Foi de cara. De primeira. Espontâneo. Instantâneo. Sem
planejamento. Simples. Profundo. Significou muito. Abrigava uma vida. Acomodava
um século em um segundo. O tempo parou.
Em um breve momento, houve uma transposição. Qualquer
aflição, qualquer dúvida, qualquer briga com o passado, qualquer vício ou
descrença se desfizeram. A certeza da felicidade estava ali, em um lapso. Sabe
aquele lance da vida ficar mais colorida? Era inspiração para qualquer artista.
Transporte. Em um segundo é como sair da realidade cinzenta,
rotineira, do pensamento preguiçoso que nem se esforça para voar. E parar em
uma casa no campo, harmônica, verde, tranquila. A paz sintetizada em um momento.
A brisa fresca toca o rosto no mais fechado dos ambientes. Te faz acreditar.
Nem dá pra saber em quê, mas acreditar. Acreditar que o mesmo Deus que fez os
céus, as estrelas e os rios, fez aquele sorriso.
Repetição. Saber que é possível atingir aquele êxtase com
pouco. Se esforçando muito ou pouco, basta saber que com amor e dedicação as
coisas acontecem. Uma piada boba, uma declaração simples, um discurso
prolongado, um olhar. Um sorriso que será certamente correspondido com outro.
Ela pode nem saber, mas seu sorriso é um banho para a alma. É capaz de
transcender a matéria, o metafísico, o espiritual, atingindo patamares
desconhecidos pela interpretação do cérebro. É aquele velho protocolo do sentimento:
o que o torna real é senti-lo.
Descrição. E o que se sente se descreve? Nessa constante
batalha para traduzir em comunicação o que temos dentro de nós e externar,
compartilhar, ser ouvido, entendido e/ou compreendido, seja em palavras,
imagens ou qualquer coisa interpretada por outrem, só concluo que... o vocabulário
da língua portuguesa ainda não me ensinou um termo que descreva-o. Não é apenas
lindo, ou perfeito. Talvez catártico ou sinestésico. Certamente mágico.
Causa. Causou perda. Perda do medo. Do tédio. Da solidão. Da
dúvida. Da importância de muitas coisas, inclusive do que já não devia importar
mais.
Foi o primeiro. O primeiro de muitos que viriam. Mas aquele
primeiro sorriso foi fulminante. Automático. Um tiro no coração, uma leveza na
alma, uma mudança de perspectiva, uma contraída nas pupilas, uma certeza do que
viria: plenitude. O que fica é a gratidão. Essa experiência dá propósito, muda
a perspectiva, dá vontade. Dá um puta tesão de viver. E sabe qual é o melhor
dessa história? Quando você percebe que o primeiro nada mais é que o próximo.
Mas aquele primeiro sorriso...
Um comentário:
Faz tempo que não tinha um texto seu para dar quentinho no coração.
Que seja o primeiro de muitos!
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