terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Titanomaquia: Parte 1 – A Senhora do Universo


Capítulo 5
Ao chegar de volta ao monte Ótris, ainda seguida por um séquito de ninfas, Réia se deparou com Ida, a melíade arqueira, a qual a interpelou:
- Cronos deseja saber por onde andastes, senhora.
- Diga a seu senhor que eu me encontrava em um culto prestado por humanos e ninfas, e que ele deveria aceitar ser cultuado também, é uma experiência maravilhosa! Respondeu Réia, se esforçando para ser o mais fútil e infantil possível.
- A propósito, diga a meu celestial esposo que ficarei esta tarde realizando os preparativos para o nascimento de nosso sexto filho, pois sinto que já está nas vésperas.
Dizendo isso, Réia passou pela guerreira e se dirigiu aos seus aposentos segurando por debaixo de suas vestes uma pedra envolta em panos que lhe avolumava o ventre.
Ao entrar em seu quarto Réia trancou a porta mais calma, sabia que Cronos só viria quando lhe avisassem do nascimento de seu filho, e como das outras vezes viria, pegaria e comeria a criança. Mas dessa vez, não havia criança para ser devorada.
Ciente disso Réia depositou o pedregulho, mais ou menos do tamanho de um bebê, no centro do salão onde se encontravam, pegou a placenta ensanguentada e cobriu delicadamente a pedra. Segurou firme o cordão umbilical enquanto uma das ninfas pressionava o mesmo sobre a pedra, enquanto isso as demais fizeram um círculo envolta desta cena.
Olhando fixamente a formação rochosa sobre a qual depositava suas esperanças Réia iniciou seu sortilégio, acompanhada de suas ninfas, dizendo cada uma a seu tempo:
- Que a cobiça desmedida e a sede de poder turvem as vistas dos poderosos para que diante deles a pedra se transmute em carne;
-... a areia fina seja sangue quente e pulsante;
-... o teor áspero seja a um toque macio como a pele do mais fino pêssego;
-... a luz opaca refletida pela rocha, seja como olhos que igualem a simplicidade e beleza do orvalho...
No mesmo instante, um pouco distante dali, a ninfa Ásia se encontrava exaurida ao lado de um caldeirão fumegante. Passara os últimos dias produzindo um encantamento forte o suficiente para tornar infértil Réia, entretanto ela não sabia que tal feito exigiria um sacrifício tão grande de seu corpo. Agora ali, olhando para Céos que friamente recolhia o conteúdo do caldeirão, a pobre ninfa não tinha forças sequer pára se arrepender.
-Muito obrigado minha cara. Dê lembranças a Jápeto, quando ele voltar de sua caçada.
Após ouvir tais palavras Ásia desmaiou e Céos seguiu para o Monte Ótris.
No fim da tarde o feitiço ficou pronto e Réia passou a encenar um doloroso trabalho de parto. Gritou, gemeu, urrou e após uma hora mandou chamar seu esposo.
Todas no salão tremeram ao ouvir os passos de Cronos se aproximando, ninguém sabia ao certo se o encantamento seria forte o suficiente para enganar o Titã dos Titãs.
Cronos abriu a porta, olhou para Réia que segurava o embrulho de panos aos prantos, pranto sincero, mas não de dor como das outras vezes, agora ela chorava por uma mistura de ansiedade, medo e satisfação vingativa.
O Titã estendeu a mão e Réia lhe entregou o embrulho. Cronos olhou-o e como de costume escancarou sua boca engolindo-o. Virou as costas e saiu berrando:
- Isso é pra todos saberem, aqui mando eu e ninguém mais!!!
Finalmente Réia pôde descansar, deitou-se em seu leito e ressonou sabendo que seu filho estava a salvo junto com Amaltéia sobre a proteção dos Curetes.
Pareceu a Réia que ela só havia cochilado por alguns instantes quando foi acordada por uma de suas ninfas, mas ao olhar pela janela viu que já era noite.
- Minha senhora, seu esposo está na porta dos aposentos, a chama para acompanhá-lo ao salão principal.
Réia se levantou, mudou suas vestes e seguiu ao encontro de Cronos que a recebeu sorrindo.
- Minha amada esposa, estás mais linda do que nunca!Resplandeces vigor e beleza, és uma rainha e tenho lhe tratado tão mal! Venha, chamei alguns de nossos irmãos para um banquete hoje.
Ao entrar no salão Réia se deparou com a mesa posta e Céos, Febe, Hipérion e Téia sentados.
Isso nunca havia acontecido antes, Cronos sempre ficava amargo por um tempo depois de devorar um filho, e sequer me lembro dele ter me tratado assim alguma vez. Óh! E ele mandou que enfeitassem o salão para o banquete, cortinas douradas, tapetes aveludados, talheres de diamante, como está lindo! Será que poderemos agir finalmente como amigos, como a família que todos somos?Até mesmo Céos ele chamou para o banquete, que dia maravilhoso! Finalmente tudo vai entrar nos eixos.
Ao se aproximar da mesa cumprimentando a todos Réia foi abordada por Céos:
- Minha amada irmã, esta reunião foi organizada as pressas, por isso nem todos puderam comparecer, nosso irmão Jápeto pede desculpas e sua esposa Ásia lhe envia um presente que vejo lhe será muito útil, pois parece-me que estás muito abatida, tome -disse Céos entregando a Réia uma taça repleta de um líquido espesso – aqui está um soro capaz de restaurar todas as suas forças. Com os cumprimentos da Oceaniade Ásia.
E Réia inocentemente pegou a taça, sob os olhares atentos e sorrisos cinicamente satisfeitos de todos os presentes.

3 comentários:

Wolv disse...

Isso não é um conto, mas sim um roteiro. Ta muito gostoso de ler, Pika.

Stéfs disse...

Olha, realmente...
Ao longo dos textos o prazer pela leitura só aumenta! =D

Marcionilia disse...

Estou ansiosa pelos proximos capitulos!

beijOs