quinta-feira, 22 de março de 2012

Rainha de Bastões

"Rainha, atenda meu pedido e transforme minha caneta num canal para o seu poder."

sábado, 17 de março de 2012

Canções e Silêncio - Epílogo - A última canção



“Perdoe-o minha doce criança, eu sei que ele te causou feridas que parecem que nunca vão cicatrizar e sua dor, agora, parece não ter fim.

O amor tem dessas coisas, é veneno que mata seu corpo e é também o único remédio pode salvar-te de um destino ainda mais cruel que a morte.

Você veio de tão longe só para ouvir meu conselho e ele é o seguinte: Perdoe-o, o que vocês possuem milhares de mortais passam a vida procurando e vão para o além-vida sem encontrar.

Não perca isso querendo uma vingança que só machucará você mesma.”

Orpheu levou a mão ao rosto da jovem donzela e com um doce gesto limpou a lágrima que havia acabado de nascer. Na mesma hora a jovem segurou a mão do Poeta e ainda com os olhos vermelhos fitou-o.

“Mas doí tanto! Gostaria de nunca tê-lo conhecido! Acho melhor seguir minha vida sem nunca mais vê-lo. É o melhor a se fazer. Vou começar uma nova fase em minha vida e tudo será diferente.”

O maior entre os poetas sorriu fraternalmente.

“Acha mesmo que é tão simples esquecer o que sente? Que apenas com a sua raiva você conseguirá apagar a força que da brilho as estrelas? Posso te garantir, minha jovem, que nada do que faça conseguirá apagar essa chama.

Por essa chama já estive em lugares sombrios e por fraqueza perdi a luz da minha vida e o som da minha lira.

Não seja tola como fui, transmute sua dor em esperança e viva tudo que você tem para viver.”

Com um sorriso ainda acanhado no rosto a jovem se pediu de Orpheu e saiu da casa nas colinas perto do rio Hebro.

O lugar que antes transbordava paz e alegria agora estava diferente, a paz permanecia, mas agora a melancolia tomou o lugar desde a partida de Eurídice.

A música que antes banhava aquele vale se silenciou, apenas os passos dos jovens que buscavam os conselhos de Orpheu eram escutados; nem mesmo os pássaros cantavam, com medo de atrapalhar o maior entre os poetas.

Mas em um tarde de outono uma gritaria enlouquecida rompeu o silêncio do vale, eram as Mênades que vinham tirar satisfação com o primeiro entre os poetas.

“Oooorpheuuuuu, Oooorpheuzinooooo, por que não canta uma daquelas suas músicas para nós?”

As Mênades eram em um total de 18, todas eram adoradoras de Dionísio e por uma benção/maldição podiam receber fragmentos de seu poder a cada instante, esse milagre fez cada uma elas desenvolver seu próprio tipo de loucura, que muitas vezes se transformava em uma fúria descontrolada, tornando-as temidas por onde quer que passassem.

Não se pode tocar Dionísio e esperar ter razão como prêmio.

A voz doentia das mulheres de Dionísio saia em uníssono e clamavam desdenhosamente pela presença de 
Orpheu. Ele, por sua vez, saiu de sua casa com uma paz inabalável e foi tranquilamente conversar com a personificação da loucura.

“Sinto muito que tão preciosas mulheres tenham perdido sua viagem. Desde que retornei de minha jornada não tenho motivo para cantar nenhuma canção e espero que respeitem minha vontade.”

“Não sejas bobo Orpheuzinho, podemos ser suas novas musas! Podemos dar-te prazeres inimagináveis! Nosso amado Senhor das Loucuras nos contou seus segredo, podemos realizar qualquer uma das suas fantasias e você rapidamente esquecerá Euratéia”

“Eurídice. O nome da dona da minha voz é Eurídice.”

“Tanto faz. Não acha que 18 podem substituir aquela migalha de mulher que o Mestre das Poesias chamava de Eurídice?”

Orpheu não estava gostando do rumo que a conversa esta levando e principalmente da forma como aquelas mulheres estavam falando de sua mulher.

“Novamente lamento que tenham perdido a viagem. Porque não tentam falar com Arquelemeu, dizem que ele é um fantástico cantor e poeta, provavelmente ele detenha agora o título de Maior entre os poetas.”

Podia se perceber um tom crescente de fúria no aterrador coro que conversava com Orpheu.

“Se quiséssemos conversar com um poeta qualquer, pode ter certeza que já o teríamos feito! Queremos uma das suas famosas canções! Queremos ouvir a tua voz enaltando a mais bela das coisas! Que são, obviamente, as Mênades! Hahaha!”

“Já chega! Saiam agora daqui. Vão procurar teu rumo e me deixem!”

Um brilho de loucura reluziu nos olhos das Mênades, fazendo parecer que tudo que queriam era ouvir aquela frase.

“Hahahaha! O Poetinha pensa que pode dizer não as Dionisíacas! Hahaha! O senhor deseja que o deixemos em paz!? Vamos deixar! Mas cada apaixonado choramingante que vier por esse caminho será morto por nossas mãos! Hahaha!”

O Senhor dos Versos sabia que a fama de seus conselhos tinha se espalhado e cada dia mais e mais jovens vinham em busca de sua sabedoria. Se nada fosse feito dezenas de jovens inocentes seriam mortos simplesmente por ter esperança que Orpheu pudesse ajuda-los.

No entanto, a loucura das Mênades não poderia passar impune, pois nada garantia que após saciado o seu desejo por uma música elas fossem realmente embora e deixassem os pobres amantes em paz.

Posto nesse beco sem saída o Cantor dos cantores tomou uma medida arriscada.

“Senhoras do Vinho, se é uma música sobre a coisa mais bela do mundo que desejam, é isso que vão ter.”

“Isso! Isso! Faça-nos gozar com sua música Poetinha!”

E com a lira que há tempos estava parada Orpheu começou a sua última canção.

A melodia era de uma doçura tão extrema que flores nasciam só para terem a honra de presenciarem aquela música.

Nenhum ser foi capaz de ousar atrapalhar aquela canção, por onde aquelas notas ressoaram o amor e a ternura surgiu.

Os próprios Deuses que ainda lembravam-se da canção sombria de outrora deixaram sorrisos brotarem em seus rostos quando ouviram aquele som.

Mas para a surpresa das Bacantes quando Orpheu começou a cantar, apenas um nome era ouvido.
Eurídice.

“Não!!! Nós somos a beleza dessa música! Para nós que você deveria estar cantando!”

O Poeta continuou seu canto como se nada estivesse acontecendo, e quanto mais continuava mais ternura era espalhada no ar.

Menos para as Mênades.

Seu ódio ia aumentando a cada nova nota e em um daquele breves instantes que elas recebiam o poder de Dionísio, elas atacaram violentamente Orpheu.

Mesmo com o corpo sendo mutilado pelo ódio das Mênades, Orpheu continuou sua canção e o mundo inteiro acompanhava as notas que o Poeta fazia.

Quando finalmente elas juntaram força para decapitar o Poeta e jogar sua cabeça no Hebro puderam ver que mesmo assim ele continuava a chamar por sua amada Eurídice.

A cabeça foi indo para o fundo do rio e o silêncio finalmente tomou o vale.

As Mênades gritavam gloriosas de sua vitória sobre o Maior entre os Poetas quando perceberam que haviam despertado uma fúria sem tamanho.

Os Deus e todas as criaturas viventes que tiveram o prazer de ouvir a música de Orpheu amaldiçoo-as.

As 18 Mulheres de Dionísio foram condenadas a nunca mais saírem da beira do rio Hebro, pois foram transformadas em carvalho grandes, feios e podres, e além disso, como tentativa de reparar a perda de Orpheu, os Deus concederam aos rouxinóis que nascessem naquela região o canto mais belo dentre todas as aves canoras do mundo.

Dizem ainda que após sua morte a lira de Orpheu subiu ao céu e se tornou a constelação de Lira.

Por mais trágico que possa parecer o fim da história do Rei dos Poetas, devemos ficar felizes com seu desfecho, pois Orpheu terminou sua vida dando-nos de presente a música mais bela que já existiu e após isso pode finalmente se encontrar com sua amada musa Eurídice.

Descanse em paz Grande Mestre e continue ajudando todos que buscam seus conselhos.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Pindaíba

Os anseios de um homem variam do possível ao impraticável, do conclusivo ao impenetrável, do tangível ao subliminar... pelo menos na minha cabeça. Quando não se sabe mais onde depositar sua própria fé, sua vontade de viver, de se prestar a alcançar um objetivo individual incompartilhável, é aí, meu caro, que estamos próximos da plenitude do vazio.
O vazio não é estar sozinho em um domingo, não é viajar sem alguém ao lado, não é estar solteiro e muito menos não ter o que pensar. O vazio é não acreditar. Não lhe preciso o ‘quê’ acreditar, mas simplesmente acreditar. O ato de ter esperança. De estar suficientemente certo de si, que uma missão será cumprida, ou que seu valor será reconhecido de alguma maneira.
Como se norteia depois de ser nocauteado por si mesmo? Como se ver, sabendo que nada mais o abala, e o que parece ser a única possibilidade de ser abalado não provoca efeito maior que um incômodo muscular?
Sinceramente, o já “avirgulado” ‘foda-se’ que se dá na vida já está a ponto de cessar minha vontade de acreditar. Acreditar pra quê, se no final a melhor solução será mandar um grandioso “FODA-SE” na cara da sociedade?
Um motivo, uma razão, um ponto. Algo que possa me dizer que o que já parecia impossível possa se tornar possível novamente. De que o impraticável se torne cada vez mais penetrável e tangível. Um motivo bom o suficiente pra ser defendido e que me faça bradar com louvor, “A despeito de tudo!”, só isso...
Não sei se esse emaranhado de palavras se caracteriza como texto, ou desabafo ou qualquer classificação lingüística plausível. Se não se caracterizar também, f... já sabe né, essa é expressão de menor encantamento no mundo, talvez seja o palavrão que mais define “válvula de escape”, e mesmo assim soa bonito em certos discursos ignóbeis. Ó vá, caça o rumo e não torre minha boa vontade, alma desconhecida!