Caçadores de cabeças

Recentemente tive a oportunidade de conhecer uma pessoa famosa. Não como quem conhece um famoso no shopping e diz que conheceu somente por ter tirado uma foto. Também não como quem conhece uma pessoa qualquer e se tornam amigos. Conheci de forma que posso encontrá-la na rua e chamar para tomar uma xícara de café sem parecer ridículo.

Mas o interessante nisso tudo não é o fato de tê-la conhecido, mas sim a oportunidade que tive de observar como as pessoas se comportam perto de gente famosa. Tudo aconteceu durante uma festa de formatura. Assim que cheguei na festa e me aproximei de nossa mesa (fomos convidados pelo mesmo formando) havia um pequeno aglomerado de tietes, de todas as idades e tamanhos, que queriam porque queriam tirar uma foto ao lado do famoso. Me pergunto... por que?

Nunca vi ninguém chegar perto de uma pessoa famosa que por algum acaso cause lhe interessasse e agir de forma normal, como quem se aproxima de um qualquer e inicia uma conversa, para conhecer melhor a pessoa. Não! Todos parecem malditos caçadores de cabeças, que depois expõem seus troféus em murais nas paredes de seus quartos, ou álbuns de orkut, como se fosse um tipo de coleção, e competem entre si para ver quem "conhece" mais pessoas famosas. Que proveito se tira disso? O famoso fez do caçador de cabeças uma pessoa melhor? O caçador fez da pessoa famosa alguém melhor? Nada disso. No caso da festa, os caçadores iam lá, incomodavam a pessoa, que estava sentada ou dançando, conseguiam o tão desejado troféu e saíam correndo a mostrar sua arma capturadora de cabeças digital para os outros convidados em sua mesa. Parecia mesmo uma horda. Se aproximavam, conseguiam seu pedacinho e depois se afastavam com armas em punho, confirmando o sucesso da caçada.

Eu tive a felicidade de poder compartilhar alguns dedos de prosa com essa pessoa (somente com a parte pessoa, sem a parte famosa a incomodar), e que prazer eu tive em poder fazê-lo. Não tirei foto alguma com ela, não pedi autógrafo, não levei troféus para casa, não exibi seu busto para meus colegas, mas mais do que tudo isso, eu tenho a lembrança das conversas e das risadas, das anedotas, da farra ao lado dela. Não da pessoa famosa, mas da pessoa que conheci, dotada de uma simpatia sem tamanho, que eu certamente não esperava. Minhas lembranças são muito mais valiosas que qualquer desses troféus, pois minhas lebranças são permeadas de alegria, ao contrário dos troféus, que foram garantidos mediante sacrifício alheio.

De facto, a formatura pode não ser o melhor lugar para se conhecer alguém a fundo, por motivos óbvios, e assim, não há uma abordagem menos invasiva que eu possa sugerir num caso como este. Mas estou certo de que da próxima vez que encontrar uma pessoa interessante (não necessariamente famosa) pela frente irei me aproximar e fazer um convite. Eu adoraria tomar um café com o Arnaldo Jabor, ou melhor ainda, um milk shake com o Tony Ramos. Quero ter mais boas lembranças e histórias para contar, como essas da formatura.

Querem troféus? Sejam educados, não incomodem os outros e procurem um museu de cera como as duas belas mocinhas da foto!

FIM