segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Só sei que nada sei.


Mantenho um blog paralelo a este, o Vida Mínima, e nele conto minhas experiências na tentativa de levar um estilo de vida mais prático e econômico. Durante meus devaneios em busca de soluções e idéias, estive a pensar sobre a vida, e de uma certa forma, tentei resumí-la. Longe de mim querer realmente atingir este objetivo, pois é coisa muito complicada, que beira o impossível. No entanto, no caminho dessa reflexão, cheguei à conclusão de que as vidas de todas as pessoas - que vivem em sociedades capitalistas - têm algo em comum. Onde quer viva, independente do modo de vida que leve, quatro coisas irão sempre acompanhá-lo por toda sua vida: você (incluindo corpo e mente), pessoas que o rodeiam, dinheiro, e informação, todos com grau bem próximo de participação e importância. Pensando dessa forma, é importante que todos nós saibamos muito bem como lidar com essas quatro coisas. Precisamos nos conhecer, saber do que somos capazes e do que não somos, entender como funciona nosso corpo e mente. Precisamos saber nos relacionar, entender aqueles que nos rodeiam, saber participar da sociedade. Precisamos saber lidar com dinheiro, que não é a coisa mais importante da vida mas, atualmente, não se vive sem dinheiro. Precisamos saber lidar com as informações que nos são dadas, saber aproveitar o que é importante, e descartar o desnecessário.
Infelizmente não é o que se vê. Pessoas a todo o momento têm crises psicológicas, não se entendem, não sabem se expressar, não sabem conviver, cometem erros graves contra si e contra seus próximos, somente porque não se entendem e não entendem os outros. Paralelamente se vê o enorme desconhecimento que se tem em relação ao dinheiro, coisa que nos acompanha desde o nascimento até a morte, raramente o usamos com sabedoria, e mal sabemos o que é. A informação chega a nós de diversas formas, e não sabemos aproveitá-la, ou rejeitá-la, e a principal fonte de informação da população, que é a escola, deixa a desejar em determinados aspectos.
Vendo as coisas funcionarem desta forma pensei numa solução que viria a resolver parte do problema. Somos inicialmente obrigados a seguir um curso de educação básico. É na Escola que começamos a nos conhecer melhor, a criar amizades e nos relacionar com o mundo exterior, e com o dinheiro que levamos pra comprar guloseimas na cantina. Minha sugestão é adicionar algumas disciplinas no atual currículo escolar, deixando-o mais adequado para preparar as pessoas para saber lidar com essas quatro coisas que permeiam nossa vida a todo instante.
A primeira disciplina a ser incluída é a Filosofia. A Filosofia é a investigação crítica e racional dos princípios relacionados ao mundo e ao homem. A partir da inclusão dessa matéria teríamos indivíduos com sua capacidade crítica e analítica mais desenvolvida, melhorando sua capacidade de entendimento de si mesmos e do mundo ao seu redor. Teríamos indivíduos mais questionadores e menos apáticos.
Em segundo lugar, mas não menos importante, seria interessante a inclusão da disciplina Sociologia. Sociologia estuda o comportamento humano e os processos que nos interligam em grupos e associações. Sua inclusão é interessante quando visamos formar indivíduos mais conscientes de si e daqueles que o rodeiam, e de qual sua participação e a dos outros na complexa dinâmica de nossa sociedade.
Finalizando, todos deveriam ter aulas também de economia e matemática financeira. Não digo que sejam ministradas aulas diferentes, mas que houvesse uma mesma disciplina que mesclasse os dois ramos do conhecimento. Os processos econômicos influenciam diversos aspectos de nossas vidas, e na maioria das vezes nem sabemos como ou porque, já que não "mexemos" com economia. Entender um pouquinho melhor a dinâmica econômica facilita muito o planejamento econômico do cidadão. Planejamento econômico este que utiliza de determinadas ferramentas da matemática financeira, com a qual a maioria de nós não está familiarizado. Como calcular corretamente os juros de determinada compra a prazo, como comparar preços de pacotes de serviços e produtos oferecidos por bancos e lojas, rendimento de aplicações, como evitar ou diminuir problemas com dívidas, e por fim, entender o que é realmente dinheiro.
De certo aprenderíamos, e acabamos aprendendo, como tudo isso funciona sozinhos, observando. Da mesma forma aprenderíamos que os frutos se desenvolvem a partir de flores fecundadas, e que a multiplicação não passa de uma sequência de somas. Pode ser que eu jamais venha a ficar sabendo onde raios pode ser aplicada uma fórmula de média harmônica, ou nunca mais veja um maldito número complexo, até porque ele tem uma parte que é imaginária(!). Mas mesmo assim essas matérias nos são lecionadas, e coisas tão importantes como as sugeridas acima, que permeiam nossas vidas a cada instante e em todo o lugar, são mantidas distantes das salas de aula. Se não encontrar uma escola com currículo semelhante, farei questão de passar esses conhecimentos a meus futuros filhos de alguma outra forma.

11 comentários:

Ludmilla disse...

André, meu amor... deixa eu te contar uma coisa: a principal fonte de informação da população não é a escola. É a televisão. Eis o problema.

E se você não nos tivesse abandonado na oitava série, teria tido aulas de Filosofia and Sociologia. Haha!

André M. Oliveira disse...

Muito bom o texto.
Senhor Wolverine dando lições de vida e para a vida.

Agora em relação a principal fonte de informação da população. Na minha opinião é a escola. Pois, mesmo que a maior parte da informação agregada venha da televisão é no ambiente escolar que os jovens, e principalmente as crianças, discutem e sistematizam essas informações, tornando-as conhecimentos. Portanto, tendo uma formação escolar que vise o desenvolvimento de um indivíduo que participe da sociedade de forma inteligente o aluno é capaz de realizar críticas ou ponderações interessantes de programas como BBB ou sessão da tarde. Enquanto aqueles que recebem uma formação que tenha como objetivo apenas atender as diretrizes básicas da "transmissão" e não da criação do conhecimento, mesmo que assistam Discovery channel e CNN só serão capazes de se experessar de forma superficial. Repetindo informações, na melhor das hipóteses.

Ludmilla disse...

Desculpa, Pika... Acho que o seu discurso só funciona com classe média ou alta, com escola particular, com cidade urbanizada. A maioria das crianças tem escola ruim ou nem tem escola. Elas não discutem nem sistematizam nenhum tipo de informação. Elas não têm informação. Eles saem da escola sabendo escrever o nome e só. Acho que a TV toma conta meeesmo. Vira babá. Até mãe. Mas como essas crianças sabem escrever o próprio nome, elas não são mais analfabetas, então tudo bem. "Já estudou, pode ir assistir televisão".

André M. Oliveira disse...

Não precisa se desculpar. Eu só ficaria chateado caso você se permitisse convencer tão facilmente após eu contradizer suas opiniões, aí sim.
Afinal, estamos diante de uma chance interessante de debatermos sobre nossas opiniões sistematizando nossos conhecimentos, certo?
Sinceramente espero que eu não tenha passado a impressão de que ignoro a defasagem escolar da maior parte da população. Até porque, convivi e ainda convivo com ela, pois estudei desde a 2ª série do fundamental em escolas públicas, senti na pele a alienação que estas produzem nos alunos, e ainda realizo trabalhos com os alunos de algumas destas instituições.
Mas deixando esses detalhes de lado. Vou me focar no nosso tema.
Quando escrevi sobre a principal fonte de informações da população ser a escola, eu quis dizer que, na escola o aluno amplia as informações que recebe no cotidiano. Alunos de escolas bem preparadas conseguem fazer isso. Alunos que não recebem uma boa formação não conseguem. Sei que a maioria não consegue. Mas considero que as opiniões dadas por André (Wolv, pros desavisados) em seu texto xpressam bons caminhos para melhorarmos este quadro. Apenas isso.

Ah sim, considero a TV como uma forma de manipulaão de massa, que , como você mesma disse "toma conta meeesmo", entretanto, acho que você exagerou um pouquinho na questão dos alunos da rede pública não terem informação, é uma idéia um tanto quanto forte demais, não acha?

Ludmilla disse...

Não, não! Não foi isso o que eu quis dizer! Acho que me expressei mal.

O que eu falei sobre as escolas particulares foi só um jeito infeliz de generalizar as coisas.

Vamos por partes. Eu disse que "a maioria das crianças tem escola ruim ou nem tem escola".

As crianças sem escola sobre as quais eu falava são aquelas que trabalham desde os cinco anos, talvez menos, pra ajudar a levar comida pra casa. Não pisam na escola. Talvez nem tenham uma por perto.

As crianças que têm uma escola ruim sobre as quais eu falava são aquelas que estudam em lugares improvisados, como um celeiro sem uso de uma fazenda. O único recurso de que dispõe é um quadro-negro. Tem uma única professora, que ensina todas as matérias. Tipo aquelas moças do sertão que estudam um pouco mais e resolvem ensinar as crianças da cercania a ler e escrever. Você já deve ter visto algumas delas em entrevistas no Jornal Nacional, por exemplo, e reparado em como falam errado. Bem, elas fazem o que podem.

Essas crianças nem continuam na escola. Elas geralmente precisam acordar muito cedo, andar vários quilômetros debaixo de chuva e sol, e na escola mal tem almoço pra elas.

Agora, se você pegar um aluno de uma escola pública em Resende, por exemplo, é muito diferente. Eu faço algumas provas da faculdade no João Maia e leio os trabalhos dos alunos pelos corredores. Eles têm bons livros didáticos e aprendem de tudo. E eu concordo com o André e com você que seria muito mais útil ensinar filosofia e economia do que física teórica pra esses alunos. O que eu quis dizer desde o primeiro comentário é que a maioria deles não sabe elaborar um gráfico de função logarítmica, mas sabe tudo o que tá acontecendo no Big Brother.

André M. Oliveira disse...

Ah sim! =P
Ótimo. Agora agente se entendeu, e de quebra, brindou os leitores com uma sequência de comentários no mínimo interessante. Até a próxima oportunidade!

Ludmilla disse...

Você mostrou a língua pra mim. Eu devia começar outra discussão agora mesmo!

André M. Oliveira disse...

Ah, foi em um sentido jocoso e infante. Como uma criança que acata divertidamente a argumentação de outra. Não leve a mal! =D

Stéfs disse...

Caramba Wolv,olha oq seu post gerou! hehe

Poxa mas gostei muito do texto!
Que bom que vc conseguiu transmitir as idéias!!

Eu concordo plenamente com tudo oq vc disse! acho que seria muito útil se isso viesse a acontecer!

Bom,é isso!!
Beijinhos!

Ludmilla disse...

Tá bom. Você começou com a jocosidade, depois não reclama :D

Stéfs, por que você não tem foto? :(

Stéfs disse...

Ah...

Ainda não sei pq...

hehe vamos manter o mistério mais um pouco! hehe

Não saio mt bem em fotos!

É isso! beijinhos!