terça-feira, 31 de agosto de 2010

o verso que ninguém lê...


“Curioso isso. Na verdade sempre me perguntei o contrário: porque vocês, homens sem maldições, se interessam tanto por poesia? Talvez eu chamaria de outra coisa isso que você nomeia de “inspiração” e “sensibilidade”. Muitas vezes vocês seguem o que dizemos como a uma escritura sagrada, se identificam com o que escrevemos, enquanto o fazemos esperando que faça sentido para alguém. Há vezes que nos vemos como deuses por isso, mas quando nosso “dom” nos põe para pensar, percebemos que somos tão mais fracos que os humanos normais que, até sentimos o que dizemos, mas nos reprimimos em nossas estrofes.

Sabe... quando gostamos de alguém criamos personagens e histórias que gostaríamos de ser e de vivenciar com elas, nossos sonhos talvez, e assim com o que deveríamos dizer, palavras que nunca saem naqueles momentos em que deveríamos aprender algo com nossos próprios sentimentos, e transformamos aquela seriedade em inexpressividade no momento em que poderíamos chorar, sorrir, assustar, sermos surpreendidos, menos nos abstermos da verdade.


Invejamos os motivos que vocês tem para dizer “eu te amo”, para abraçar uma pessoa e dizê-la o quanto a gostam, para simplesmente sorrirem e pensar que tudo vai melhorar, que para mostrarmos tudo isso ainda escrevemos em versos, e sempre com a dúvida se o leitor vai saber se quem escreveu foi uma pessoa ou um poeta, pois tememos tanto os olhos dessas pessoas que preferimos usar palavras que toquem seus corações, porém sempre são tão fracas, que não passam dos olhos que nos amedrontam.


Enfim, não tente compreender uma poesia, ela não é escrita para ninguém, mas se faz sentido para você, apenas a sinta, que ficaremos felizes, mas sobre isso nunca escreveremos.”


Uma vez perguntaram a um poeta de onde vinha sua inspiração e sensibilidade... um vez...




domingo, 22 de agosto de 2010

Eis a questão...




ser ou não ser?
ter ou não ter?
ir ou não ir?
ganhar ou participar?
com ou sem?
agora ou depois?
um ou outro?
eu ou você?
eu ou o mundo?
sozinho ou equipe?
verdade ou mentira?
luta ou corrida?
rolling stones ou beatles?
John ou Paul?
vivo ou morto?
doce ou salgado?
homem ou mulher?
ovo ou galinha?
escolha ou genético?
praia ou montanha?
mandioca ou aipim?
costume ou inovação?
pai ou mãe?
banco ou colchão?
judeu ou mulçumano?
Papa ou Galileu?
bater ou correr?
nacional ou importado?
capitalista ou comunista?
Grécia ou Roma?
Siegfried ou Sigurd?
mago ou guerreiro?
arroz ou feijão?
física ou química?
windows ou linux?
Vadinho ou Teodoro?
norte ou sul?
leste ou oeste?
bolo ou torta?
chuva ou sol?
frio ou calor?
água ou fogo?
preto ou branco?
stricto ou lato?
continuar ou parar?
vale a pena pensar?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Luto indizível



O indizível é aquilo
que dói além da dor,
que torna cabisbaixo
até mesmo o sonhador.

Olho em volta e percebo
vidas cinzas e a morte latente,
olho em volta e me impressiono,
com o devaneador, descontente.

Hoje falarei do inefável,
num ímpeto de ousadia direi o inexprimivel.
Mas sou incapaz de em uma frase abarcar,
tristeza, dor, luto e pesar.

Deveras é digno de se duvidar,
que este pobre homem o faça com facilidade ou maestria.
É possível mesmo questionar:
"Qual o intuito de escrever nessa noite fria?"

Bem, cá deixo minha humilde explicação,
quando se ama também se sofre,
e os amantes, em seu rito de expiação,
vertem lágrimas como moedas de um cofre.

Quando se luta o sentimento é também forte
por isso é necessário alto bradar,
no calor das batalhas de grande porte,
onde verte sangue o guerreiro que este brado honrar!

Ao poeta, só lhe resta verter rimas.
Por isso cá estou, a verter melodioso pranto avermelhado.
Verdade voraz das vidas virtuosas,
esse vórtice vertical veladamente pranteado.

Pranteio por aquela que amei,
e ao lado da qual lutei,
e que neste momento me faz
perceber o significado de paz.

Neste momento que a olho,
cercada dos velhos amigos,
que desorientados formam um molho
de almas perdidas em momentos antigos.

É... hoje é um dia de luto
no qual o sorriso se esvai em pranto
e a garganta sufoca tanto
que em minaha alma sinto um clamor bruto.

Me vem a mente uma criança deitada
pendendo os olhos mas dizendo-se sem sono
pedindo que outra história fosse narrada
e ela sorria e contava mais uma, como se o infante fosse seu dono.

Lembro-me de todas as onças, corças,
bruxas, aberrações, fadas, Joões e Marias
diferente de muitas das crianças
ainda sei de cor cada uma dessas narrativas

Prova disso é que há um mês,
em pé diante de sua cama,
era eu quem com certa altivez
contava histórias como quem ama.

Tive tempo de mostra-la que a lição aprendi,
no entanto numa noite que vai entrar pra memória
o sol há de se pôr mais triste,
partiu desse mundo a mestra do contador de histórias.


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Lágrima


E a lágrima esquivou-se sobre as marcas
que o choro contido deixava em seu rosto,
em um soluço escapa-lhe da face e cai
em direção aquele solo roto.

Ação por onde seu orgulho esvai,
essa ação de por amor chorar.
Aprendera que homens aguentam desgraças,
sem deixar lágrima alguma rolar.

Pro inferno com o que aprendera!
Como era possível de outra forma reagir
ao ouvir da boca que antes beijara,
"Vá embora, não te quero mais aqui!"?

Incrédulo o jovem se exaspera,
"Não podes finjir que tudo acabou!"
Impassível a mulher impera,
"Desapegue daquilo que passou."

Enquanto observado pelos olhos escuros,
o garoto sentia em sua garganta um nó.
Não compreendia como seu relacionamento
sucumbira assim do ouro ao pó.

"Não podes renegar ao esquecimento",
num ímpeto de ousadia ele bradou,
"aquilo que guiou nossos futuros!"
Mas ela com um olhar o censurou.

E depois ternamente lhe disse,
"Por que me acusas, como vilã impiedosa?
Acreditas mesmo que não ficarei mal?
Pensa então que nessa dor sou eu quem goza?

Para mim isso não é algo banal!
Me dói no peito igualmente esse fim,
mas ignoras, como se agora não me visse
não faça isso, não piore mais pra mim!"

A brisa fresca do entardecer de inverno
cortava as almas como a mais fina navalha,
enquanto a jovem de olhar piedoso e terno,
sentia ganha essa épica batalha.

Vencido, o jovem desabafa seu triste pezar,
"Qual o intuito de se sentir saudade,
do que nos é impossível conquistar?
Por que nos é proíbido a eternidade alcançar?"

Com um sorriso ela se aproximou
e lhe perguntou segurando sua mão,
"Se todas as coisas durassem para sempre,
você saberia o quão importantes são?"