terça-feira, 20 de julho de 2010

Ah quando eu morrer...



Quando eu morrer quero entrar para a história. Colocarão uma frase dita por mim no epitáfio e me imortalizarão. Todos estudarão sobre minha vida e serei citado por décadas, quiçá séculos... Meu velório durará três dias. Terão passeatas da igreja até o cemitério. Pessoas que nunca vi na vida se perguntarão o que será de suas vidas agora.

Ah não, melhor: quando eu morrer quero que seja igual novela. As pessoas que me conhecem e seus conhecidos se lembrarão de mim até o fim de suas histórias. Terei um significado ainda na cabeça de cada um que esteve comigo ou me viu passar... No meu velório vai chover. Todos usarão preto. Haverá pessoas ali contra a vontade, tudo bem. Haverá também pessoas querendo pular na cova junto comigo, tudo bem também.

Ou seria mais legal: quando eu morrer quero que seja como num filme. A solução de uma história ou o início de vidas que nunca saberemos como serão. Em meu enterro, numa manhã ensolarada, num cemitério que mais parece um jardim, haverá poucas pessoas, somente as que realmente me amaram ou que tenham algum interesse na minha morte. Meu filho mais velho tentará explicar ao mais novo o que aconteceu enquanto consola minha viúva e disfarça suas lágrimas.

Sem dúvidas essa: quando eu morrer quero que seja como todos que já vi na vida real. Ninguém ficará de luto depois, ninguém se vestirá de preto. No meu túmulo apenas “um filho amado” e datas de nascimento e morte. No velório piadas serão permitidas pelos mais jovens, desde que somente eles ouçam, pessoas que não víamos há meses dando condolências, sem nem saberem ao menos o significado da palavra, algumas flores perto do meu corpo, despedidas emocionantes antes de fecharem o caixão. No cemitério os mais devotos de alguma religião cantarão canções adequadas, não espero que chova, nem muito sol, não quero causar esforço a quem está se dedicando ao último favor prestado a mim, e, realmente, espero uma salva de palmas no final de tudo, espero ter feito diferença na vida de alguém de forma positiva.


2 comentários:

André M. Oliveira disse...

Muito bom esse texto! Infelizmente, não sou capaz de expressar em merasm palavras minha satisfação em lê-lo

Steh disse...

É sempre uma delícia entrar aqui e ver que tem um novo texto seu!
Parabéns!

Saudades