quinta-feira, 29 de abril de 2010

Chuva




Ouço o estalar cadenciado das gotas de chuva. Cada gota é como um sino que prenuncia uma reflexão mórbida. Cada gota explode no chão ou no teto e escorre. Minha mente escorre.

Não vejo soluções e sim problemas. Vejo meus sonhos bailando diante de mim. Vejo-os sendo rechaçados pela realidade.

A realidade não é pessimista, pior do que isto, ela é verdadeira. Olhar o real é olhar a verdade, e a verdade dói.

A dor em si pode ser boa, deleitável, prazerosa, asquerosa, lancinante, assustadora... Mas a dor da verdade é uma dor inexpressiva. É a dor daqueles que percebem o paradoxo no qual vivemos, a simplicidade conceitual da comunidade que nos cerca, e a complexidade com que convivemos.

A chuva aumenta. Venta. E o vento uiva por entre as paredes como a voz dos oprimidos que clamam por alimento, paz, alegria... Clamam por vida.

Uma vida simples numa sociedade triste. Ou uma vida triste numa sociedade complexa. São as opções básicas. Mas as opções não são escolhidas, são vividas. Com o ímpeto do vento que corta a tempestade.

Troveja. E o trovão ecoa como o brado de guerra de uma nação, cansada de aproveitadores e sanguessugas.

Relampeia. E o clarão do relâmpago reflete o brilho nos olhos do indivíduo que observa a chuva satisfeito com sua própria vida.

2 comentários:

Taíla disse...

Será que eu vou parar de me surpreender com todas as suas facetas, hein?! Adorei!

Stéfs disse...

Querido André...

Mais uma vez se superou no texto!

Gosto muito de analogias com a chuva,e além de retratá-la muito bem,você ainda utilizou um conceito de verdade que é exatamente aquilo que muitas pessoas sentem mas não conseguem expressar. A dor que ela provoca é exatamente essa, a de percepção de um paradoxo no qual todos estamos inseridos, mas acredito que seja ao mesmo tempo reconfortante, pois despertar-se do lodo alienante de nossas mentes nos liberta para o brilho da realidade.

Parabéns tanto por esse texto quanto pelo outro =D!

Beijos!