segunda-feira, 25 de junho de 2012

Frio

Muitas vezes ele havia sentido frio caminhando pela cidade. Era uma cidade fria, úmida e cinza.O ar era denso e poluído. As pessoas andavam cabisbaixas e arredias, por deus, como ele amava poder viver ali e odiar aquela cidade.
Entretanto, naquela noite o frio o incomodava, movendo os braços em volta de seu corpo ele olha para o céu que se estende além dos luminosos edifícios, a lua nova que abre o inverno parece tragar tudo a sua volta em um rodamoinho de trevas e opacidade.Então ele vê uma escuridão, uma escuridão em si próprio que parece bulir com a vaga profunda dos céus, ao notar-se tão mais profunda e atemorizadora... Faz frio.
Ele puxa o zíper da jaqueta lentamente até o pescoço, o som o faz lembrar de um dia agora distante, quando movia outro zíper, de outra blusa, em trajetória inversa, permitindo-se acariciar a pele suave do pescoço dela enquanto sentia seu perfume... Nunca se perdoaria por não saber qual era o perfume...
Balançando a cabeça se afasta deste rápido pensamento, aquelas eram lembranças mornas de uma paixão quente. Hoje faz frio.
Um frio quase denso, quase tangível, acompanhado de um vento não muito forte que passa continuamente deixando a sensação de um corte gelado sobre a pele.Será possível que não haveria nenhum bar com um preço aceitável aberto até chegar em casa!?
Após uma respiração marcada escapa um bafejo esfumaçado, que dança diante de sua fronte ao sabor do vento, como melodia que escapasse de um concerto de blues antes de se esvair na escuridão da noite. Até o ar de seus polmões se infectava de tristeza...
Continuando sua caminhada rememorou alguns amigos que poderiam estar ali para dividir experiências com ele, das mais tristes até as mais jocosas, deixar fluir a memória simplesmente. Eis que diante de si passa um homem que olha assustado para as variadas sombras ao seu redor, na rua, nas esquinas e calçadas, e segue apressado seu caminho. Hoje faz muito frio.
Tal acontecimento o remonta à um diálogo recente, quando falava a um amigo sobre medos e misticismos, como as sombras geravam monstros e demônios, e lembrando disso olhou novamente para a lua. Esse ano ocorrerá novamente o fenômeno da Lua Azul, a segunda lua cheia em um mesmo mês, a última foi na virada do ano de 2009 para 2010... Nessa época ainda nem sonhava em conhecê-la, quanto mais em perdê-la...
Sem saber dizer se já passou muito ou pouco tempo desde então, ele segue caminhando rumo ao lar, pensando em tudo para não pensar nela.
Hoje faz realmente muito frio, um frio que cobre de azul a palidez da cidade de concreto.


2 comentários:

Taíla castro disse...

Nossa André!!!!
"Véi, na boa véi, cê manda muito nos escrito." rs

Lindo e delicioso de ler. Já estava morrendo de saudades de ler você!!

Tarso "Carioca" Santana disse...

Muito bom o texto.

Sinto um pouco das nossas conversar e um tom de Johnny Cash.

Continue fazendo a boa arte.