quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Centenário 4/5


A cunhada
Desceram. Jorge acreditava que a presença de seu pai inibiria seus olhares para Lúcia, mas eis que vem a serpente se esgueirando por entre os convidados, aquele anjo negro encarando-o e se aproximando.
- Você sumiu Jorginho, dançou com a minha irmã quando chegaram e foi pra não sei onde! Que graça tem ir em um casamento e não dançar com o noivo? Escuta, essa já é a valsa de n° 6 que toca e eu sem te encontrar.
Puxou-o para a pista. Enquanto dançavam ela mordiscava levemente o lábio inferior retirando um pouco do batom dourado usado para combinar com seu colar. Jorge olhava fixamente para aquela boca de ouro. Ao fim da música Lúcia sussurrou-lhe ao ouvido:
- Te quero agora, vou te esperar na garagem.
-Estás louca. Respondia entre dentes Jorge.
- Se não quiser é só não ir.
Enquanto ela se afastava, ainda fitando-o, Jorge com os olhos no rosto pérfido da cunhada pensava: “- Que garota ordinária...” Então ela se vira e segue caminhando rebolativamente pelo salão, contemplando tal rebolado completa o pensamento: “... Mas bonitinha”.
Voltou para o lado do pai que se mostrava visivelmente incomodado, ficou sem saber se o velho havia notado algo. Soltou meia-dúzia de palavras, volta e meia lançando olhares para a saída de incêndio que dava na garagem.
Por fim disse ao pai que se alguém o procurasse ele estava indo resolver um problema e demoraria um pouco, ergueu a cabeça enquanto caminhava e seguiu decidido a conversar com a cunhada, esclarecer as coisas... Afinal, que mal pode haver em uma conversa?


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