terça-feira, 13 de março de 2018

Réquiem do Amor

- Abre - disse a dualidade.

- Suplica que não lhe esmurres mais a ponto de corte - diz a consciência.

- Limito-me à tentativa de reforçar-me com uma a mais - lhe retruca o imaterial.

- Como lhe dá forma, se não a vil semântica da recorrente dor? - indaga-lhe a consciência.

- Sirvo-me de experimentos, de sensações e constatações. Sem estas, nada sou, nada me torno e nada me transformo - conclui imaterialmente.

- Se as constatações se repetem, o esforço é em vão - resume-lhe conscientemente.

- Às vezes a compreensão vai além do vão. Necessita da profundidade.

- Me é ininteligível.

- Me é como a água à garganta insaciada.

- Me é como a tortura da alma.

Conscientemente, passa a ser inconsciente. Ciente daquilo que indefine-se e passa. Cansado da constante dor. Dá-se por vencido.

- Nem o mais nobre dos sentimentos é capaz de suportar isso! - Brada a consciência.

- Você pouco sabe sobre resiliência, racionalizando o imaterial! Deixe-me ir além, deixe-me tentar novamente! - Exalta-se o coração.

- Quem manda aqui sou eu! Pelo menos é assim que concebo a nossa incoerente coexistência. - retruca.

- Mal sabe o quão manipulada estás. A dor me traz vida, é um sensação construtiva.

- Insistência resulta em acúmulos. De erros. De lágrimas. De devaneios descontrolados.

- Me parece apetitoso.

- Lhe é venenoso.

Torna-lhe inconsciente de sua consciência. Fading. O existencial perde ainda mais o sentido. Chão? Segurança? Imateriais. Sonhos construídos desalicerçados. Tortos. Lindos, à medida do romantismo.

Fica, nobre anjo
Que o entardecer se aproxima
A noite que lhe abriga
Derruba-lhe com abranjo

Roda, tontura
Me chama de tudo
Divide-se em nulo
Desiludidamente perdura

Se nomeia eterno
Faça-lhe ruir
Desgraçadamente cair
Ao findar do inverno

O requiém da nobreza
Grata, farta
Destituída, infarta
Conjura a Natureza

Procura crescer
Jovem mancebo
Que já é cedo
Ao amanhecer

Nenhum comentário: