A cunhada
Desceram. Jorge acreditava que a
presença de seu pai inibiria seus olhares para Lúcia, mas eis que vem a
serpente se esgueirando por entre os convidados, aquele anjo negro encarando-o
e se aproximando.
- Você sumiu Jorginho, dançou com
a minha irmã quando chegaram e foi pra não sei onde! Que graça tem ir em um
casamento e não dançar com o noivo? Escuta, essa já é a valsa de n° 6 que toca
e eu sem te encontrar.
Puxou-o para a pista. Enquanto
dançavam ela mordiscava levemente o lábio inferior retirando um pouco do batom
dourado usado para combinar com seu colar. Jorge olhava fixamente para aquela
boca de ouro. Ao fim da música Lúcia sussurrou-lhe ao ouvido:
- Te quero agora, vou te esperar
na garagem.
-Estás louca. Respondia entre
dentes Jorge.
- Se não quiser é só não ir.
Enquanto ela se afastava, ainda
fitando-o, Jorge com os olhos no rosto pérfido da cunhada pensava: “- Que
garota ordinária...” Então ela se vira e segue caminhando rebolativamente pelo
salão, contemplando tal rebolado completa o pensamento: “... Mas bonitinha”.
Voltou para o lado do pai que se
mostrava visivelmente incomodado, ficou sem saber se o velho havia notado algo.
Soltou meia-dúzia de palavras, volta e meia lançando olhares para a saída de
incêndio que dava na garagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário