terça-feira, 31 de julho de 2012

O item mais valioso de Gotham



- Invasão de propriedade, furto qualificado, roubo, formação de quadrilha, receptação, falsidade ideológica, lesão corporal grave, homici...
- Sinto muito Comissário, mas não tem nenhum homicídio nessa lista.
- Não é o que a Interpol diz senhorita Kyle.

A voz de Gordon ressoa alta e firme pela pequena sala esverdeada, enquanto observa profundamente os olhos castanhos da moça que permanece com ares de princesa.

- Você não deveria acreditar em tudo que lê nesses relatórios...
- Esses relatórios poderiam ser lidos durante a noite toda e nós não esgotaríamos a sua lista de crimes Selina. Ambos sabemos quais crimes você cometeu ou não. Por que você não facilita o seu lado e me diz logo onde você escondeu o Brilho de Gotham?
- O brilho de Gotham? Não me lembro de ter feito nada sobre isso. A cidade já estava era cinzenta quando cheguei.

Ela falava isso enquanto mirava com olhar travesso o espelho que ocupava meia parede logo em frente a mesa e a cadeira a qual estava algemada.

- Você não está em posição de fazer piadinhas. Estou falando de um diamante de 111 quilates que foi roubado da moradia oficial do Prefeito durante a noite passada.
- Aquela pedrinha brilhante? Deixe-me pensar... Ela deve estar junto com as outras pedrinhas brilhantes, no meu apartamento no Eastside.
- Já reviramos aquele lugar de cabeça para baixo e não encontramos nada lá! Não brinque conosco Selina! O Prefeito está furioso e o Harvey vai encontrar um jeito de te deixar fora das ruas para sempre.

Ao terminar a frase, o Comissário, jogou uma pasta contendo várias fotos de pedras precisas sobre a mesa à frente da detenta.

- Todos esses roubos foram feitos em um espaço de tempo que só você conseguiria fazer. O quê você planeja Selina? Você já roubou as coisas mais valiosas de Gotham, onde você pretende chegar?
- Cuidado Comissário, você não tem mais idade para poder ficar se exaltando desse jeito. A cidade ainda tem muitas coisas valiosas em seus cofres... E pode ter certeza que nunca mais vai ouvir meu nome quando eu conseguir o item mais valioso de Gotham.

O velho policial estava visivelmente cansado, fazia três noites que não dormia por causa das ocorrências na delegacia. Apesar de não concordar com essa política, Gordon sabe que Departamento de Polícia sempre da uma atenção especial quando algum crime acontece na casa dos ricos da cidade, acontece que nas últimas noites essa atenção foi elevada ao seu nível máximo, pois oito de cada dez ricaços de Gotham haviam tido as suas casas roubadas. Até mesmo o Prefeito teve um dos símbolos da cidade roubado de dentro de sua própria casa, o Brilho de Gotham.

Após limpar com as costas da mão o suor da testa, ele voltou a interrogar Selina Kyle.

- Eu sei que você não irá parar por aqui. Desista do seu plano e assuma a autoria desses roubos Selina, assim, talvez, você possa ver o sol nascer de fora de Blackgate algum dia.
- Pobre Gordon, acha mesmo que vai me manter aqui por muito tempo?
- Conseguirei te manter aqui por tempo suficiente para impedir que você consiga fazer qualquer outro roubo.

Ela olhou com olhar de descrença para o Comissário. 

- Eu gosto de você policial, por isso vou te dar uma dica do próximo item que irá para minha coleção. Você sabe que sou um mulher de gostos raros.
- E qual é o seu próximo grande passo? - Agora era Gordon que estava com o sorriso no rosto.
- Chegue mais perto e conto no seu ouvido.

Antes de se aproximar o tira conferiu se ela estava mesmo presa e após checar duas vezes aproximou-se da senhorita Kyle com o máximo cuidado.

Sua expressão mudou repentinamente após ouvir as poucas palavras ditas pela jovem, era como se não acreditasse no que tinha acabado de ouvir.

Uma campainha toca e ele sai ainda meio atordoado da sala.

Na sala ao lado, por trás do espelho, está o promotor Havey Dent e o Prefeito, que está nervosamente caminhando de um lado para o outro.

- O que o meus eleitores vão pensar... vamos Gordon, me diga que ela deu alguma pista de onde vai atacar ou onde estão os itens roubados!
- Ela fez apenas mais uma piadinha senhor Prefeito.
- Não é possível! Olhe para ela, quem diria que ela é a maior ladra de Gotham? Como pode essa bailarina magricela me dar tanta dor de cabeça.

Todos os presentes se voltaram para observá-la através do espelho enquanto ela, do outro lado, parecia conseguir entender e se divertir com toda a situação.

- Vamos para o meu escritório - sugeriu Dent - já redobramos a segurança na delegacia e ela não irá a lugar algum daqui.

Mesmo consternado, o Prefeito consentiu e os três foram caminhando a passos receosos pelo corredor que levava até o escritório do promotor.

- Tem certeza que não existe meio dela fugir?

O voz do Prefeito não conseguiu esconder o medo.

- Não, como Harvey havia dito, redobramos a segurança aqui e ela ainda está algema... Maldita! Soem o alarme! Ninguém entra e ninguém sai sem a minha autorização.
- O que aconteceu?
- De algum jeito ela conseguiu pegar a chave do meu bolso!

Contra qualquer protocolo de segurança, o Prefeito correu em direção a sala de interrogatório, na esperança de ainda encontrar a gatuna por lá, mas antes mesmo de chegar, em seu coração ele já sabia a triste verdade.

- Ela não está aqui! - Gritou da porta da sala.

Gordon e Harvey se entreolharam sabendo que essa noite ainda estava longe de acabar, mas antes de irem em direção ao local da fuga, o promotor segurou o braço do colega.

- Comissário, ainda estou com curiosidade, o que ela lhe falou? Qual é o item mais valioso de Gotham?
- Você não vai acreditar, Harvey... Ela quer roubar o coração do morcego.

5 comentários:

André M. Oliveira disse...

Gostei Tarso, ficou muito bom. Já pode trabalhar de roteirista na DC. rs

Gabriel Teixeira disse...

AHahhahaahah eis que surge o novo Alan Moore. Muito bacana, e espere pra ler algo similar em breve!

Icaro Pupo disse...

Muito bom o texto, bem escrito. Será que no coração do morcego cabe uma penteadeira?

Wolv disse...

[Spoiler alert!] Muito bom...me lembra um quadrinho especial que li do Batman: A Piada Mortal, um "must read".

Anônimo disse...

Caro Sr. Santana. Depois de assistir o último filme pude apreciar da forma devida a sua narrativa. Como disse o nosso amigo Pupo o texto foi muito bem escrito. Admiro quem escreve bem narrativas, pois quando as faço acabo fugindo do cerne da questão. Minha mente não trabalha muito bem com linearidade. Isso é um dom! Ótimo trabalho! Espero ler novos textos em breve.