Roga pois a experiência. Carne posta à mesa, banquete viril. Nem os vegetais se adequariam, secura mórbida em pratos esparsos.
Vide pois o reino dos homens. Às mulheres, os louros e pérolas. Uvas que decaem sobre engalfinhadas garras das sedentas vontades. Jovialidade, reinserção posta ao amargo contragosto
- Vá, apanha-me morangos e os coloque à serventia daqueles vassalos! - exclamou o príncipe.
- Ordens a quem se dedica, vossa alteza - Intrépida cerra-lhe os punhos
- Àqueles que lhes acometer - balbucia o príncipe - Não sois tu que a todos rogam clamor?
- Sou apenas a que rege, à revelia - responde a mulher, em tom neutro.
- E não buscas nada, fidalga? - com entonação provocativa o príncipe a encara - vives à margem da revelia?
- A revelia é a calma, aglutino conhecimentos como amantes, mangas como figos e tratos como escolhas - encerrou.
- Não sejas por isso - aclamou o príncipe - Ergam as taças! - no gesto clássico de quem brinda - À mulher de vestes leves!
Pós devida repetição, intrepidamente fitou-lhe os olhos, em agradecimento não-servil. Olhos cúmplices, bocas meladas.
Não para menos, tamanha gordura no ambiente. Findou-se o banquete à norma do palácio, cerrou-se a realeza seus aposentos. A mulher se iria então ao encontro de seus amantes em sonhos. Compreendendo-se incompreendida, atirou-se de vestes e tudo ao que seria a masmorra para uns. Lugar comum para ela. Lá, na masmorra se encontra e dela seus desejos se colocam à prova de tudo, pouco se importando com o julgo, mexendo-se conforme a música; os sons da noite.
Em seu aposento, fita-lhe o príncipe, estático. A bradar e retomar grandes gestos, não garantia a atenção de sua querida. Lhe recolocava à cabeça, não obstante pois todas as amantes do reino, a que lhe acometeria os elementos era indomável. Aceitar a beleza do que é, compartir os augúrios da monarquia com a infusão da vida. Intrépida. Lhe restava o sabor do travesseiro e clarear do dia. Sábio homem, esperava sem esperar e vivia a morrer.
Sábia mulher, que fez de seu ventre o universo e de seu coração morada. Regia porque podia. Fez do tabelião seu escravo e do escravo seu amante. Romarias mal-vindas lhe passavam enquanto tecia seu leque sob a cruz. Havia de tocar-lhe a espada. Acerta bainha, mexe a cadeira. Acena a quem lhe acena. Observa a quem lhe observa. Queima a quem lhe umedece. Agracia a quem dedica.
Justa.
Amanhece no reino. O príncipe acredita ser o primeiro a cumprimentar o sol. Olha abaixo, no estábulo, ela entrelaça cordas em trouxas e prepara a sela de longa trilha. "Viajará", concluiu o monarca. Brotava-lhe à memória suas andanças e empreitadas. A cabeça de alguns cavaleiros lhe remontavam à memória, aventura que lhe cerne. Seu reino continua, amanhecendo mais uma vez, sob sua batuta, reconhecendo-se não como o mais honrado, mas o que seus entes precisam. Cresce com a cidade e à ela dedica sua existência temporária. Segue em direção à amada:
- Tens tudo que precisa? - indaga-lhe calmamente o homem.
- Sim.
- Faças então, bom proveito. Apenas não desfaleça. - conclui o príncipe.
- Nem tu. Cuide de meu jardim - sorriu-lhe brevemente, intrépida.
E ambos cumprimentariam o sol nascente.
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