quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Bumbá


Num passado distante, lá pras bandas do sertão agreste, havia uma fazenda. Nessa fazenda criavam-se bois. Bois de toda espécie, o dono da fazenda era um amante da pecuária, adorava todas as suas rezes, entretanto, a nenhuma amava tanto quanto a Bumbá, seu boi de estimação.
Amava tanto esse boi que um dia chamou seu vaqueiro de confiança, Tião, e assim com ele proseou:
- Tião, venha cá homi. Te chamei aqui pelo seguinte. Quero que você tome conta de meu boi Bumbá, meu boi preferido, o mais bonito da minha fazenda todinha. Esqueça o restante da boiada, deixe-a para os outros vaqueiros, sua responsabilidade é só Bumbá!
- Pois certo, patrão!
Essa foi a resposta de Tião diante de tal honraria. Passado um tempo nessa condição, contente que só, Tião chega em casa, pra encontrar com sua mulher que estava grávida.
- Ô Tião...
- Diga minha frô.
- Eu tô com um desejo Tião. De cumê um negócio...
- Diga minha frô de quaresmera, o que ocê quisé!
- É mesmo Tião?
- Claro, eu lá vô nega um desejo teu e arriscar meu mulecote que tá aí dentro?
- Pois Tião, eu quero comer língua de boi, mas não é de qualquer boi não. Quero a língua do boi mais bonito e vistoso dessa fazenda, quero a língua de Bumbá!
- Ochê... Lascou-se.
E agora, o que Tião faria? Ceder a vontade de sua mulher seria trair seu patrão, mas desejo de grávida não se nega, seria arriscar sua prole.

Por fim, após muita amolação,
a mulher convenceu Tião.
O Jeito era matar o boi
e sumir pelo sertão!
Desta feita foi Tião,
logo o boi assassinar.
Armado de seu facão, ia o boi imolar
e com pesar no coração seu patrão sacanear!

Feito o delito, e alimentada a sanha da mulher, Tião se embrenhou no mato pra modo de se esconder de seu patrão.
Este, ao dar falta de seu boi entrou em desespero, e bradou aos céus:
- Deidades mórbidas de um panteão caído! Que mil pragas caiam sobre os céus e a Terra por permitirem que sumissem com meu boi!
E mandou que caçassem por toda a fazenda Tião, que deveria dar contas de Bumbá. No fim da noite os empregados vieram informar que Tião não foi possível encontrar, acharam rastros entrando na mata, mas essa era região de índios, e animais ferozes, que cristão algum ousava entrar. Recomendaram também que o patrão tomasse um chazinho de erva-doce, para os nervos acalmar.
- Chá hei de fazer com vossos ossos desgostosos boçais! Se cristão não adentra nesta mata tragam a mim os Potiguás!
E os Potiguás vieram, e em troca do boi lhes foi oferecido uma colcha de tamanduás e um travesseiro de vagens de ingá.
Os índios olharam torto, queriam mais, e por fim o patrão ofereceu um broche espelhado, herança de sua bisavó, alcoviteira renomada das terras de além-mar.
Com tamanho tesouro em mãos os Potiguás partiram floresta a dentro e acharam Tião junto do boi. Trouxeram e apresentaram o cadáver ao patrão:
- Aí mas que desolação! Tião, por que me traíste de tal forma?
Então Tião foi se explicar, usou em sua defesa o argumento de que com desejo de gestante não se bule. É coisa com a qual não se pode brincar! O patrão ficou danado, a surra ia começar, esbravejava ao sete ventos, alguém ia se lascar!
Mas eis que o pagé da tribo veio Tião socorrer:
- Vamos ressuscitar o boi, homem branco há de ver!
E com cantos, tambores e gritos, o pagé estremeceu, urrou uma, duas vezes... e o boi por fim cedeu, recuperou os movimentos e se pôs a caminhar.
O patrão todo contente, começou logo a cantar:

Uma festa, ochê, oi,
É o que hoje vamos ter!
Ressuscitaram meu boi,
venham todos, venham ver!

E de tão feliz que ficou o fazendeiro matou uns 50 bois de seu rebanho e alimentou muita gente.
Assim (re)nasceu Bumbá, o boi zumbi que mugia no sertão, afugentando os vaqueiros e os portugueses desavisados. Com medo de tal criatura muitos irmãos lusos voltaram para as terras de além mar. Os poucos que por aqui restaram tiveram de descobrir como lidar com tão medonha criatura, invocada dos mortos pelos Potiguás pra modo de se vingarem dos portugueses. Após estudos diversos conseguiram traduzir do tupi o amofinado nome Bumbá, que significa: Aquele que teme fornos de assar pães.
E desde então os portugueses restantes se resguardam em padarias, com medo do Boi-Bumbá.

P.S.: Um erro na tradução para o mandarim foi o responsável pelo atual surto de "pastelarias" chinesas no país.






6 comentários:

Tarso "Carioca" Santana disse...

É isso, ou quase isso.
Mt bom!

André M. Oliveira disse...

Sem sombra de dúvidas, nesses casos não há certeza maior que um "quase isso".

Luciene disse...

muuuito boa a história, excelente post ;]
e eu vim aki por livre espontânea vontade e sem incentivo para comentar, vcs acreditam?

André M. Oliveira disse...

O facebook que o diga.

Unknown disse...

True story!

Wolv disse...

iUAHIuahiUAHIuahiUH
Fazer rima com sacanear é ótimo!!
Mas faltaram rimas no início do texto, não? Acho que se tu trabalhar isso um pouquinho mais vai ficar lindo!