sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O Velho Detetive




 - Eu sei Bárbara, pode ficar tranquila... eu sei, eu sei... passo amanhã em casa para pegar umas roupas limpas... uhum... Não, por favor, entenda,... mas o Prefeito... Não!" [CRANK! tu tu tu tu] 

Peço desculpas ao gancho fortemente comprimido junto à base do telefone do outro lado da linha. Bárbara é a única pessoa que conheço capaz de suportar este tipo de situação, mas ela não admite que as crianças sofram devido à minha profissão. Eu também sinto saudades. Comissário... e mais pareço um prisioneiro. Há quatro dias não consigo deixar este lugar... nem dormir direito. Aposto meu bigode que o Batman dorme durante o dia!

O saguão da delegacia está tão cheio de ricaços que mais parece um evento beneficente. Com a diferença que os aqui presentes não vieram doar seu dinheiro, mas reclamá-lo. 
 - Stevenson! Coloque esse pessoal em fila e organize as denúncias. Coloque as ocorrências na minha mesa quando acabar. Sanchez, se perguntarem, diga que já volto. Eu  PRECISO de um pouco de ar.

Saio sorrateiramente para o terraço. Nem preciso ligar o sinal, pois o Cavaleiro já me espera.
 - Sua esposa também trabalha à noite? - pergunto desleixadamente.
 - Minhas atividades não permitem esse tipo de luxo, Gordon. É bom ver que consegue manter seu bom humor intacto. - responde a voz sombria, como se a própria noite falasse comigo.
 - Pelo menos ainda me resta algo de bom. Alguma novidade?
 - Nada concreto, mas acredito que Selina não esteja sozinha.
 - Concordo. Ela é uma ladra... essa exibição toda não combina com ela. Mas quem?
 - Não sei dizer. Robin está... - Eu paro de ouvir o que ele diz quando a imagem de uma pequena coluna de um tablóide me vem à mente: "Médica doidona vai por os malucos na rua - Nova contratada do Arkham afirma que Coringa pode ser curado." - ... e eu vou para residência do Prefeito agora.
Ele parte antes que eu possa dizer alguma coisa. Desço correndo as escadas e vejo que a confusão no saguão não foi resolvida. Atravesso com dificuldades a multidão de magnatas e pulo dentro da primeira viatura que avisto. Penso em como seria bom poder saltar pelos telhados como meu colega de preto, mas penso na reação de Bárbara se soubesse que me arrisco também desta forma, o que afasta o sentimento de frustração.
Dirijo perigosamente pela estrava curvilínea que liga os subúrbios de Gotham ao Asilo Arkham. Aquele Palhaço maldito deve estar com algum tipo de armação. Que irresponsabilidade do Dr. Sharp em deixar o Coringa nas mãos de alguém novo! Não... talvez não seja irresponsabilidade. Desligo a sirene... decido que Sharp não deve saber que estou chegando. Será que esta doutora nova também está envolvida? Não... uma entrevista ao jornal é bandeira demais pra quem está tramando algo. E Selina... onde ela se encaixa? Chego ao sanatório antes de chegar às conclusões, mas certo de que o diretor está envolvido.
Sinto algo de errado no ar no momento em que desligo o motor do carro. Toco o cabo do revólver num movimento involuntário que ajuda aliviar minha tensão. Não sei como o Batman se vira sem uma destas. Avanço cautelosamente através do portão destrancado e dos jardins até a porta do hall do manicômio. Até aqui tudo limpo. A porta está trancada. Bom! A esperança de estar errado começa a tomar conta de meus pensamentos, mas percebo que na parede à minha direita há uma janela aberta. Curioso... não tinha reparado isso. Chego até ela de mansinho e avisto Donnavan Sharp debruçado em sua mesa, a garrafa de uísque aberta. Entro pela janela e me aproximo da mesa. O arrepio já domina cada ínfimo pelo do meu corpo. A cena é perturbadora: em sua mão direita Sharp segura um diamante de origami idêntico ao surrupiado da mansão do prefeito; a mão esquerda aperta, num espasmo grotesco, diversas notas de cem dólares com um Benjamin Franklin maquiado de palhaço, enquanto seu rosto guarda uma expressão que dali jamais sairá... um sorriso demoníaco de prazer e dor... os olhos vidrados. Noto o copo de vidro grosso quebrado no chão... o carpete corroído, e de repente, o som do motor da viatura, e a gargalhada macabra que entra pela janela. 

 - Que Deus nos acuda...

3 comentários:

Wolv disse...

Texto feito à 4 mãos com a Srtª Ludmilla Bravo. Obrigado, Docinho!

Gabriel Teixeira disse...

Cara, que delícia essa cadeia de textos nos ultimos dias. A cada texto, a vontade de ler só aumenta... será que poderemos ser ambiciosos com os diamantes de ideias que estamos a escrever?! To adorando tudo isso!

André M. Oliveira disse...

Meus parabéns a vocês dois então, ficou muito bom. Como disse o Lego, um diamante.