quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A Cela

Asilo Arkham para criminosos insanos - Cela 0801

 Quatorze dias atrás - 19:00h = A porta da cela acolchoada se abre lentamente, por ela entra a jovem Dr.ª Harleen Quinzel para visitar seu mais intrigante paciente. Ele está, como de costume, acomodado no acento, preso em uma camisa de força, olhando para frente e sorrindo. Mas não qualquer sorriso, um sorriso esgarçado, contínuo, que muitos consideram apavorante... Mas ela sabe que ele é apenas mais um incompreendido, na verdade ela consegue enxergar uma melhora substancial no quadro do paciente.

- Olá. Boa noite.
Ainda fixando a parede ele respondeu
- Boa noite doutora Quinzel. A que devo a visita?
- Me chame de Harleen, por favor. Gosto de ser tratada pelo meu nome, assim como gostaria de poder tratá-lo pelo seu.
Direcionando seus olhos atentamente para a jovem
- Você sabe meu nome.
- Err.. Bem, quero dizer, seu nome real.

Ao ouvir tal afirmação o paciente gargalha, de forma alta, estridente e contínua. Isso desagrada a jovem psiquiatra, haviam passado duas visitas sem esses rompantes e agora uma escolha errada de abordagem e pronto. Ela sentia que estava tão perto de alcançar melhoras, de processar uma cura no maior psicopata de Gotham.
Após o riso ele voltou a olhar atentamente para a parede acolchoada, como se novamente estivesse sozinho. Por cinco minutos a médica falou, buscou reaver a atenção do paciente. Por fim desistiu, ao se levantar para ir embora estancou ao ouvi-lo comentar:

- Há canteiros nos jardins do asilo... eles me lembram canteiros que vi há muito tempo.

Sentando-se novamente ela pede para que ele lhe diga mais, ao que o paciente responde negativamente. Não pode falar de algo que não conhece. Somente durante sua entrada no Arkham ele viu de relance o dito jardim.
Eis a chave, aí está a questão. Os olhos de Harleen se iluminam ao fitar um sorriso já nada aterrador. Ela trabalharia com o Coringa fora da cela!


 Treze dias atrás - 12:00h = A portinhola na porta da solitária 0801 se abre, vê-se a silhueta de Donnavan Sharp, atual diretor geral do Asilo Arkham.

- Olá Donnavan, esperava por você. Não quer entrar? Fique à vontade, afinal, a casa é sua. Hahahahaha, hehehe...
- Muito bem seu maníaco, por algum motivo a Drª Quinzel passou toda a manhã me propondo uma nova experiência de tratamento com você. Não gosto da ideia de fazer experiências com você... E se algo der errado? Vai acabar machucando alguém. Ela insistiu para que eu viesse ver sua melhora, ver como você anseia por ser curado... Para mim você continua o mesmo verme psicótico!

O criminoso ouvia atentamente, cada palavra, cada entonação do afamado diretor, membro da mais alta elite de Gotham, e por entre as sensatas e hipócritas palavras do administrador ele sabia que havia mais coisas.

-Nã-nã-não... Olhe os modos Diretor. Cada um de nós tem suas prioridades, apenas peço que me ajude, e quem sabe, eu possa te ajudar.

Disse o criminoso balançando a cabeça divertidamente.
Se afastando da porta Donnavan se sentiu nauseado por um instante, do que aquela aberração estava falando?

- Me ajudar? Com o que?
-Com coisas que um homem como você deseja, mas só um homem como eu pode fazer. Hahahahahahaha


Oito dias atrás - 20:00h = Um homem alto e forte se esgueira até a entrada da cela. Do lado de dentro o criminoso, já sem suas amarras, está deitado tranquilo, até que ouve uma leve batida na porta.

- Olá, cê tá acordado? Murmurou o homem.
-Sssiiiimmm.... murmurou com escárinio uma voz do interior da cela.
- O meu "contratante" disse que você tinha instruções para um serviço.

O homem olhava para todos os lados e suava frio, já não tinha certeza se era uma boa ideia estar ali.

- Você trouxe papel e lápis? Passe pela portinhola da comida aqui em baixo.Pedi ao seu "contratante", hehehehe, que me conseguisse alguém capaz de invadir uma residência. pois bem, quero que deixe o material que eu vou te indicar no telhado de uma casa, alguém irá deixar uma carga lá dentro, você irá trazer essa carga para o "contratante", o diretor. Certo?
- Bem.. acho que sim.
- Você parece nervoso... Minha voz te incomoda? Hahahahahaha

A gargalhada fez com que o homem olhasse em todas as direções, não queria ser notado ali, mas não tinha coragem de reprender o Coringa.

- É estou um pouco desconfortável, mas o diretor me garantiu que você anseia pela sua liberdade, por isso ia ajudar, então tá tudo certo.

O psicopata parecia não prestar atenção ao que o meliante dizia. - Ahan... aqui estão as instruções e o endereço da casa. Este outro papel contém um recado que você deve deixar neste outro endereço que está aí. Por fim quero saber se você consegue uma quantidade relativamente pequena deste ácido.

- Acho que sim.
- Ótimo.

E nesse momento ecoou pelo Arkham uma risada que fez o homem desejar estar em outro lugar, com todas as suas forças.

Cinco dias atrás - 23:00h = Um som leve de metal sendo arranhado acorda o criminoso.
- Olá Gatinha, que bom que aceitou meu convite...
- Como sabe meu endereço? O que você está tramando? 

 Os grandes olhos castanhos por trás da máscara denotavam uma severa preocupação. Não era nada agradável saber que seu paradeiro era do conhecimento do Coringa. Afinal, mesmo com ele preso naquele cubículo chegou na sua correspondência um papel com os dizeres "Olá Gatinha, preciso que me faça uma visitinha. Coringa". Ela precisava ter certeza de que ao menos ele continuava preso.

- Detalhes que não vem ao caso. Quero apenas que realize algo que será igualmente lucrativo para mim e para você.
- E o que seria?
- Gostaria que apanhasse um pequeno suvenir da mansão do prefeito. O Brilho de Gotham. O que me diz?
- O diamante 111 quilates? Eu adoraria, risonho, mas se fosse tão simples eu já o teria pego. Nada feito, estou com outras prioridades agora...
- Podemos unir o diamante a essas "Prioridades" que você fala.

A jovem se aproxima da pequena portinhola para fitar de mais perto a fileira de dentes que aparece sobre a fraca luz vinda do corredor.

- Como assim?
- Bem, somos seres de gostos diferentes. Eu gosto de coisas que escorrem, sangue, entranhas, viscos dos mais diversos. Você gosta de coisas que brilham, diamantes, rubis, ouro... Eu me pergunto, o que tem brilhado mais que ouro para você Gatinha? Seria essa sua prioridade? Seria ELE a sua prioridade?
- Não sei do que você esta´ falando.

Rindo e batendo a cabeça no estofamento das paredes ele retruca:
- Sua vadia, não se faça.. haha.. de idiota. Vamos lá, você atinge o orgulho dessa cidade pra mim, e é claro que o morcego vai te perseguir. E vai te encontrar. Haha-hahaha-hahahahahahah. Ahh... hehe... No telhado, acima da janela do gabinete do prefeito há um compartimento, um mecanismo camuflado, no qual você poderá guardar o diamante e buscar depois que for presa...
- Eu não quero ser presa!

O Coringa balança a cabeça em um ar de desaprovação. Todo mundo insiste em ter vontades por aqui.

- Bem, ELE vai estar lá, e se te prender com o diamante pronto, mas, se ele te prender sem o diamante... Criamos um espaço para futuros diálogos, não?
- Pelo visto você está avido por vingança, só isso.
- Não é o suficiente? Você está ávida pelo quê? Hehehehe. Venha cá, deixe eu te passar os detalhes da minha ideia... Hahaha...Primeiramente gostaria de dar-lhe as boas vindas ao Arkham, NOSSO lar.
- Seu lar Coringa,  não tenho nada a ver com isso aqui.
- Ora, ora minha cara, todos temos a ver com este lugar. Ele aceita a todos de bom grado, sem preconceitos. Quando não são mais capazes de sustentar suas máscaras cotidianas, é pra cá que todos vem. Trocar uma vida inteira de agonia, por uma cama e injeções duas vezes ao dia. Hahahahahaah-hihihih



Hoje - 8:00h = Donnavan Sharp se recosta em frente a cela. Sua voz está tensa, mas satisfeita.
- Você conseguiu... o diamante foi roubado ontem à noite, o seguro de roubo já foi acionado e eu, como membro da elite de Gotham vou receber parte do que contribui para segurar nosso "tão valioso patrimônio". A Mulher-Gato foi presa e antes de retornar à cena do crime Lúcio já havia resgatado o conteúdo do mecanismo e trocado pela pedra falsa. Ele acabou de me entregar o Brilho de Gotham. Infelizmente, não posso oferecer sua tão almejada liberdade... Mas irei estudar as propostas da Drª Quinzel, ela é uma psiquiatra muito competente.
- É, eu sei... tenho notado Diretor Sharp, ela é muito proeminente aqui no Asilo. Estive pensando quais postos ela pode alcançar se não tiver nenhum... empecilho. Hehehehe-hahahaha-hihi-hahahaha

 O Diretor Donnavan Sharp assiste o criminoso se contorcer em uma gargalhada cheia de espasmos caindo na cela. Ainda ouvindo o riso segue para seu gabinete. Chegando lá se dá conta que Lúcio foi embora, melhor, quanto menos contato tiver com esse mercenário menos chances de algo dar errado. A gargalhada ainda ecoa pelos corredores do Arkham. Mas não importa, ele tem o diamante... o dinheiro do seguro... e nenhum envolvimento direto com a situação. Ninguém pode atingi-lo. Ele pega sua garrafa de uísque e enche um copo generoso. Precisa se acalmar, ainda está ouvindo a maldita risada do lunático!
Vira de um trago o conteúdo do copo, que desce por sua garganta de uma forma ácida, rasgante e dolorosa... Ele ainda ouve risos...








3 comentários:

Tarso "Carioca" Santana disse...

Sucesso! Mt bom mesmo.

Gabriel Teixeira disse...

Maravilha!

Wolv disse...

Fantástico, Pika!
Agora eu tô lascado, aIUAHIuahiUAHIuahiUAHIuhiu