- Mãe... Eu posso dormir com você essa noite?
Semidesperta Martha coça os olhos enquanto acende um abajur de porcelana à sua esquerda. A luz revela um garotinho de pijama já quase na beirada da cama.
- Querido, já falei que você está grandinho para querer ficar dormindo com a gente e amanhã é o seu grande dia.
- Mas o papai está no hospital trabalhando... Pensei que você estivesse com medo do escuro e vim fazer companhia.
Ele diz isso já levantado o lençol e rapidamente abraçando sua mãe, deixando-a sem a menor possibilidade de mandá-lo voltar para a cama.
- Você sabe que já sou grande e não tenho mais medo de escuro querido. Me diga a verdade, porque você veio aqui?
- É... bem... Você sabe como é o meu quarto... O chão faz aqueles barulhos estranhos e o vento sempre fica sussurrando alguma coisa que não entendo quando a janela está entreaberta...
Seus bracinhos apertam mais forte e ele deixa apenas os olhos fora da coberta.
- Querido, deixa eu te contar uma história. Há muito tempo atrás, quase no ano de 1800, seu tatataravô, Jonathan, era um jovem marceneiro que resolveu tentar a sorte na recém criada Gotham City. Naquela época ela ainda não passava de um apunhado de casas e seu principal atrativo era o grande porto. Acho que os moradores daquele tempo se assustariam com o que ela se tornou hoje...
Subitamente a voz do pequeno cortou a história.
- O que isso tem haver com os barulhos no meu quarto?
- Já vou chegar lá. Preste atenção na história e você vai descobrir.
O chão de terra batida da avenida principal era guarnecido pelos dois lados com comércio de pouco mais de uma dúzia de colonos que vieram de cantos longínquos do país e alguns até mesmo do velho continente, buscando melhorar a vida naquela que prometia ser a melhor cidade do país.
Mesmo tendo um futuro promissor por ser o caminho das principais rotas comerciais da região e possuir o porto mais desenvolvido, a cidade estava nas mãos da família Cobblepot, que sempre tentava conseguir um dinheiro dos comerciantes e cobrava pesados tributos sobre aqueles que não eram bem quistos por eles.
Alguns diziam ainda que sua fortuna vinha de acordos secretos com os ingleses na época da guerra e com o governo quando a guerra acabou.
Jonathan abriu uma marcenaria que rapidamente se expandiu para uma pequena fabrica de construir navios que prosperava junto com a cidade. Ao cair da noite, quando ia encerrando o dia de trabalho na fábrica viu Rodolfo Cobblepot, um troncudo e narigudo sujeito que tinha fama de ser a cabeça que comandava os serviços sujos da cidade, mandando capangas bater em um trabalhador que devia dinheiro para ele.
Seu tatataravô pensou em ir embora, mas sabia que aquele pobre sujeito tinha uma esposa doente e mesmo sendo um cara honesto e trabalhador, nunca iria conseguir pagar os abusivos juros que se empilhavam na cruel matemática dos Cobblepot.
Em uma tentativa de acalmar os ânimos, Jonathan falou com Rodolfo para deixar o jovem ir embora e que se fosse possível, ajudaria o rapaz a pagar a dívida. Mas o Cobblepot estava irredutível. Para deixá-los como exemplo, mandou seus capangas darem uma surra no seu tatataravô também.
- Ele bateu no vô Jonathan?
- Calma querido, você vai ver que os Wayne são mais duros na queda do que você imagina.
Para surpresa do narigudo, Jonathan conseguiu nocautear os capangas e deixou um belo olho roxo na cara amassada do Rodolfo.
- Uhull! Ele fez um iá! Depois um tchá! E por último um roiá!- Disse o garoto enquanto encenava a luta já em pé na cama.
Depois desse episódio, Jonathan, se tornou popular entre as pessoas de bem de Gotham e frustrando os planos dos Cobblepot, foi eleito xerife, sendo o primeiro homem honesto a ocupar o posto desde que a cidade foi criada.
Após anos servindo a população da cidade, dezenas de cidadãos, como forma de agradecimento pelos serviços prestados, doaram uma pequena parte dos seus terrenos para o Jonathan e fizeram um mutirão para construir essa casa que vivemos hoje.
Dizem que cada pedra, cada madeira, cada prego dessa mansão tem junto deles um agradecimento do povo de Gotham e por isso essa casa sempre falará baixinho "obrigado" para os Wayne.
- É verdade mesmo, mãe?
- Claro que é! Não precisa ter medo dos barulhos dessa casa, eles são só os agradecimentos que os antigos fizeram para o legado da nossa família.
- Hum... tá bom, mas posso dormir com você só mais essa noite?
- Claro que pode - Disse Martha com um sorriso doce - Afinal de contas já é mais de meia noite e hoje é o seu aniversário Bruce.
Um comentário:
AMEI seu blog. Mesmo! Seguindo já... Adorei principalmente o "O poeta em mim morreu". Parabéns. Dê uma olhada no meu blog e siga caso goste: http://mentessingulares.blogspot.com.br/
Postar um comentário