sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Amizade

- É a vida cara, é a vida.... aqui, estou com um problema no PC lá em casa. Posso usar o seu?

- Claro, minha irmã está usando, é só falar com ela.

- Valeu!

Este que caminha apressadamente na direção do quarto é meu velho amigo. Vem aqui em casa desde os primeiros anos da escola.

Ele conversou comigo por cerca de meia hora. Falou sem parar, entretanto não disse absolutamente nada. Suas palavras eram apenas um modo de espreitar o momento certo. A oportunidade exata para se esgueirar de minha presença. Agora ele já deve estar no quarto, posso ver a porta entreaberta, ele nunca a fecha, chamaria a atenção. Já no quarto meu amigo e minha irmã, dois anos mais velha que ele, começariam a trocar olhares enquanto conversam sobre algum tema real. Uma encenação recheada de alusões, desejos e breves toques. Escondem-se como se eu não soubesse. Escondem-se como se fosse errado. Não. Escondem-se para que seja errado. Onde estaria o prazer do ato mais promíscuo se este fosse plenamente aceito, se não ouvíssemos nosso demônio particular berrar ao pé do ouvido: Pecado Mortal!

Por isso ele só vem quando eu estou em casa, para precisar se esgueirar pelos cantos, olhando-a de longe, tocando-a de leve, deixando escapar sussurros por entre as conversas exageradamente altas. Não sei com que freqüência se beijam, ou se fazem algo mais. Só sei que não concretizam seus atos. Não há um fim, um ápice. Pois, sempre se afastam com a mesma ânsia com que se aproximaram. Ânsia por mais prazer, mesmo já arrastando seus prazeres em um gozo prolongado, metódico, às vezes diário, a cada toque, a cada olhar lançado em frente a outros, a cada situação de perigo.

Estranho animal o ser humano, que flerta abertamente com o perigo. Sente prazer no medo. Isso porque o medo é capaz de tornar grandes coisas ínfimas. Desde a sombra próxima a janela que assusta a criança, até o toque indecoroso nos seios, efetuado enquanto o pai da garota se distrai, que faz acelerar o coração do adolescente, ou dos adolescentes. Sem o medo, sem a insegurança, tais situações seriam rotina, ou seja, seriam menos que nada.

Por isso não faço nada, além de comer esse naco de carne enquanto ouço um arfar descompassado. Não faço nada porque gostaria de ter esse tipo de prazer. Como não tenho, permito que eles tenham, compactuo pra isso. Mesmo que para isso eu considere minha irmã uma puta, e meu amigo um estúpido violador.

6 comentários:

Wolv disse...

Desculpa... preciso ir no banheiro... jah volto.

Wolv disse...

15 min. depois...
Pronto.
Pika, acho que tu quase chegou lah. Eu acho que dah pra ser um pouco mais insano que isso, mas jah valeo muito.
Fora prazerosos minutos de leitura.
;)
Parabéns!!

Ludmilla disse...

"Escondem-se para que seja errado."
Que invejinha da intensidade dos adolescentes...

Unknown disse...

pow Pika... já fui na tua casa e você nem me apresentoua tua irmã...

Gabriel Teixeira disse...

E quando um carinha aí faz uma "crônica de glingown" um pouquinho mais apimentada, é apunhalado como se fôsse a forma viva da perversão e seu texto, digno de conto erótico.


Tsc, tsc... é pika, você aprendeu com o mestre :]

Stéfs disse...

Como sempre perfeito né Pikachu?!

Mais uma vez parabéns!

E acho que estou bem longe de ser uma concorrente sua!=p

Beijos!