Olhei para ela e perguntei se precisava de algo, ao que me respondeu quase aos prantos que a mãe dela estava mal, e que por algum motivo ela tinha que pedir ajuda naquela casa, mas não alcançava as janelas para bater, e nem conseguia gritar para ser ouvida.
De pronto o alter-ego de super herói que há em muitos de nós se inflou dentro de mim e deixei escapar um sorridente "Deixe comigo!"
Fui até a grande janela de madeira, (dessas de casas do inicio do século XX, com venezianas em madeira e tal) e bati de leve. Não obtendo resposta bati mais forte.. Por fim desferi um belo, mas não tão potente murro na estrutura de madeira. E nada de ser atendido. Já estava ficando impaciente e a pobre senhora estava visivelmente desesperada. Resolvi perguntar para ela se havia algum nome que eu poderia chamar, e afinal quem estava naquela casa, a qual não me parecia um posto de saúde, ou nada do tipo que eu procuraria para socorrer minha mãe doente.
Ela então me disse entre soluços que era melhor esperar, pois, nas palavras da própria "Eles não gostam de ser incomodados durante a sessão."
"Sessão? Como assim sessão?" Era o pensamento que permeava minha mente e provavelmente vazou pelas minhas feições, pois sem que eu precisasse dizer nada ela já explicou, com a maior naturalidade do mundo que ali era um centro de espiritismo e então começou a chorar olhando para a janela.
Nesse momento um calafrio passou pela minha espinha ao olhar novamente para a senhora que eu buscava ajudar. No minimo ela tinha seus 65 anos. E ela disse que a "mãe dela estava mal"... A dedução "mal de saúde" foi por minha conta. Então olhei novamente para a janela da velha casa, janela do centro espírita onde estava tendo uma sessão, janela essa que eu estava espancando minutos antes, e pensei: "Só pode ser brincadeira..."
Costumo me vangloriar por não ser um cara facilmente impressionável com esse tipo de histórias e eventos sobrenaturais. Gosto de tentar entender as coisas antes de especular para o lado do sobrenatural e tudo o mais. Mas nessa hora o sujeito fica seriamente com o pé atrás.
Bem, devido aos possíveis constrangimentos de se perguntar: "- A mãe da senhora tá viva, né?" optei por uma abordagem com mais tato: "A mãe da senhora está aí dentro?"
Ao que ela respondeu com palavras entrecortadas por choros e soluços e um tanto quanto confusas que não, que ela estava lá.
O "lá", a guisa de esclarecimento, era o fim da rua. Não em uma casa no fim da rua, na rua.
Como eu disse... Confuso.
Quando tentei acalmá-la o portão se abre e um jovem todo de branco com olhar bondoso aparece. Neste momento cometi o velho erro de pensar que a partir desse ponto tudo se ajeitaria. Dei um aceno para a senhora e já ia virando as costas quando ela começou a explicar a situação para o rapaz. Explicou que a mãe dela estava mal e precisava de ajuda, estava com o filho dela (Filho? Isso já tinha entrado na história?) e então.. choro... muito choro. Não me preocupei, o rapaz parecia extremamente tranquilo, parecia saber qual o próximo passo a seguir. Então ele olhou pra mim e disse: "Ela está muito abalada, me leve até a mãe dela."
...
......
..........
"OI?!?Como assim meu rapaz?! Devagar com o andor que o santo é de barro meu jovem."
Nisso surgem outros quatro homens, esses impacientes tentando entender a situação, perguntando pra mim o que estava acontecendo. Na impossibilidade de dizer, "entra na fila moço, tô tentando a meia hora" resolvi expor o que sabia: A mãe dela está mal. Está lá. Com o filho... (Ela reforçou todas as minhas afirmações com sinais de cabeça, ao menos pra ela minhas palavras faziam sentido.) Então... é isso.
Todos se olham sem saber o que fazer, até que ela em um esforço de concentração gigantesco consegue articular "Ela está em um Pálio cinza!"
Ahh... agora tudo ficou mais fácil, não? Depois de um piquezinho de 50m encontramos um carro com o homem (filho da senhora) e a mãe dela (um ser vivo, para minha felicidade). No fim tudo ficou bem, não fiquei por lá para ver como ajudariam a mãe da senhora, mas a situação parecia estar sob controle. E eu ganhei mais um conto para a minha coleção de histórias.
5 comentários:
Mais um dia tranquilo, na pacata cidade de Niterói, quando...
Ahhh o ser humano...
Somos todos seres que não se impressionam com o sobrenatural, não é mesmo!?
essas coisa só acontecem com você e o Tarso. (orgulho de ser amiga de vocês)
iAUHIuahiUAHIuahiUAHIUhaiuHAIUH
Sem mais, subescrevo-me.
André Wolv
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