sábado, 12 de novembro de 2011

Matemática



- É fácil, você que fica complicando.

- Não é nada. Fico desesperado toda vez que olho para essa folha.

- Vou dizer de novo então. Usa a regra do tombo, depois multiplica, corta aqui e aqui, ai é só fazer L’hôpital. Simples.

Ele não prestou atenção em nenhuma palavra do que ela havia dito. O movimento hipnótico dos seus lábios não deixava que o pobre rapaz conseguisse entender um único som que ela fizesse.

- Mas pode dar esse número esquisito? O resultado não tinha que ser só dos naturais nesse tipo de problema? - A incerteza era clara.

- Não, não. Pode ser assim mesmo. - Já a certeza dela era quase tangível.

- Será que tem sub dessa matéria? - Falou com pouca esperança.

- Tem sim, mas o professor disse que vai ser a “Sub do Mal”. E não é hora de pensar nisso, você ainda pode aprender a matéria até a prova, que é só semana que vem.

Ele não estava realmente preocupado, só tinha marcado de estudar naquela tarde porque queria passar mais tempo com ela. O resultado do teste que aconteceria na semana seguinte já era sabido por ele e por todos os outros alunos da sala. Todos iriam mal. Com exceção, é claro, das pessoas como Tatiana, que adoravam cálculo.

Quando Francisco, o Chico, entrou para cursar economia, pensava que iria fazer complexas análises da situação econômica do país, entender como o pensamento econômico moldou a história da humanidade e conseguir, com um pouco de sorte, prever o que aconteceria nos próximos anos.

E de certa forma ele acertou. Seu pensamento ficou muito mais refinado nas questões que tocavam a economia, mas existia algo que iria ser um grande problema no caminho para o diploma. E não estou falando dos lábios hipinóticos daquela loirinha com quem estava estudando. É da velha matemática que estamos tratando aqui colegas.

Mas se estamos tentando ser verdadeiros, temos que admitir que o tempo que deveria ser gasto para tentar entender a arte dos números que vinha sendo lecionada por um russo que dava aulas em espanhol para um grupo de jovens adultos que nada entendiam daquilo, vinha sendo gasto de forma no mínimo “mal administrada” com aquela garota que mencionamos anteriormente.

Qualquer oportunidade de ficar perto dela era uma boa ideia, mesmo que fosse para estudar cálculo. O caso deles era óbvio para toda faculdade. O pessoal do Taekwondo já havia sacaniado o Chico com a demora para tomar alguma atitude, eles brincavam com isso em todos os treinos e ele sempre dava repostas evasivas como “Somos só amigos!” ou “A Tati? Ah! Nós só estávamos estudando de novo”. A pior de todas as desculpas somente os amigos mais próximos ouviam “Ela acabou de terminar com o Pedrão, não tem como termos nada”.

Quem olhasse os dois pelos corredores diria que formariam um belo casal, mas o fato dela ter acabo de terminar o namoro com o Pedro era um problema. Chico não falava mais com Pedro como falava no primeiro ano de faculdade, mas os dois ainda eram amigos , certo?

Certo.

Ele afirmava isso para si mesmo constantemente, mas a vontade de ficar com ela, no sentido clássico e moderno da palavra, ia aumentando. Por isso as tardes, como a que está acontecendo agora, vinham se tornando cada vez mais frequentes.

- Você tem estudado tanto. Aposto que você vai bem no teste. Conseguiu pegar aquele livro do Stwart que tinha comentado?

- Consegui sim, foi o último da biblioteca. - Pode parecer pouco, mas conseguir o livro de cálculo mais cobiçado pelos secundanistas na semana anterior a uma prova é uma vitória digna de nota.

- Que bom! Agora é só fazer aqueles exercícios lá da página 114 que vai ser o suficiente.

Eles sorriram e se olharam e ficaram com vergonha, por rir e se olhar.

Era a hora certa. A hora que o Chico estava esperando há muito tempo. É engraçado como a emoção sabota a razão, nos fazendo criar situações nas quais possamos dar vazão ao sentimento, mesmo que isso vá contra todos os estratagemas racionalistas e as possíveis, quando não terríveis, consequências dos nossos atos.

Mas não vamos criar maquinações trágicas quando elas não são necessárias.

Chico juntou coragem e falou com um ímpeto que fez a frase parecer mais importante do que normalmente seria.

- Já que a matéria acabou, que tal irmos ao cinema ou coisa parecida? - O “coisa parecida” soou de uma forma que faria a alegria do pessoal do Taekwondo.

- Nossa, pensei que nunca ia largar esses livros. Topo sim, mas já vi todos os filmes que estão em cartaz, o que seria o “coisa parecida”?

- Isso você deixa comigo.

Terminou a última frase com um sorriso maroto, daqueles que não dizem nada, mas respondem todas as perguntas.

Talvez para esse problema, Chico tivesse um resultado possível e natural.

6 comentários:

André M. Oliveira disse...

Realmente, um texto leve. Não sei se tenho muito a dizer, me pareceu bem motivacional, sabe? Como um dizer "Pare de pensar e faça"

Curti, curti...

André M. Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Elen Corrêa disse...

pow bem legal o texto,bom o tarso variar nos temas neh!!!
mto bem escrito como sempre!

Unknown disse...

muitos detalhes... serão todos inventados? auhuhauhauhaauhuha

bem bom o texto, manolo

Amanda Juraski disse...

Brilhante! Nossa, muito, muito bom! Com certeza meu favorito! *-*
Ugh, amo textos assim! Absolutamente romantico, absolutamente impossíveis. Realmente genial!

Wolv disse...

Hum... eu conheço esse Chico? hahahahahha