sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Viagem monótona

Pela janela do ônibus vê o nascer de um sol esmaecido. Do rio que acompanha a auto estrada emana uma espessa neblina que acinzenta friamente a paisagem. O bafejar ritmado marca uma mancha no vidro, que surge e desaparece junto com sua respiração.
Pelo vidro superior entra uma brisa que ganha força com a velocidade do ônibus, causando um prazer gélido sobre sua pele. Segue contemplando o rio, que em suas curvas se aproxima e se distancia do veículo, trazendo sempre consigo um ambiente fúnebre e enevoado que os ainda timidos raios de sol lutam para transformar em uma bela manhã.

Viagem monótona...

Neste instante ouve uma voz que um tanto quanto desconcertada lhe pede para fechar a janela devido ao frio.
Olha para trás com calma e um belo ser, de olhos ternos, da mesma idade que tu, trajando um gorro e vestindo uma jaqueta jeans que parece não lhe proteger muito do frio. Levando a mão a janela sorri-lhe enquanto veda a causa de tal suplício. Endireita a postura enquanto pergunta-lhe o nome. Certificando-se de que viaja sozinho faz um convite para que se sente ao seu lado, o trajeto será longo, seria bom ter alguém para conversar. A resposta vem com um sorriso e ganhas uma ótima companhia para a viagem que agora se torna muito interessante...

Bem, na verdade, isso é o que descobriu que deveria ter feito, depois de descer do ônibus, já muito longe dali, ainda pensando sobre o acontecido. O que realmente fez foi um pouco diferente...

Viagem monótona...

Neste instante ouve uma voz retraida, um tanto quanto desconcertada que lhe pede algo. Olha para trás de sobressalto e da de cara com uma pessoa de belas feições, ao menos é o que lhe parece nos poucos segundos que a encara.
- Que?
- A janela...
- Ah, sim. Um tanto quanto atrapalhadamente tenta fechar a janela de forma eficiente, primeiro com uma mão apenas, depois com as duas, por fim empurrando-a com o peso do corpo. Como se fechar janelas impressionasse alguém. Após esse esforço épico se volta sorridente, esperando uma resposta. Em troca recebe outro sorriso embaraçado. Pensa rápido em algo para dizer antes que os bancos tampem por completo sua visão, palavras saem de sua boca e não se reconhece em sua fala. Quanta idiotice! Em resposta recebe um murmúrio que pode ser qualquer coisa, mas que provavelmente não é nada, apenas uma resposta dada por educação, ou hábito de se responder quando lhe dirigem a palavra. Lembra-se que não lhe perguntara o nome. Passa boa parte do longo trajeto buscando uma nova oportunidade para se virar e falar algo. Não há motivo para isso...

Viagem monótona!


4 comentários:

Anônimo disse...

Engraçado como um texto tão 'monótono' possa ter parecido tão interessante... janelas de ônibus são um recanto de muita filosofia e história..


Lego

Igor disse...

que dó de você, Pika...

André M. Oliveira disse...

Dó de mim, ou de você? =P

Pedro Ramos disse...

Eu já li isso em outro lugar, de outra forma dizendo a mesma coisa...