Parte 1 – A Senhora do Universo



Capítulo 6
As coisas... Estão... Girando... Algo está errado... Mas... Todos parecem tão... Felizes!?
Após esse pensamento Réia sentiu uma forte dor, desfaleceu e tombou sobre a bela mesa, cuidadosamente ornamentada. Seu corpo começou a se convulsionar e um líquido denso e avermelhado escorreu de seu ventre formando uma grande poça em seu entorno.
- Ela está sangrando Céos! Espero que não tenha conseguido um modo de matá-la, pois caso tenha lhe aprisionarei nas profundezas do Tártaro! – Bradou Cronos, furioso.
- Acalme-se meu irmão, improvável que o sortilégio de uma oceaniade seja o suficiente para eliminar nossa irmã, ela está apenas passando por transformações, não é irmãzinha?
Céos respondeu divertidamente. Pelo aspecto de Réia seu plano tinha dado mais certo do que imaginava, provavelmente, Réia nunca mais teria um filho. E com os demais já digeridos por Cronos os titãs não tinham com o que se preocupar. Então, qual o problema de Cronos querer gritar um pouco? Que gritasse até arrebentar!
- Arrumem o leito da Rainha do Universo! Levem água, alguém estanque esse sangramento!
Cronos gritava ordens com Réia nos braços, indo em direção aos aposentos reais e deixando para trás uma trilha de sangue.

Enquanto isso, na Caverna Dicte, Amaltéia zelava o sono do pequeno Zeus. Ao redor dela se encontravam os Curetes, prontos para baterem suas armas a fim de abafar o choro do bebê, ou atacar qualquer coisa que representasse uma ameaça.
Mais ao fundo da Caverna se encontrava a cabra que Amaltéia ordenhava para conseguir o alimento do bebê.
Do lado de fora, no topo do Monte Ida, ficava de prontidão uma águia, invocada pelos habitantes da floresta para vigiar os longos vales que se encontram na região do Ida.
Tudo isso para que o infante tivesse um pouco de paz, antes dos tempos turbulentos que estavam por vir.

Ainda por algum tempo os demais titãs presentes no salão de festas ouviram os brados de Cronos, até que este se cansou de gritar ordens.
- Já era tempo dele ficar em silêncio. – Disse Céos enchendo sua taça com o néctar de uma das diversas ânforas da mesa.
- Não acredito que vais comer em uma situação dessas!
Céos olhou para seu irmão Hipérion. Ele estava visivelmente amedrontado, os olhos estatelados, o rosto pálido e suas feições estavam deformadas. Por detrás de Hipérion estava Teia, visivelmente desconcertada com a situação.
- Ora, o que foi meu irmão? O titã solar perdeu seu brilho? – Ironizou Céos.
- Você é um imbecil! Isso que você é Céos! Diga-me, o que vai acontecer se Réia morrer?
- Ela não vai morrer Hipérion, sossegue e coma! Se morrer, o que fazer? Cronos concordou com nosso plano, ele vai gritar e urrar, mas não vai ter ânimo para fazer muita cosia.
Céos levou sua taça à boca sorridente degustando o suave sabor do néctar que sorvia em pequenos goles. Nisso Febe se levantou, olhou para Céos e Hipérion e disse:
- Concordo com você, meu esposo. Não acho que devemos temer a morte de Réia, devemos temer muito mais o que ela fará se ficar viva.
Dizendo isso Febe saiu da sala, deixando atrás de si um silêncio que, aos ouvidos de Céos, pareceu agonizantemente assustador.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

já no ônibus...



Nesse primeiro ano morando longe de minha cidade natal aprendi muitas coisas: amadureci, faço arroz, sou mais responsável, faço arroz, planejo meus gastos, faço arroz e uso a máquina de lavar, por exemplo, porém, algo que me chamou atenção foi descobrir que as viagens de ônibus parecem seguir padrões, e o que as fazem ser diferentes somos nós: se está com sono, viagem tranquila e "rápida"; se tem um MP"x", viagem com distração; se tem companhia, viagem mais interativa, se está doente, viagem mais tensa, e assim por diante. Mas nesse texto vou escrever sobre os fatores externos, os que fazem a figuração da sua viagem.

Comecemos no terminal: ônibus de viagem raramente atrasa, mas as pessoas que vão viajar nunca o deixam de fazer. Bagageiro fechado, passageiros contados, portas fechadas, motor ligado e um sujeito correndo, carregando cinco mala, há dez metros do ônibus pedindo para esperar. Desliga o motor, abre portas, abre bagageiros e reconta passageiros.

O que mais gosto dentre as diferenças dos ônibus de viagem e os de linha é o conforto. Porém sempre tenho a impressão de que a pessoa da minha frente goza mais desse fator do que eu, quando ela reclina sua cadeira quase no meu colo. Outra coisa que gosto é a da praticidade, o simples fato de comprarmos cadeiras numeradas me convence de que a sociedade está evoluindo. Isso significa a certeza de que viajarei sentado. Mas sempre tem alguém que acha que é o sortudo que comprou uma cadeira com a do lado vazia ou se senta na janela do vizinho (sim, é preferência nacional a janela) e se faz de surpreso quando o dono da poltrona chega.

Tudo certo, estamos saindo, trânsito fluindo bem, cinco minutos de estrada e alguém se levanta, esbarra numa pá de ombros, e vai direto ao banheiro. Por que não foi A) no terminal?; B) com o ônibus parado? Eu digo A por conforto, tranquilidade e até higiene e B porque na melhor das hipóteses o sujeito vai fazer o número 1, e com o ônibus em movimento potencializa-se a chance de errar o alvo e o ônibus ficar fedendo pelo resto da viagem. Mas se for um número 2 tão urgente assim, o cara deixaria o ônibus fedendo mesmo se este fosse livre de atritos, esférico, no vácuo e nas CNTP.

A frente do ônibus é a parte geriátrica do veículo, abrigando as coisas (ou pessoas) mais antagônicas dele: as velhinhas. Sim, velhAs. Os vovôs deitam e dormem como se não houvesse amanhã, mas as vovós, essas podem ser as mais adoráveis criaturas, quando caladas ou quando te oferecem dinheiro (esse segundo tipo nunca encontrei). E mesmo no primeiro tipo fica-se aquela tensão de que falarão a qualquer instante, se transformando na velhinha-chata-do-ônibus-de-viagem-que-senta-do-seu-lado, e essa fala de vida dela, da vida dos filhos, porque tá viajando, da receita que a falecida mãe deixou, de que queria ter um pônei, e vários outros assuntos (mas esses são os clássicos, menos o do pônei).

Em contraste com as pessoas idosas, sempre estão "elas", as incansáveis crianças. Sendo justo: também existem as adoráveis, as caladas e/ou dormindo. O resto inventa uma forma de ser chata e fazer os pais se arrependerem de não terem usado camisinha. Músicas escolares, hiperatividade física, perguntas do tipo "por que?", reclamações e choradeiras. Isso quando não ficam encarando os outros passageiros. Se eu não fosse um Lord Inglês, faria sinais obscenos com a mão (advinhem: eu não sou um Lord Inglês).

Finalmente chegamos a cidade destino, não disse na rodoviária, mas isso não impede das pessoas se levantarem, pegarem suas malas de mão e formarem uma fila pelo corredor todo. Nunca vi lógica nisso, mas... E quando se percorre o corredor olhando para as cadeiras vazias passadas, logo se ve sacolas, garrafas e papéis. Então desço do ônibus, agradeço ao motorista por não ter tomado drogas vendidas ilegalmente para o manter acordado, o que provoca déficit de atenção e diminuição da velocidade de respostas de reflexos, e por conseguinte acidentes (mesmo assim, só viajo de madrugada, adoro emoções fortes), pego minhas malas e tomo meu rumo, repassando na cabeça o que aconteceu na viagem.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Essa noite...


Essa noite eu tive um sonho.

Sonho, lindo sonho.

Você vinha ao meu encontro, por entre traiçoeiros e ardilosos grãos de areia.

O seu caminhar era lento, porém firme.

Seu porte altivo e musculoso inebriava as fibras mais sólidas das rochas avermelhadas em que outrora estivemos a apreciar o pôr do sol de verão.

Até pequei ao pensar que não mais me quisesse.

Mas o seu olhar iluminado pelo brilho da lua cheia já dizia tudo.

Nosso entrosamento era tão perfeito como a brisa suave que acariciava nossas faces.

Eu era exatamente quem você tanto desejava.

Ao se aproximar, meu corpo não mais me pertencia.

Seu toque era meu dono e meu guia.

Ao som da sua voz aconchegante e melodiosa minha mente se dissipava.

Éramos senhores de nossos próprios destinos.

Detentores de todas as almas das Duas Terras.

Era sua rainha,

E você, meu rei.

Vislumbramos os monumentos que perpetuariam sobre a história.

Prometera-me que as juras verdadeiras de amor ecoariam por séculos e séculos.

E assim o foi.

Sua força e luz me enchiam de alegria e de prazer.

Felicidade infinita era estar ao seu lado.

Jamais alguém me amou como você.

Um beijo...

Suave, macio, úmido...

Enlaçado pelo amor e pelo prazer...

Confidenciamos-nos nas terras mágicas e poderosas.

Tornamo-nos um só e,

Energizamo-nos pelo raiar de um novo dia.

Sua força...

Seu poder...

Meu amor...

Esta noite eu tive um sonho,

Sonho, lindo sonho.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Titanomaquia: Parte 1 – A Senhora do Universo


Capítulo 5
Ao chegar de volta ao monte Ótris, ainda seguida por um séquito de ninfas, Réia se deparou com Ida, a melíade arqueira, a qual a interpelou:
- Cronos deseja saber por onde andastes, senhora.
- Diga a seu senhor que eu me encontrava em um culto prestado por humanos e ninfas, e que ele deveria aceitar ser cultuado também, é uma experiência maravilhosa! Respondeu Réia, se esforçando para ser o mais fútil e infantil possível.
- A propósito, diga a meu celestial esposo que ficarei esta tarde realizando os preparativos para o nascimento de nosso sexto filho, pois sinto que já está nas vésperas.
Dizendo isso, Réia passou pela guerreira e se dirigiu aos seus aposentos segurando por debaixo de suas vestes uma pedra envolta em panos que lhe avolumava o ventre.
Ao entrar em seu quarto Réia trancou a porta mais calma, sabia que Cronos só viria quando lhe avisassem do nascimento de seu filho, e como das outras vezes viria, pegaria e comeria a criança. Mas dessa vez, não havia criança para ser devorada.
Ciente disso Réia depositou o pedregulho, mais ou menos do tamanho de um bebê, no centro do salão onde se encontravam, pegou a placenta ensanguentada e cobriu delicadamente a pedra. Segurou firme o cordão umbilical enquanto uma das ninfas pressionava o mesmo sobre a pedra, enquanto isso as demais fizeram um círculo envolta desta cena.
Olhando fixamente a formação rochosa sobre a qual depositava suas esperanças Réia iniciou seu sortilégio, acompanhada de suas ninfas, dizendo cada uma a seu tempo:
- Que a cobiça desmedida e a sede de poder turvem as vistas dos poderosos para que diante deles a pedra se transmute em carne;
-... a areia fina seja sangue quente e pulsante;
-... o teor áspero seja a um toque macio como a pele do mais fino pêssego;
-... a luz opaca refletida pela rocha, seja como olhos que igualem a simplicidade e beleza do orvalho...
No mesmo instante, um pouco distante dali, a ninfa Ásia se encontrava exaurida ao lado de um caldeirão fumegante. Passara os últimos dias produzindo um encantamento forte o suficiente para tornar infértil Réia, entretanto ela não sabia que tal feito exigiria um sacrifício tão grande de seu corpo. Agora ali, olhando para Céos que friamente recolhia o conteúdo do caldeirão, a pobre ninfa não tinha forças sequer pára se arrepender.
-Muito obrigado minha cara. Dê lembranças a Jápeto, quando ele voltar de sua caçada.
Após ouvir tais palavras Ásia desmaiou e Céos seguiu para o Monte Ótris.
No fim da tarde o feitiço ficou pronto e Réia passou a encenar um doloroso trabalho de parto. Gritou, gemeu, urrou e após uma hora mandou chamar seu esposo.
Todas no salão tremeram ao ouvir os passos de Cronos se aproximando, ninguém sabia ao certo se o encantamento seria forte o suficiente para enganar o Titã dos Titãs.
Cronos abriu a porta, olhou para Réia que segurava o embrulho de panos aos prantos, pranto sincero, mas não de dor como das outras vezes, agora ela chorava por uma mistura de ansiedade, medo e satisfação vingativa.
O Titã estendeu a mão e Réia lhe entregou o embrulho. Cronos olhou-o e como de costume escancarou sua boca engolindo-o. Virou as costas e saiu berrando:
- Isso é pra todos saberem, aqui mando eu e ninguém mais!!!
Finalmente Réia pôde descansar, deitou-se em seu leito e ressonou sabendo que seu filho estava a salvo junto com Amaltéia sobre a proteção dos Curetes.
Pareceu a Réia que ela só havia cochilado por alguns instantes quando foi acordada por uma de suas ninfas, mas ao olhar pela janela viu que já era noite.
- Minha senhora, seu esposo está na porta dos aposentos, a chama para acompanhá-lo ao salão principal.
Réia se levantou, mudou suas vestes e seguiu ao encontro de Cronos que a recebeu sorrindo.
- Minha amada esposa, estás mais linda do que nunca!Resplandeces vigor e beleza, és uma rainha e tenho lhe tratado tão mal! Venha, chamei alguns de nossos irmãos para um banquete hoje.
Ao entrar no salão Réia se deparou com a mesa posta e Céos, Febe, Hipérion e Téia sentados.
Isso nunca havia acontecido antes, Cronos sempre ficava amargo por um tempo depois de devorar um filho, e sequer me lembro dele ter me tratado assim alguma vez. Óh! E ele mandou que enfeitassem o salão para o banquete, cortinas douradas, tapetes aveludados, talheres de diamante, como está lindo! Será que poderemos agir finalmente como amigos, como a família que todos somos?Até mesmo Céos ele chamou para o banquete, que dia maravilhoso! Finalmente tudo vai entrar nos eixos.
Ao se aproximar da mesa cumprimentando a todos Réia foi abordada por Céos:
- Minha amada irmã, esta reunião foi organizada as pressas, por isso nem todos puderam comparecer, nosso irmão Jápeto pede desculpas e sua esposa Ásia lhe envia um presente que vejo lhe será muito útil, pois parece-me que estás muito abatida, tome -disse Céos entregando a Réia uma taça repleta de um líquido espesso – aqui está um soro capaz de restaurar todas as suas forças. Com os cumprimentos da Oceaniade Ásia.
E Réia inocentemente pegou a taça, sob os olhares atentos e sorrisos cinicamente satisfeitos de todos os presentes.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Titanomaquia: Parte 1 - A Senhora do Universo


Capítulo 4

No interior do Monte Ida, mais precisamente no grande salão de pedra da Caverna Dicte, um verdadeiro exército de faunos e ninfas persistia em um frêmito festivo já por horas seguidas enquanto Amaltéia ajudava Réia no trabalho de parto.
Enquanto isso guiado pelo sátiro Absirto o grupo dos Curetes se aproximava, todos de armas em punho, como ordenara Réia.
- Aqui está bom. – Disse o Sátiro com um breve sinal de parada – permaneçamos na planície do Ida até segunda ordem.
Assim que ouviram tal ordem os guerreiros iniciaram a construção de um acampamento improvisado, sempre observados com atenção por Absirto.
Antes de ser encarregado desta missão o sátiro já conhecia de fama os poderosos Curetes, mesmo assim se surpreendeu com suas capacidades. Enquanto os via trabalhar Absirto pensava:
- São dez ao todo. Qualquer um que conheça suas histórias os reconhece apenas de olhar. Em cada um é evidente sua habilidade.
- Damneus se destaca por ser o mais forte, capaz de arrancar uma árvore para servir-lhe de arma. Alcmon é o artista do grupo, sempre criando formas mais eficazes e belas de realizarem algo, como as choupanas que estão fazendo nesse momento, sem seu auxílio seriam construções rústicas e desprovidas de segurança, entretanto, o engenho de Alcmon garante que isso não ocorra.
Eônis sempre está envolto de ervas e poções, é o curandeiro do grupo. Portando seu manto de lobo Herácles representa a glória intimidadora dos Curetes. Paione com sua suavidade diplomática é capaz de conseguir facilmente a confiança de algum desavisado que não saiba que ele é um guerreiro sanguinário. Tal engano também pode acometer aquele que avistar o sorridente Epimédes, o mais jovem do grupo dotado de uma alegria imensa, resultado da paixão que tem para com seu ofício de guerreiro.
Célmis também é facilmente identificável. Sendo o líder dos Curetes resplandece determinação de seus olhos, ele é o responsável por unir todo o grupo. Hidas, o zeloso, é o estrategista. Cabe a ele organizar a defesa dos guerreiros durante as batalhas e até mesmo fora delas, sempre que paravam a marcha para alimentação ou descanso ele providenciava armadilhas na área rapidamente. Por fim Jásio, o puro. O único Curete que poderia se passar por um humano normal, portanto o mais fácil de identificar. Jásio possui uma grande sabedoria e um apurado senso de justiça, fora das batalhas é quem normalmente decide nos momentos de deliberações.
Os curetes já haviam terminado a construção do acampamento, só lhes restava aguardar as ordens de Réia. Nesse momento se ouviu um grande coro de vozes que gritavam em júbilo.
Dentro da caverna Réia acabara de dar a luz a seu filho, um menino forte e rechonchudo ao qual ela estava abraçada carinhosamente.
- Veja Amaltéia, como é belo! E como é poderoso, sou capaz de sentir seu poder passando para mim, ou seria o meu poder passando para ele? Dizia Réia sorridente, enquanto a platéia ovacionava delirante e continuava as festividades.
- Amaltéia, entrego em tuas mãos meu mais precioso e reluzente tesouro, ele se chamará Zeus, e deve crescer para destronar seu pai, o titã Cronos! Completou a titânide entregando Zeus a sua mãe adotiva.
Réia sabia que agora era hora de partir, pegou o cordão umbilical e a placenta ainda ensanguentados e os guardou em seu alforje, ordenou aos sátiros e ninfas que dessem fim as festividades e saíssem pelo mundo conclamando os seres humanos a construírem locais de adoração à Titânide réia, afim de conseguirem seus favores divinos e saiu da gruta.
Ao descer até a planície do monte Ida Réia encontrou os Curetes acompanhados de Absirto.
- Muito bem sátiro, cumpriu com louvor tua missão, agora vá.
Após esse comando de Réia o sátiro se curvou em uma reverência e partiu rapidamente, olhando para os guerreiros a Titânide ficou satisfeita.
- Quero que protejam meu filho que está sob os cuidados da ninfa Amaltéia nestas cavernas. Não deixem que Cronos saiba da existência deste bebê, abafem seu choro, nem que para isso tenham de permanecer em treinamento noite e dia vibrando suas lanças e seus escudos.
- Ouvir é obedecer, ó minha senhora! Foi a resposta reverente de Célmis, que simultaneamente se encaminhou com os demais para o interior da montanha.
- Agora, pensou Réia, vem a parte mais difícil.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

uma só música






Como a mão esquerda você me dá
o tom, o ritmo, a base
e a mim cabe imaginar e improvisar
o sonho, o sentimento, o solo
Você, sempre cadenciada, segue firme
a alma, a simplicidade, o necessário
e eu sem regras a serem cumpridas
a forma, o difícil, os detalhes
Seguindo seu padrão conforme
o texto, a vida, a realidade
eu continuo me desviando pelas
entrelinhas, atalhos e o que há de novo
Você se firma na sua verdade
seu texto, sua vida, sua realidade
e eu vario nos devaneios entre
lágrimas, sorrisos e anseios
Sempre nos víamos por diferentes
linhas, caminhos, tonalidades
mas minha mão direita também segue
a certeza, a receita, a escala
e você transmite a liberdade na sequência
de acontecimentos, notas, acordes
E estranhamente alguém pode nos ver como
um só, uma vida, uma música


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Titanomaquia: Parte 1 – A Senhora do Universo


Capítulo 3
Numa planície próxima ao mar Egeu, alheio as ações de Réia, Céos conversa com Hipérion o exuberante titã solar, enquanto este se diverte com seu arco e flecha. A uma certa distância deles o monstruoso Jápeto exercita seus músculos observado por sua esposa, a oceaniade Ásia.
- Com toda a certeza meu irmão, a meu ver, você é o melhor arqueiro do universo!
Após esse elogio de Céos, Hipérion retesou ainda mais seu arco, focou seus olhos e disparou uma flecha em direção ao horizonte. Alguns segundos depois, triunfal exclamou:
- Ótimo! Consegui acertar bem no centro daquela maçã!
- Ora, não vejo sequer uma macieira, quanto mais uma maçã! Redargüiu Céos.
- Por isso eu sou o melhor arqueiro do universo meu irmão, porque posso enxergar mais longe que qualquer um.
- Bem, mas acho que não se oporá em me buscar essa tal maçã perfurada, certo meu irmão? Completou Céos maliciosamente.
Meio que a contragosto Hipérion saiu em caminhada em busca da prova de que não estava contando lorotas e sim se valendo de sua visão poderosa. Enquanto isso Jápeto arrancava uma árvore do solo afim de tonificar seus músculos. Aproveitando o momento Céos se aproximou de Ásia
- Realmente, as habilidades de Hipérion são assustadoras! Disse Ásia, ao ver Céos se aproximando.
Céos, o qual aguardava ansiosamente por essa oportunidade completou:
- Que belo time temos aqui minha cara Oceaniade, não acha? O melhor dos arqueiros, Hipérion, o mais forte dos seres, seu esposo Jápeto, e você Ásia!
Ásia enrubesceu muito orgulhosa, mas teve o cuidado de dizer que ela era apenas uma Oceaniade, não poderia ser comparada a Titãs...
- Bem minha cara, estou falando sobre ser o melhor no Universo em algo, e bem sei que as Oceaniades são as melhores do universo quando se trata de poções, vocês são capazes de fazer de tudo com os ingredientes da terra! Estou correto?
- Não, quem nos dera, sabemos apenas algumas coisas, a conhecedora dos segredos das ervas é minha irmã Métis, e ela guarda esse conhecimento muito bem, nós as demais Oceaniades apenas sabemos algumas coisas de pouco poder.
- Ora, ora... E por acaso você já tentou realizar algo de grande poder antes, minha doce cunhada?
-Bem... não, mas não sei muito bem o que seria algo de “grande poder” nem também como tentar fazer isso...
Ásia podia não saber, mas Céos sabia perfeitamente o que fazer naquele momento.
- Minha caríssima Oceaniade Ásia, Não sabes que o mais poderoso dom dos seres que habitam a superfície da terra ou as profundezas do mar é a fertilidade, a capacidade de povoar os prados, rios e montanhas com seres semelhantes a si, em espécie? Queres dominar um grande poder? Acaso serias capaz de tornar infértil um pequeno animal, como uma coelha?
- Ah, pois certo que sim Céos. É só me conseguir uma coelha.
- Bem, mas pensando melhor, uma coelha é algo insignificante para os poderes de uma deidade como você. Que tal algo maior? Como uma matilha de lobas? Serias capaz?
- Só precisaria que me trouxesses a matilha de lobas e me conseguisse um lugar para preparar grande quantidade de ingredientes! Lhe digo que sou capaz de retirar a fertilidade até mesmo de grandes animais!
- Estupendo minha cara, realmente, é um grande feito tirar a fertilidade desses seres mortais, você chega quase a igualar-nos. Acrescentou Céos, com um sorriso de escárnio.
Nesse momento a Oceaniade, que estava completamente lisonjeada com a conversa até então, pôs-se de pé e passou a olhar Céos duramente. Caso Jápeto não estivesse extremamente envolvido em seus exercícios Céos temeria uma investida do bronco titã comandado por esse olhar.
- Como assim pequeno titã? Considera que meus poderes não surtem efeito contra seres imortais?
- Bem Ásia, – e os olhos de Céos brilhavam ao proferir tal sentença – se duvido ou não, pouco importa, o que importa é que me proves que tu e tuas irmãs, além de Métis é claro, realmente são capazes de dominar grandes poderes a ponto não só de serem iguais a nós Titãs, mas até de ultrapassar-nos em grandeza.
- E como posso fazer isso?
- Torne infértil a Titânide que herdou o poder da fertilidade de Gaia, minha irmã Réia. Impeça-a de ter mais filhos que atormentem o reinado de Cronos e serás lembrada para sempre como a salvadora dos titãs!
Ásia sentou-se novamente sobre a rocha, seus olhos tilintavam de vaidade. Ela seria aclamada por todos, teria o respeito até mesmo de Cronos, o distante senhor do Universo que todos tanto temiam! Seria mais que uma rainha!!
Todos esses sentimentos estavam estampados na face de Ásia, facilmente notados por Céos, entretanto, os pensamentos deste eram impenetráveis. Por trás de seu sorriso cândido Céos gargalhava de gosto.
Muito bem, agora essa imbecil irá buscar um modo de tornar infértil Réia. Duvido que consiga, pois ela sequer sonha com todo o poder que minha irmã detém. Entretanto, possivelmente incapacitará qualquer gravidez por um bom tempo, o que deixará Réia fora de ação até que eu descubra um modo completamente eficiente de neutralizá-la.
Assim, Céos partiu para sua residência no litoral deixando atrás de si o primeiro ponto de uma teia de ilusões e engôdos que se trançariam por si só ao redor da jovem filha de Oceano..