segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Aos meus amigos, aos cadarços...

Lembro-me de quando eu tinha uns cinco, talvez seis anos... não não, eram exatamente seis anos, e estava me arrumando para o primeiro dia de aula, e minha mãe me chamou e disse que estava crescendo e já devia amarrar sozinho os meus tênis. Fiquei assustado e orgulhoso: assustado por ser responsável por mais uma coisa e não saber se daria conta, e orgulhoso que era mais um passo para a minha independência, que nem sabia o que significava, mas depois de grande consegui definir o que senti. Então ela começou a me ensinar contando uma história sobre coelho - que voltaria anos depois para me ensinar a dar nó em gravatas - e suas orelhas. Achei um pouco complicado de início, mas depois peguei o jeito.
Fui à escola feliz dessa vez, talvez quem me encarasse veria um sorriso, nem que fosse em meus olhos. No intervalo - chamado de recreio, na época - sentei-me junto a um colega e contei a ele o que tinha aprendido, então ele olhou para o meu pé, esticou a mão, e, sem exitar, puxou a ponta do meu laço e o desfez. Ele começou a rir e eu calmamente fui refazer o que meu colega desfez, afinal, eu tinha aprendido. Porém comecei a errar, a ficar nervoso, e aquela risada e depois aquela musiquinha "não sabe, não sabe..." e eu desisti, abaixei a cabeça e voltei para a sala, fui o primeiro, para que quando todos chegassem eu já estivesse sentado e ninguém visse meu cadarço desamarrado. E o contrário no fim da aula, quando fui o último a sair.
Cheguei em casa triste, nem me lembrava mais o quanto fui feliz no mesmo dia, e fiquei esperando minha mãe voltar do trabalho, e quando o fez, fui direto até ela, meio indignado (outra palavra que nem sabia que existia) para que me explicasse o que aconteceu, poxa, queria saber porque foi tão difícil aprender a fazer o laço e era tão fácil desfaze-lo. Então ela sorriu, como se pensasse "eu sabia que isso aconteceria", talvez por ela ter passado por isso ou meu irmão mais velho, e me disse que para caminharmos na vida, independente do caminho escolhido , temos que estar prontos, ou seja, termos calçados apropriados, mas, tão importante quanto, era amarrá-los bem, ela queria dizer criar laços, saber confiar sem precisar olhar para baixo. E que realmente isso era mais difícil e que muitos seriam os que tentariam desamarrá-los nesse caminho. Então eu perguntei se toda vez que alguém desamarrasse eu deveria abaixar-me e refaze-lo. E ela respondeu que muitas vezes sim, a solução era levantar e continuar andando, mas eu poderia me precaver (não com essa palavra, claro) e fazer um laço mais forte, para eu caminhar sabendo estar seguro, que meus cadarços nunca me abandonariam. E então me ensinou aquele laço duplo.




Esse é meu texto em homenagem ao primeiro ano do Mente Insana, e para dizer que é um prazer dividir esse espaço com vocês, meus amigos.

6 comentários:

Anônimo disse...

Seu idiota!

Muito FODA! Parabéns...mais uma vez!

Tarso "Carioca" Santana disse...

Poucas palavras podem expressar melhor o meu sentimento que:
"Porra! Que texto foda!".

Muito bom mesmo.

É uma prazer fazer parte dessa equipe.

Stéfs disse...

Simplesmente sensacional!

Nem vale a pena querer encontrar as palavras para exprimir estes famosos laços que nos unem, mesmo que à distância!

Parabéns!
Também agradeço por fazer parte do time!

André M. Oliveira disse...

"fazer um laço mais forte, para eu caminhar sabendo estar seguro"

Realmente há pouco a se dizer após um texto de tal genialidade. Parabéns Igor, conseguiu expressar em palavras diversas interpretações para o significado de amizade.
É um prazer enorme fazer parte de mais esse laço que é o blog Mente Insana.

Wolv disse...

Fantástico!
Sem mais,

Henique disse...

gostei muito desse conto...até mesmo porque todo mundo deve passar por isso..eu aprendi cedo, mas eu nao era rapido em amarrar cadarços...sei bem como é a situação.