sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Movimentos Peristálticos

Movimentos peristálticos.

É assim que geralmente começam as primeiras sinapses, fagulhas de uma mente acostumada ao fisiologismo. Não importando a circunstância, a temperatura, o local, a iluminação ou o sentimento, a certeza é uma: vai dar merda.

Um som atravessado advindo da região abdominal pode indicar várias coisas, limitadas pelo sistema digestivo. Não é uma história de boy meets girl, é uma história de merda mesmo. Cocô. Ou um pum. Às vezes até um arroto. O final é o mesmo. Nada exclusivo ou especial. Na verdade, de forma abrangente, é uma das coisas que nos faz iguais.

Uma cagada pode ser aliviante. Pode ser cômica. Às vezes angustiante. Uma prisão do ser. Prioridade um. Uma boa cagada pode levar todos os seus problemas, literalmente, pelo ralo. Um descarrego mal feito pode resultar num péssimo dia. Não importa o segundo anterior, ou posterior. No momento que o ânus pisca, nada te torna mais animal que a grosseria do seu corpo expelindo aquilo que lhe é desnecessário.

Um conselho: dê uma bela cagada todos os dias. Bata no peito, respeite-se. Dê uma tchauzinho na hora de se despedir. Afinal, os seus rejeitos não são apenas residuais, mas uma constatação daquilo que lhe é inútil. Cague mesmo, real ou metaforicamente; cague pro que não te faz bem, cague pro que não lhe é necessário, cague pro que já foi consumido e absorvido pelo corpo. Prender-se ao que não te faz bem só não é pior que prisão de ventre.

Quando alguém vier lhe perguntar "Tem dor maior que dor de amor?", pergunte-lhe, com sinceridade "Já ficou 5 dias sem cagar?". Reveja suas prioridades. Mais vale um bostejo na privada que no seu feed do facebook. 

Vá cagar.

E se tiver sorte, um sonzinho no estômago de alguém especial pode virar a premissa de um dia maravilhoso.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

A menina que dorme (e ama)

Provavelmente esta não é a primeira vez que você se depara com esta frase: Ela dorme. Muito. Talvez você viva sob a acunha desta frase, conjugando-a em primeira pessoa.

Pode ser que você já tenha se identificado com esta frase um dia.

Contudo, de todos os seres que dormem, tão únicos quanto seus sonhos ou perambuladas em REM, monte à imaginação o ser/estar angelical de quem amas.

Ela vive. A rotina que desmonta, a rotina que disciplina, a rotina que ensina, que restringe e que liberta. Dia após dia, tramando por si os planos de conquista, de virada, de passagem. Bem tem uns 3 ou 4 dias, que no meio da madrugada, ela se esquivou de um ninja, plantou um limoeiro, viajou a Bangladesh e ainda leu um poema nas ruas de Florença.

Numa outra noite dessas se transformara no pernilongo que lhe incomodava, e na melhor genialidade de “feitiço contra o feiticeiro”, zumbiu por 40 minutos na cabeça do mosquito, e este, de tédio morrera.

Vez ou outra, remonta amizades, revisita amores, reconstrói diálogos, revive momentos. Vez ou outra o que era par ser sonho, é real. De vez em quando, o que era para ser real era sonho.

Ao raiar de umas 3 horas da tarde qualquer, beijara seu amado, abraçara a mãe, cantava com os amigos, encenava com o rei. Beijara uma amiga, brindava com o primo e ensinara o passinho do romano à avó.

Brincava que era uma deputada, soltava uma pipa, dançava com um sorriso que encantava dos mais tolos às mais convictas. Cantava com a tonalidade angelical de quem conviveu com os bardos em alguma realidade alternativa.

O que é vida, o que é sonho, apenas você pode dizer.

No caso da menina que dorme, o que posso lhe confidenciar é que com ela, às vezes, a vida parece um sonho. E que sonhar é viver.


Ela dorme, levanta, come, conversa, ri, faz rir, conta, estuda, trabalha, come mais um pouco, vota, discute, expõe, ensina, aprende e no meio disso tudo, ela ama como se não houvesse outra fonte de amor no mundo. Sem escusas, sem malícias, sem dúvidas... ela ama tanto que de tanto amar ela dorme. E de tanto dormir, ela ama.

Tanto é que por vezes há indefinição, se ela dorme porque ama, ou se ama porque dorme. De certo, ela ama dormir.

Do início ao fim, do título ao ponto final, madrinha da partícula de inspiração que colore estas linhas de ausência de cor, fica a alcunha que lhe coube - a menina que ama (e dorme).