terça-feira, 1 de março de 2011

Titanomaquia: Parte 1 – A Senhora do Universo


Capítulo 7
Amaltéia ainda não conseguia acreditar. Mesmo depois de meses cuidando de Zeus ainda era difícil conceber que aquela criaturinha seria a responsável por enfrentar Cronos e os demais titãs.
Outras ninfas já haviam lhe informado que Réia caíra enferma desde a noite após o parto. Não sabiam ao certo qual o motivo, mas havia a desconfiança de que os titãs houvessem descoberto os planos de Réia.
Foram dias negros. Durante o primeiro mês todos no Monte Ida se mantiveram a postos, apenas aguardando o momento em que os titãs e seus aliados marchariam contra eles. Entretanto, isso não aconteceu.
Como era penoso não saber o que estava acontecendo...
- Não se aflija minha jovem.
A chegada repentina de Óbulo, a águia, sobressaltou Amaltéia. Mesmo sendo uma ninfa e tendo vivido entre diversas criaturas mágicas nenhuma lhe passava tamanha imponência como o Grande Pássaro que as mais poderosas entidades das florestas enviaram para auxiliá-la.
- Perdão se a assustei, – continuou Óbulo – notei que não está mais tão confiante, por isso vim até aqui.
- Óbulo, estou assustada. Eles conseguiram incapacitar Réia! O que podem fazer conosco? Sei que os Curetes estão a postos, sei também que eles são bem treinados e não tremeriam diante de um exército de sátiros, mantícoras, humanos, ou até mesmo Grifos dos hiperbóreos. Entretanto, os Titãs são poderosos de mais para eles. Hipérion, por exemplo, poderia atingir a todos com suas flechas de tal distância que nem mesmo seria visto.
- Minha doce Amaltéia, se acalme. Confie no meu julgamento, não corres perigo algum. Por hora.
- Como não Óbulo? Você fala como se não soubesse que incapacitaram Réia!
- Minha criança, - Disse a Águia desviando seu olhar profundo para o leito onde Zeus brincava sorridente - Réia sente que tem algo a proteger, por isso não irá se entregar. Essa é uma vantagem que nenhum dos outros sabe que ela tem.
Em um leito cercado por flores depositadas por suas seguidoras, Réia abre lentamente os olhos. Ergue preguiçosamente suas mãos e as olha fixamente. Passara boa parte dos últimos meses sem forças sequer para murmurar uma palavra, entretanto sua mente se manteve ativa. Pensara incessantemente nos acontecimentos que antecederam sua enfermidade. Sabia que Céos planejara essa afronta. Pelas palavras do próprio Céos sabia também que Ásia fazia parte deste conluio. Réia fechou novamente seus olhos e pode ouvir as vozes dos demais Titãs, estavam reunidos. Cerrou os punhos. Já era tempo de se levantar.
Nos jardins, aos pés do Monte Ótris, estavam reunidos todos os Titãs, com suas respectivas esposas e alguns de seus filhos, exceto Oceano, sua esposa Tétis e Mnemósine. Estavam todos se banqueteando quando Febe, a Titânide profetisa, deixou cair sua taça de néctar. Seus olhos emanaram um brilho azul pálido e após ajoelhar-se exclamou:
- Ainda hoje alguém de grande poder erguerá o braço contra nós...
Jápeto respondeu a tal exclamação impetuosamente com uma gargalhada:
- Ha ha ha ha! E quem ousaria se erguer contra nós minha cara irmã? Quem seria tão louco?
Nesse instante surge no portal do jardim a figura de Réia. A cada passo seu o chão se enche de gramíneas que florescem e exalam um doce perfume. Ela vem de cabeça baixa, os olhos fitando os próprios pés. Cronos, que até então estava sentado em um trono resolveu se levantar para pegar sua arma. Entretanto, ao tentar realizar tal movimento percebeu que pequenas raízes cresciam em volta de suas pernas e braços, mantendo-o fixo ao trono, olhando em volta notou que o mesmo acontecia aos demais.
- Cronos, ordene que ela pare com isso, ou eu mesmo irei fazê-la parar! – Gritou Jápeto, visivelmente irritado com as folhagens que cercavam seu corpo.
Ao ouvir os despautérios de Jápeto, Réia ergueu os olhos. – Pois que venha, irmão. E ao pronunciar tal frase um tronco brotou do chão e cresceu rapidamente envolvendo o musculoso Titã e prendendo-o no ar.
Passando pela grande árvore que se formara Réia se encaminhou para Febe e tocou-a nos olhos, deixando cair de seus dedos um pólen dourado enquanto murmurava algumas palavras. Assim impedia Febe de ter visões sobre qualquer ser que fosse fruto de seu ventre.
Depois disso se virou para a Oceaniade Ásia com ar de severa reprovação e sentenciou:
- Ninfa de ambição desmedida! Criatura mortal e invejosa! Desejas meu poder? Por acaso queres ser grandiosa como uma Titânide? Uma filha de Gaia?? Pois bem, lhe concedo tal desejo.
Dizendo isso deu as costas para os demais e voltou para o Monte Ótris, deixando atrás de si não mais um Jardim, mas uma floresta densa e fria. Com certa dificuldade Cronos se libertou de suas amarras ainda assistindo Jápeto se debater e Ásia se contorcer no chão, enquanto sua face inchava em espinhosa crosta e seu braço esquerdo se esfarelava.
Percebendo o que Réia havia feito Cronos mandou que o gigantesco Atlas levasse sua mãe para a região Oriental onde Oceano abraçava a Terra. Chegando lá a Oceaniade continuou se transformando, seu braço esquerdo se esfarelou em uma areia fina até formar um vasto deserto, que avançou por sobre o Oceano, sua fronte espinhosa se ergueu a altura das nuvens se tornando uma grande cadeia de montanhas, ainda brotaram de sua pele rios, matas e grandes planícies geladas que se ligaram aos hiperbóreos.
Assim, a Oceaniade Ásia adquiriu uma parte do poder da fertilidade de Réia, uma parte muito maior do que podia suportar.

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