quarta-feira, 1 de julho de 2015

Campo Belo




Essa história aconteceu lá pras bandas das Gerais
Na Zona da Mata mineira, na fazenda de meus pais
Tinha lá uma cachorrinha tão bunita de se vê
Mas aconteceu que a coitadinha
por ficar muito véinha
acabou-se por morrê.

Nóis menino ficamo triste c'a morte da companhêra
Num tinha mimo de mãe que acabasse c'a choradêra
E nosso amado pai que num guentava tristeza vê
disse ansim pra nóis menino:
" De manhã vamo à cidade, passeá pr'espairecê"

Dispois de um di'inteirinho, já na hora de vortá
Ouvim'um barui'squisito e viramo pra oiá
Bem na beira da estrada tinh'um filhote latino
Parecia que chorava bem ansim com'os menino
Mas não era para menos que lamuriava sua sorte
Na moita bem atrás dele, encolhida num cantinho
Jazia sua mãezinha e mais uns irmãozinho
e todos dormia quietinho abraçados com a morte.

Levamo pra casa então aquele cachorro de sorte
Tratado a leite com pão o pequeno cresceu forte
e ao companheiro bonito que tinh'os pelo amarelo
por sugestão dos menino dem'o nome de Campo Belo

Campo Belo cresceu longe, distante de seus semelhante
o cachorro mais próximo morava muito muito adiante
talvez seja por isso, por não tê quem imitá
que Campo Belo foi então nos bezerro s'ispeiá

Mamava nas vaca de dia, passava as noite no pasto
pra ficar mesmo igual bezerro só lhe faltav'os casco
Campo Belo foi'squecendo como que era latí
e juntamente aos bezerro foi aprendendo a mugí
inda igualzinh'aos bezerro que tinha medo de gente
o cachorro fugia ligêro quando nos via na frente
Inté n'ora de crescer Campo Bel'os imitou
do tamanho d'um garrote nosso cachorro ficou
seu semblante dava medo, nos bixo, na gent'e nos otro
o padre inté ispaiô que nóis vinha criand'um monstro

Inté que aconteceu duns ladrão chegá no arraiá
as fazenda de todos vizinh'eles vier'à robá
mas de ver o Campo Belo com nosso rebanho a pastá
os ladrão fugiro de medo
achando que aquele mostreng'os iri'atacá

a nossa fazenda foi sarva pelo cão-boi monstruoso
mas isso fez o padr'e nossos vizinh'odioso
eles passaro a dizer que nóis fazia bruxaria
e foro atrás do cão-boi
com foice e faca na mão, fazend'uma gritaria

Campo Belo sumiu, ninguém sabe pr'onde foi
correndo daquele povo que caçava o cão-boi
num sei se por medo ou bondade
pra alegria do padre, o cão-boi tinha fugido
Ficamo triste de novo, sentindo uma baita saudade
daquele cachorro monstruoso
que agente tinh'acostumado a chamar de "meu amigo"

Mas eu te asseguro, Campo Belo ind'anda por lá
pois lugar mais seguro que nossa fazenda não há
os ladrão que antes fugiro acabaro por vortá
mas mal negócio foi esse de vortá pra nos robá
numa noite escura e fria, sem lua pra lumiá
nóis ouvim'um som estranho que fez os pelo arrupiá
parecia um cão e um boi e dois homi a gritá

na manhã do dia seguinte os ladrão foro encontrado
dois corpo posto no chão e do avesso virado
tem que ser do Campo Belo o urro estranho que ouví

pois nunca vi um boi que late e cachorro num sabe mugí