quarta-feira, 5 de maio de 2010

Brumas


Brumas por todos os lados.

Estou sentindo uma espécie de claustrofobia, já que tudo ao meu redor é terrivelmente branco e sinto como se esse branco entrasse pelas minhas narinas e invadisse meus pulmões.

Estou usando calça jeans e uma blusa branca, não lembro de tê-las colocado, mas estou confortável.

Caminho perdido por algum tempo. Não posso dizer quanto tempo. Minutos, talvez horas.

Espere. Não me lembro como cheguei até aqui.

Verde.

Lembro de muitas coisas verdes, mas o que seriam?

Uma garota com rosto simpático, olhos vivos, vestida com uma bata branca leve, se aproxima de mim. Ela está acompanhada de alguém, mas esse ser misteriosos ficou parado antes que a proximidade revelasse quem é na neblina.

Olá – disse a garota – estou esperando você a muito tempo! Como você demorou!

Desculpe, mas não me recordo de você... Quem é você?

Eu sou a sua Morte ora! Quem mais poderia ser?

Como assim? A Morte não é desse jeito! E eu não estou morto!

O.k. sabichão então como é a Morte? E como você tem tanta certeza que não está morto? Já vi que esse ai vai dar problemas... Não é dos mais inteligentes...

Comentou olhando para o silencioso espectador.

...

Pensamentos diversos passam pela minha cabeça, se estou morto morri por algum motivo...


Pense, pense.

Moura...
Moura.
Moura!!!

Foi ele! Agora eu lembro!

Agora é a parte onde eles gritam e praguejam contra o mundo, diz a pequena ceifadora de vidas.

E continuando, como se não se importasse com a minha expressão de fúria falou, estive sempre ao seu lado, em todos os momentos de sua vida, esperando a hora certa de nós nos conhecermos e termos uma conversa sobre o que acontece além dessas brumas.

Mas infelizmente ainda não vamos poder conversar sobre isso, já que você ainda vai ter que voltar...

Voltar? Será que ouvi bem? Eu recebi dois tiros nas costas! Como vou poderia ter sobrevivido?

Existem planos maiores do que a sua e a minha compreensão para nós.

Então se não vou ficar, porque você veio falar comigo?

Bem... Ele, gostaria de dizer tchau.

E da espessa névoa surge um rosto conhecido, tão conhecido que não desejaria ver naquele lugar.

Meu irmão mais novo.

Seu idiota! O que faz aqui? Quem fez isso com você? Me fala! Eu acabo com o infeliz.

Foi mal irmão... Foi a vida que fez isso comigo, não a ninguém a culpar... somente a mim mesmo... Eu gostaria de poder apagar todos os meus erros... E não consegui...

Cortando a conversa, a suposta Morte se intrometeu.

Não há tempo para conversas inúteis. Ele está morto, você está quase, se despeçam logo e vamos cada um levando a sua vida, ou morte...

Um tanto quanto irritado com as seguidas interrupções, e querendo poder ficar mais algumas horas para poder passar a vida a limpo dou um abraço apertado em meu irmão.

Até logo, ele me fala com tímidas lágrimas nos olhos.

Até...

Só mais uma coisa, diz nossa interlocutora, nunca se esqueça que estou ao seu lado sempre. Outro deslize desse e você vai tirar umas loooongas férias da Terra.

A realidade se contorce como se escorresse por um ralo.

Abro os olhos novamente. Tudo está doendo. Vejo um teto com infiltrações. Não é um teto conhecido. Tetos desconhecidos sempre trazem uma aflição para quem os olha.

Ao redor tudo é sujo em um quarto que tem pouco mais de 6m². Um homem de pele morena e rosto redondo entra no quarto falando em uma velocidade impressionante um espanhol salpicado de palavras indígenas.

Ele troca uma bolsa de soro que se ligava ao meu braço e me em alguns curativos que estão por quase todo o corpo. Ele não parece se um vilão.

Bem... Nem a Morte parecia ser a Morte...

Não duvido de mais nada...

Mas meus olhos estão pesados, vou fechá-los novamente só por um segundo.
...

2 comentários:

André M. Oliveira disse...

Pronto, vai escrever uma coletânea. Hehehehhehe
Muito bom Senhor Tarso!

Stéfs disse...

ééé fazia tempo que ele não dava os ares por aqui!

Texto excelente!
Gostei da morte de branco...pelo menos muda um pouco essa coisa de roupa preta e foice...ou coisas do tipo!=p

Não perca o pique! sentimos falta dos seus textos!!