Os atos
Arnaldo viu o filho atravessar o
salão e se dirigir para as escadas. Não havia prestado atenção se ele havia
dito para onde ia, de certo pegar o carro para buscar algo. Com outro copo
vazio na mão um aborrecimento cotidiano latejava em sua mente, sua nora. Lá
estava ela, pura casta, perfeita... Errada. A simpatia constante, a paciência
contínua, o sorriso pronto, não entravam em sua cabeça. Como ela podia se acreditar
tão boa? Se fazer tão MELHOR que todas as outras?
Arnaldo a considerava uma
blasfêmia encarnada, entre dentes dizia, fitando Clarinha de longe:
- Essa mulher é um desacato ao gênero
humano, um desaforo à criação. Conviver com ela é como assistir uma adaptação
de Dom Casmurro com uma Capitu anti-machadiana, ou a Engraçadinha Anti-Nelson
Rodrigues. Ela é a garota anti-mulher, que ofende as demais com a sua pureza...
Como as velhas falam mesmo? “A mulher sem pecado”. Seu sorriso zomba de todas
as outras como quem diz: “Seu destino é pecar”
Com isso em mente Arnaldo encheu
o copo, bebeu de um trago e se levantou. Se aproximou da noiva e avisou que o
Jorge a esperava no apartamento, com urgência.
Na garagem Jorge caminhava atônito
pelo espaço mal iluminado entre os carros, não sabia onde Lúcia estava, talvez
aquela ordinária só estivesse brincando com ele e nem tivesse ido para a
garagem. O lugar é grande, Jorge não tem muito onde procurar até que uma idéia lhe
vem a cabeça. Procura pelas chaves do carro no terno mas não as encontra.
- Safadinha...
No 15° andar Clarinha sai do
elevador e vai até o apartamento, caminha por ele todo chamando por Jorge, está
vazio, na saída encontra Arnaldo na porta.
Ao chegar em seu carro Jorge abre
a porta dianteira, como esperado o alarme não dispara, a luz interna acende e Lúcia
está deitada no banco de trás com as chaves na mão... O que ele não esperava
era encontrá-la nua e sorridente.
Num suspiro suando frio ainda
conseguiu imaginar Clarinha flagrando-o nesse ato e de alguma forma se culpando,
considerando que ele buscava suprir alguma insuficiência sua e dizendo em
prantos: “Jorge, perdoa-me por me traíres”. Esse pensamento deveria ajudá-lo a
parar, mas só lhe deu forças para num último lampejo de moralidade arriscar:
- Isso é muito errado...
Ao que ela respondeu entre um tom
sexy e infantil.
- Ops... E você vai me castigar?
- Sim... concluiu ele sorrindo -
... Toda essa nudez será castigada.
Com esse comentário ela riu histericamente,
ao que ele saltou para dentro do carro e tapou-lhe a boca, gesto que ela
respondeu com leves mordidas em seus dedos, antes de um beijo voluptuoso.
No apartamento Clarinha não
entendia a situação, assustada interpelava o sogro enquanto buscava se afastar.
- Senhor Arnaldo, o que está
acontecendo? Onde está o Jorge?
- Saiu...
- Saiu pra onde? O senhor está me
assustando! Se se aproximar mais eu vou ser obrigada a gritar! Soc...
Num movimento rápido Arnaldo
aperta a boca da garota abafando qualquer som, pressionando seu tórax contra o
corpo mirrado de Clarinha ele fala enchendo suas pequenas narinas com seu hálito
de uísque, enquanto a outra mão rasga o vestido espalhando pérolas pipocantes
pelo chão escuro.
- Passou da hora de você ver a
vida como ela é....
3 comentários:
Quanta podridão! hahahah Mas me prendeu, deixei pra ler tudo de uma vez, não queria ficar esperando... gostei da ideia da divisão.
Mt bom.
Quantas pessoas será que entenderão?
Desconfiei logo no início, mas não imaginava que vc faria esse "mashup" todo.
Gostei mesmo, parabéns.
Veio... que coisa fina! O que tu anda lendo hein? Gostei demais das referências, as que entendi, rs. Muito baum
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