domingo, 8 de janeiro de 2012

Not so real



Ela estava linda. Como pode uma pessoa poderia sorrir daquela forma? Não lembro a roupa que usava, nem exatamente que horas eram, sabia apenas que era uma tarde de outono e que ela estava linda.

Fazia poucos dias que haviam se mudado para a nova cidade no interior de Minas e o clima acolhedor daquele lugar dava a tudo um ar de sonho e fantasia. Muito tempo havia se passado desde a última vez que pensou estar tão feliz. Nem parece que há poucos dias atrás eles estavam lutando contra todos aqueles problemas.

O interfone toca.

Dessa vez a pizza demorou mais para chegar do que de costume. É bom que o motoboy não espere gorjeta.

Desço os 7 andares que me separam do asfalto e sigo em direção ao entregador que conversa despreocupadamente com o porteiro.

- 16,90?

- Isso. Só uma pizza de mussarela mesmo?

- Exato.

- Ok, bom apetite e boa noite.

- Boa noite.

Por sorte o elevador ainda está no térreo quando retorno com a pizza. Aperto o botão de metal que indica o meu andar e observo a porta se fechar lentamente.

Essa pizza vai durar dias.

Até que é um bom investimento comprar uma pizza quando se mora sozinho, por um preço relativamente baixo você tem alimento para várias refeições. Só tem dois problemas em fazer isso.

Você vai comer sempre a mesma coisa – o que não é lá tão ruim – e não vai terninguém com quem dividir.

Esse é o real problema.

Como a porta do apartamento estava destrancada, entro com velocidade logo que chego ao meu andar. Deixo a pizza em cima da mesa.

Cristina havia saído de uma cirurgia que a tinha colocado em risco de vida há poucas semanas. Os médicos indicaram que ela mudasse para um lugar mais tranquilo e não tivesse nenhum abalo emocional, pelo menos enquanto estivesse se recuperando da remoção do tumor.

Logo que recebi essas instruções,larguei o escritório na mão do Álvaro e, após arrumar tudo o mais rápido possível, me mudei com ela para Santa Bárbara.

Álvaro foi um grande amigo, sempre pude contar com ele desde os tempos de faculdade na SanFran, e desde de que a Cris começou a apresentar os primeiros sintomas ele sempre esteve com a gente eme ajudou a continuar quando fraquejei.

Sábia que tinham errado o meu pedido.

É difícil fazer uma pizza com massa grossa? Por sorte, dessa vez, erraram só a massa.

Abro a geladeira para pegar uma cerveja quando o telefone toca.

- Ricardo?

- Sim.

- Sou eu a Júlia.

- Eu percebi.

As palavras de Ricardo eram de uma frieza tal, que os quilômetros de fibra ótica que os separavam não foram suficientes para que essas palavras a atingissem e a fizessem perceber que não deveria ter ligado, mas mesmo sem jeito ela continuou.

- Teria como você vir pegar as suas coisas que deixou aqui na minha casa? É que estou precisando arrumar a casa e a viagem já está chegando.

- Amanhã eu passo ai. Agora tenho que desligar, estou trabalhando.

- É uma história feliz?

- É.

- Então tá, até amanhã.

- Até.

Ao desligar o telefone sentiu um aperto no peito tão grande que pensou até que fosse chorar.

Desde a última discussão, decidiu que nunca mais iria derramar uma lágrima por ela e tirá-la de sua vida, com já havia feito com tantas outras que passaram por seu caminho.

Apesar de todos os pesares, agora tínhamos uma vida nova pela frente. É reconfortante ter a certeza que a pessoa que se ama está do seu lado e disposta a enfrentar o mundo, se for necessário, para que vocês continuem juntos.

Um estranho misto de ansiedade e alegria ocupava o lugar que antigamente pertencia aos meus medos. Todos eles haviam ido embora.

Com um sorriso nos lábios, me perguntei:

Como isso poderia ser tão real?

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