sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O primeiro sorriso


Foi de cara. De primeira. Espontâneo. Instantâneo. Sem planejamento. Simples. Profundo. Significou muito. Abrigava uma vida. Acomodava um século em um segundo. O tempo parou.

Em um breve momento, houve uma transposição. Qualquer aflição, qualquer dúvida, qualquer briga com o passado, qualquer vício ou descrença se desfizeram. A certeza da felicidade estava ali, em um lapso. Sabe aquele lance da vida ficar mais colorida? Era inspiração para qualquer artista.

Transporte. Em um segundo é como sair da realidade cinzenta, rotineira, do pensamento preguiçoso que nem se esforça para voar. E parar em uma casa no campo, harmônica, verde, tranquila. A paz sintetizada em um momento. A brisa fresca toca o rosto no mais fechado dos ambientes. Te faz acreditar. Nem dá pra saber em quê, mas acreditar. Acreditar que o mesmo Deus que fez os céus, as estrelas e os rios, fez aquele sorriso.

Repetição. Saber que é possível atingir aquele êxtase com pouco. Se esforçando muito ou pouco, basta saber que com amor e dedicação as coisas acontecem. Uma piada boba, uma declaração simples, um discurso prolongado, um olhar. Um sorriso que será certamente correspondido com outro. Ela pode nem saber, mas seu sorriso é um banho para a alma. É capaz de transcender a matéria, o metafísico, o espiritual, atingindo patamares desconhecidos pela interpretação do cérebro. É aquele velho protocolo do sentimento: o que o torna real é senti-lo.

Descrição. E o que se sente se descreve? Nessa constante batalha para traduzir em comunicação o que temos dentro de nós e externar, compartilhar, ser ouvido, entendido e/ou compreendido, seja em palavras, imagens ou qualquer coisa interpretada por outrem, só concluo que... o vocabulário da língua portuguesa ainda não me ensinou um termo que descreva-o. Não é apenas lindo, ou perfeito. Talvez catártico ou sinestésico. Certamente mágico.

Causa. Causou perda. Perda do medo. Do tédio. Da solidão. Da dúvida. Da importância de muitas coisas, inclusive do que já não devia importar mais.

Foi o primeiro. O primeiro de muitos que viriam. Mas aquele primeiro sorriso foi fulminante. Automático. Um tiro no coração, uma leveza na alma, uma mudança de perspectiva, uma contraída nas pupilas, uma certeza do que viria: plenitude. O que fica é a gratidão. Essa experiência dá propósito, muda a perspectiva, dá vontade. Dá um puta tesão de viver. E sabe qual é o melhor dessa história? Quando você percebe que o primeiro nada mais é  que o próximo.



Mas aquele primeiro sorriso... 

Um comentário:

Tarso "Carioca" Santana disse...

Faz tempo que não tinha um texto seu para dar quentinho no coração.

Que seja o primeiro de muitos!