quinta-feira, 15 de julho de 2010

Invejando anjos


Ao olhar pela janela de seu quarto Agnes divisava o horizonte coberto pela neve.
Já fazia mais de um mês que estava naquele quarto de hospital recuperando-se de uma lesão no tendão de sua perna direita.

Os dias se passavam de maneira lenta e sutil, o que atormentava ainda mais o espírito audaz da jovem. Tantos sonhos e desejos, tantas conquistas já possuía mesmo sendo tão nova! Mas a idade não era empecilho para aquela que deslizava por entre os olhos de espectadores atentos aos seus movimentos mais singelos.

Desde a infância fora privilegiada pelo som das notas musicais que saíam do piano onde sua mãe tocava com maestria.
Ah! Quanta felicidade rodeava aquela pequena criatura que ensejava os primeiros passos de bailarina. Cada nota ecoada era recebida por um gracejo ou um pequeno passo realizado de maneira quase perfeita pela pequena.

Agnes era dotada de uma notável beleza desde tenra idade; sua pele branca praticamente reluzia aos raios do sol primaveril juntamente com seus longos cabelos loiros encaracolados. Seus olhos azuis tinham um brilho indescritível, semelhante ao de safiras.

Lágrimas corriam pela face meiga e doce da sonhadora bailarina que sentia uma ponta de inveja ao poder ver as outras meninas patinando no lado congelado da cidade.
Já fizera isso tantas vezes, mas só agora dava a devida importância, já que sentia o peso de nunca mais poder dançar em sua vida.

Fechou os olhos e lembrou-se dos aplausos da última apresentação. Quantas rosas brancas e vermelhas foram arremessadas ao palco; luzes ofuscantes mal permitiam que ela divisasse a platéia que estava de pé a lhe homenagear.

Ao som de Clair de Lune de Debussy, a bela moça/mulher parecia que flutuava pelo palco. Ali fora seu grande momento; música e dançarina se completavam como chuva em solo árido e infértil.
Cada rodopio, cada salto, cada gracejo no ar eram realizados na mais perfeita sintonia; seu corpo era tão belo que todos os anjos naquele momento pecaram ao sentir inveja daquela abençoada que podia ser tocada por qualquer outro humano.

O fim da música ainda ecoava em sua mente; sabia que poderia voltar a andar, mas agora as alegrias vividas seriam apenas recordações, enquanto que a dor se faria presente pelo resto de sua vida.

4 comentários:

Tarso "Carioca" Santana disse...

O texto não me surpreendeu, pois está ótimo como já se esperava. rs.
Interessante o uso do nome Agnes, pura em grego. Gostei mt do texto como um todo.

Ludmilla disse...

que lindo!

André M. Oliveira disse...

Muito bom Stéf.

Ficou muito bonito mesmo, parabéns!

Wolv disse...

Cacete Steh! Tu veio com sangue no'zóio hein!
Mandou benzão!
OH... quem foi o fio d'um corno que inventou esse lance de por código pra postar comentários hein??