quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
O Blues da Mocinha
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Era uma vez...

"Era uma vez, nos tempos antigos, antigos como as montanhas que se vêem ao longe, em uma aldeia distante, quando a tristeza e o desânimo se quedavam sobre os habitantes, a ponto de alguns adoecerem de angústia, estes se sentavam em torno do velho mago da tribo para ouví-lo contar como os avós dos avós de seus avós haviam passado por terras fantásticas, vivendo grandes aventuras até chegar aquele lugar onde escolheram erguer suas casas, arar a terra e criar seus filhos. As crianças agitavam-se empolgadas com as narrativas enquanto os adultos contemplavam, apropriando-se de cada frase, reconhecendo na trama algo de si e identificando-se com personagens. Era reconfortante saber-se, ainda que de forma indireta, protagonista de uma história com muitos heróis. Certo dia porém o mago morreu repentinamente, sem deixar um substituto para narrar as histórias de sua gente.
Preocupados, com receio de que as histórias desaparecessem, alguns temiam que as pessoas se dispersassem. Então um jovem teve uma ideia: homens, mulheres e crianças deveriam se reunir naquela mesma clareira onde tantas vezes haviam ouvido os contos da boca do antigo líder e passar, cada um por sua vez, a contar trechos de uma saga coletiva, que ganhava novos elementos, detalhes, conotações e tons a cada encontro.
O povo descobriu então que, enquanto pudesse narrar, teria algo em comum, uma identidade, um lugar de pertencimento - e eles não se perderiam uns dos outros. Ainda que porventura alguém não estivesse fisicamente próximo, seria preservar um lastro - estaria garantido um espaço de existir."
Esta pequena história não é de minha autoria. É uma antiga lenda africana que li recentemente. Tal lenda dispertou em mim a ideia de que assim como os habitantes dessa tribo somos todos narradores de histórias de nós mesmos, de uma forma ou de outra. Tanto de forma direta, dividindo experiências realmente vividas, como de forma indireta, deixando nossa marca em um texto, ou em um comentário.
Então, aproveito o ensejo para parabenizar a todos aqueles que neste ano se sentaram nesta "clareira" que chamamos de Mente Insana para contar suas histórias, assim como a todos aqueles que engrandeceram-nos parando por alguns momentos para aprecia-las em alguns momentos colaborando com a elaboração de nossas histórias através dos comentários, em outros tecendo histórias silenciosas que se desenrolam dos olhos para dentro, nos reconditos da alma e se impregnam no inconsciente aguardando o momento de se tornar uma ação no mundo.
Assim, desejo a todos ótimas festas e faço votos para que todos tenham um prazeroso fim de ano, em 2011 continuaremos por aqui, alimentando nossas mentes com a insanidade necessária para manter nosso corpo são.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
A falta que faz.3gp
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Férias

Não entendo porque gosto tanto de você...
Durante as noites que saio, você quase nunca é gentil.
Me deixa perdido, desnorteado e as vezes até doente.
Troca pouquíssimas palavras comigo.
Quando acho que descobri sua essência, você se transforma e muda tudo que eu tinha como certo.
Você sabe que eu nem sempre fui seu, para falar a verdade sempre fui de muitas.
Todas as noites antes de voltar para dormir com você, passava por pelo menos uma ou duas.
Não faça cara de choro! Sei que você também nunca foi só minha.
É, eu sei que aquele tal de Caetano já andou fazendo musiquetas com aquele apelido que eu te chamo.
Mas nada disso importa.
Mesmo com todas essas coisas é só você que me alegra e seduz a cada instante.
Ainda que você não me dê a atenção que mereço, você me conquista com os seus jeitos, olhares e até com as comidinhas que você faz para mim.
Antes do final de semana eu devo ir embora, mas não fique triste, pois você sabe que eu sempre voltarei para você.
Te amo minha linda São Paulo.
sábado, 20 de novembro de 2010
Histórias de Ninguém - 2

domingo, 14 de novembro de 2010
Desculpas de um pessimista
sei que, amanhã, de manhã,
o sol não vai brilhar tanto mesmo
fecharei a minha janela ao levantar
sempre há, nem que mínima,
a possibilidade do mundo, nem que só o meu,
acabe, e eu perderia isso.
Irei a um baile de máscaras mais tarde, a tarde
onde não reconheceria ninguém,
nunca reconheço as pessoas com máscaras
Ou, quem sabe, pedirei em casamento a primeira mulher que encontrar
aliás, estranho como meus casamentos acabam
nunca sei o nome, sempre assim, da mulher do meu lado
e depois que chegar em casa
vou pensar, com pesar, contido e contente
em como acordarei bem na manhã seguinte
sem arrependimentos.
domingo, 7 de novembro de 2010
sábado, 6 de novembro de 2010
Um novo dia
Hoje eu percebi
que estou cansado de viver
Nesses tempos tão estranhos
que não posso crescer
Nunca encontro um motivo
para comemorar
E as chuvas que caem
mal podem me molhar
E nas fotografias
nenhum sorriso se quer
uma sopa sem gosto
todo dia um colher
Cicatrizes escondidas
por histórias mal contadas
De um dia esquecido
em uma página virada
Todos perfumes
me parecem iguais
e todos agem
como se fossem normais
Se a TV desligou
e não quer mais voltar
vou fazer minhas malas
e me mudar
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Inspiração no modismo
sábado, 30 de outubro de 2010
Escolhas Excluem

Escolhas excluem. E ao dizer isso já foi excluída a possibilidade de não se dizer nada.
Sei que soará clichê este texto que você vai ler, porque sempre que se aproximam as eleições surgem comentários acerca de como será o futuro, qual o melhor candidato a ser eleito, enfim... o de sempre.
Tentarei fazê-lo de uma forma diferente, procurando ser imparcial no tocante aos candidatos à presidência.
Primeiramente gostaria de ressaltar a importância de um voto. Se você (E)leitor acha que seu voto (por ser apenas um) não fará tanta diferença assim, você está completamente enganado.
Ele faz SIM muita diferença. A sua escolha de hoje, influenciará no futuro de seus descendentes amanhã.
Incrível como em época de eleição o eleitor fica importante (isso soa óbvio eu sei).
De repente os candidatos aparecem com suas promessas, suas aspirações, seus discursos vanguardistas e transformadores dizendo exatamente tudo aquilo que o povo quer ouvir.
-Será mesmo candidato?!-
Não duvido que em alguns aspectos haja de fato uma boa intenção, mas na maioria dos casos sempre retornamos a assistir o mesmo espetáculo: Senhores cordialmente inteligentes fartando-se de pão e vinho, rindo dos palhaços que os colocaram naquele picadeiro.
Ao assistir uma palestra sobre economia que tratava do modelo de substituição de importações X abertura econômica, a palestrante deixou uma questão: O que requer desenvolvimento competitivo?
A resposta: Intervenção Governamental.
É, cabe ao governo escolher políticas adequadas que nos levem a caminhos menos inflacionados e flutuantes; cabe à ele optar por fechar-se em políticas protecionistas valorizando a indústria nacional, ou novamente abrir as pernas para o "estrangeiro" sem nem pensar nas possíveis ineficiências geradas.
Acredito que, pelo simples fato de o Brasil ainda possuir características de monocultura de exportação estamos na situação em que estamos. Atualmente lidamos com uma ilha global, em que políticas externas e atores sociais influenciam as economias de todos os países. Mas, porquê ainda tenho a sensação de que "o outro" é sempre melhor? (sendo que sei que somos plenamente capazes e competentes para nos desenvolvermos?) Por que vejo economias subdesenvolvidas(assim como a minha) estarem em melhor posição (desenvolvendo-se cada vez mais), competindo igualitariamente com as potências mundiais?
Não seria (agora) a hora de mudar?
Nem somente substituição de importações ou abertura econômica...Por que não as duas de forma coerente e gradual, visando o crescimento sustentável onde a população se beneficiaria em primeiro lugar, pois uma indústria que tem subsídios consegue se desenvolver, gerando empregos, o que gera renda, que gera consumo, que gera produção, que gera importação e exportação; que gera câmbio valorizado e ao mesmo tempo aumento de reservas, que gera investimentos sociais o que beneficia a todos nós, (E)leitores.
(É utópico, é. Mas era isso que eu gostaria de ouvir).
Agora deixo uma pergunta, o que os candidatos têm a nos oferecer?
Ao avaliar a agenda proposta pelos mesmos, nossas necessidades e expectativas são supridas?
E a do resto da sociedade?
Portanto,
Escolha...
Exclua... e
VOTE!
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Desejo

Sigo para a plataforma de embarque. Melhor esperar no local onde a condução irá parar. No caminho passo em frente à lanchonete da rodoviária. Olho de relance, entre o amontoado de pessoas que tentam ser atendidas há uma garota, a qual me parece muito bela, por sinal.
Continuo andando, me arrependo por não ter parado por um momento, não consegui olhar bem para o rosto da garota. Agora é tarde, paciência.
Sento-me em frente a plataforma de embarque ao lado de uma das pilastras da rodoviária, olho no relógio. Ainda restam quinze minutos para o horário do ônibus chegar.
Começo a acreditar que será uma viajem extremamente chata. Olho em direção ao saguão e para minha surpresa a garota da lanchonete reaparece portando um salgado e um refrigerante, agora vejo que é realmente bela. Se ela se sentar próxima de mim falarei algo, tentarei manter uma conversa... Mas, ela passa direto e vai se sentar um pouco mais adiante. Do outro lado da pilastra de concreto.
Unn... Eu poderia ir me sentar ao lado dela, mas considero que abordar uma pessoa para um diálogo enquanto a mesma está se alimentando é uma atitude deveras mal educada. Também não posso ficar me esticando para frente da pilastra. Seria uma atitude muito evidente, além do que, todos em volta perceberiam.
Enquanto decido o que fazer meu ônibus entra na plataforma e estaciona. Arrasto minhas malas para serem guardadas no bagageiro. Após este procedimento entro no ônibus. Olho o canhoto da passagem em minhas mãos, ”Nº 25” é a minha poltrona.
Enquanto busco meu lugar uma surpresa. A jovem está no ônibus, provavelmente entrou enquanto eu enfrentava a fila do bagageiro. Ela está na poltrona de número vinte e um. Precisamente em frente a minha. Enquanto coloco minha bagagem de mão no compartimento acima de minha cabeça consigo contemplá-la com certa calma. Ela olha pela janela, seu cabelo é castanho e liso, está cortado na altura dos ombros, o que dificulta minha visão de sua face. Mesmo assim posso perceber o contorno suave das maçãs de seu rosto, assim como o volume sutil de seus lábios.
Não há ninguém sentado ao lado dela ainda. Restam muitas pessoas para entrar. Posso me sentar ao lado dela e começar a conversar, quando o dono deste lugar chegar ofereço o meu. Não há problema algum nisso, imagino.
Mesmo assim, sento-me no lugar demarcado pela minha passagem. Também na janela, só que atrás dela. Outra pessoa ocupa o lugar ao lado da jovem.
A viagem começa, ela contempla a avenida através do vidro com um olhar triste. Melancólico.
Gostaria de falar com ela, mas não me agrada a idéia de ser uma “Voz do banco de trás”. Seria incômodo a ela ter de ficar retorcida no banco apenas para falar comigo.
Pelo reflexo do espelho consigo ver seus olhos. São castanhos. Fascinantes. Distantes.
Vai ser uma longa viagem... Se ao menos eu estivesse ao lado dela, e não atrás.
Durante todo o percurso presto atenção aos menores gestos, na esperança de que ela tenha percebido minha presença. Mas não consigo sequer um sorriso.
Desço no terminal de destino. Ela saiu na minha frente. Enquanto recolho minha bagagem penso que nunca mais a verei. Foi uma pena não ter falado com ela, agora preciso ir ao guichê comprar minha passagem de volta.
Surpreendentemente não há fila para a compra de passagens, há apenas a bela jovem que contemplei por toda a viagem comprando sua passagem de volta. Me aproximo, ela já com a passagem em mãos abre espaço para mim sorrindo educadamente e depois segue seu caminho.
Peço minha passagem. A atendente pede para que eu escolha a poltrona indicando uma tela de computador com a numeração das mesmas. A única que já está marcada é a poltrona de número vinte e um. A dela. Posso escolher qualquer outra.
Penso um pouco e não resisto:
- Poltrona número vinte e cinco, por favor.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
O Poeta em Mim Morreu

Escrever sobre problemas já me cansou
Dizer que tudo é ruim já enjoou
Não é tentador
Falar de amor é mais que um clichê
Quem canta já não mais encanta e vai
morrer de amor
O poeta em mim morreu
e nem se quer se despediu
Deixou apenas uma carta sincera
datada de amanhã
Escrita "eu não vou voltar"
Não vejo graça em rimas bem feitas
nem naquela simetria tão perfeita
Não tem mais valor
Alusões a histórias heróicas
De quem teve o que contar
e já contou
O poeta em mim morreu
e nem se quer se despediu
Deixou apenas uma carta vazia
datada de ontem
e com meu nome assinou
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Passageiro Sombrio
Para cada momento da minha vida
procurei uma poesia que o explicasse
confessando sem convencer, agora faço o meu
sem acreditar que o que aconteceu foi bom
bem-estar misturado com angústia e arrependimento
não entendo quando foi, talvez nem tenha sido eu
As vezes meu passageiro sombrio pede carona
e sem eu perceber começa a me guiar
por atalhos escondidos que desconheço
chegando cada vez mais perto de casa
mais perto de quem realmente sou.
Com os olhos fechados, escuto a canção certa
enquanto meu companheiro sussurra o que quero fazer
o tempo perde sua forma original
e quando firmo-me com segurança novamente
ele grita "agora"
Diria-te como ele é
mas quando olho no retrovisor só vejo eu mesmo
correndo de alguém que parece estar dentro de mim
e quando me alcança não faço um só movimento
por que o que ele diz para eu fazer
é exatamente o que sempre quis
e escondi do resto do mundo.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Canções e Silêncio – Parte III – O Instrumento de Moros

Reza a lenda que as trevas nascem nas mais profundas cavernas do Hades.
Até agora não estou convencido do contrário.
Após deixar o barqueiro tenho caminhado nas trevas sem fim, o tempo se tornou algo no qual não tenho mais tanta certeza existir por aqui. Até o som dos meus passos se perderam nesse lugar sombrio.
Érebus está me seguindo em minha jornada.
O uivo que a momentos atrás me aterrorizou agora é o meu guia para o encontro com minha amada.
Seis orbes vermelhos flutuam nas trevas, dançando de forma frenética aos pares. Ao me aproximar mais vejo o que eles realmente são...
Cérberus...
O terrível cão tricéfalo, guardião da entrada do Hades, continua com sua missão. Ele se encontra sempre em posição de ataque, sobre uma pilha de ossos e carne em putrefação. Sua coleira é feita de serpentes e a corrente que segura sua fúria é feita de pobres condenados costurados em eterna agonia.
Seu papel aqui é impedir que os vivos entrem no mundo dos mortos e punir eventuais desavenças de Hades.
Argumentos de nada valeriam contra a besta, por isso começo a cantar e tocar com minha lira. No início os latidos e uivos ensurdecedores da criatura parecem abafar o som de minha música, mas devido a distancia que a corrente tem, posso tocar minha musica em segurança.
Com os acordes de minha canção o Hades fica ainda mais sombrio e frio, o terrível Guardião não é mais tão aterrorizante, agora não passa de uma criatura que não sabe o sentido de sua violência e teme o que pode fazer a si mesmo e aos outros.
O eco da canção chega rapidamente às profundezas do lugar onde estou, e tamanha agonia tocada de forma tão deliciosamente triste parece incomodar até os habitantes mais tenebrosos deste lugar.
Escuto o bater de asas se aproximando. Se bem conheço as histórias deste lugar, acho que outro dos psicopompos será meu anfitrião na Mansão dos Mortos.

“Pare poeta, antes que todos aqui sejam congelados com sua música.” Diz Thanatos, a personificação da morte. “Hades deseja vê-lo, e o Senhor do Além Vida não gosta de esperar”.
Thanatos se mostra como um homem jovem, com belas asas brancas, sua presença é reconfortante, ao contrário do que imaginava.
Mas um turbilhão de sentimento que atinge quando lembro que foi ele quem levou minha amada até este terrível lugar.
“Quero saber por que fez isto contra minha doce Eurídice, Mestre da Morte.”
“Não fiz mais que meu trabalho triste poeta”
“Você não sente nojo de si mesmo? Como pode ser o arauto da dor? Aquele que faz a palavra saudade ser dita de forma mais triste, seja em canções ou em sussurros! Minha amada estava na flor da idade quando suas garras sinistras a arrancaram do mundo superior! Odeio-te com toda a força que ainda existe dentro de mim!”
“Se cada vez que alguém praguejasse contra mim uma alma fosse salva do Hades, não existiram mais pessoas aqui.”
Disse com a voz tranqüila e continuou ainda no mesmo tom.
“Sou apenas um instrumento da vontade dos Deuses e dos homens, sou o mais humilde dos seres Imortais, pois atendo do mais rico e virtuoso Rei ao mais sujo e cruel ladrão da mesma forma.”
“Sou um instrumento de Moros, o Destino.” – Diz sem demonstrar orgulho.
“Seu ódio é inútil contra mim, pois me odiar seria como odiar o punhal que perfura o peito ao invés do assassino que tem a intenção.”
Por mais que odiasse a idéia, ele estava certo.
“Então vamos, me diga ó Senhor da Última Viagem, me diga quem levou a vida de minha amada e terá o meu perdão?”
“Pobre sofredor, se dissesse a cada um que me faz este tipo de questionamento a resposta verdadeira, o mundo cairia no mais profundo caos e a vida de todos os seres seria colocada em risco. Sinto muito poeta, mas prefiro que caia sobre mim o ódio de todos os homens”
Nem mais uma palavra foi trocada com meu guia.
Durante o caminho até a Mansão vejo que minha música fez mais estragos do que previa, Sísifo está chorando enquanto deixa sua pedra de lado, Prometeu não está mais sendo devorado, mas sua posição atual não pode ser classificada como confortável.
Muito mais coisas poderiam ter sido vistas, se minha ânsia por reencontrar Eurídice e o ódio por Thanatos não desviassem minha atenção.
Chego finalmente ao meu destino.
A Mansão dos Mortos é gigantesca, seus muros exteriores guarnecem um jardim de beleza horripilante, com fontes que jorram sangue e rosas negras por todos os lados.

Thanatos fica parado em frente ao portão exterior e aponta em direção a Mansão.
Entendo a mensagem e continuo.
Do portão exterior pensei que a casa fosse feita de uma madeira ou mármore vemelho escuro quase negro, mas de perto posso ver que a construção é revestida de pele pintada com sangue velho. O cheiro é peculiar. Não sinto aroma de podridão, mas o ar tem cheiro de sonhos inacabados e promessas não cumpridas.
Logo no saguão de entrada uma mulher vestida de preto me aguarda. Entendo agora porque Hades quis roubá-la, Perséfone é realmente linda, mas sua beleza não tem em mim o mesmo efeito que teve em Pírito, e espero não compartilhar do mesmo fim que aquele pobre infeliz.

“Não posso dizer que sua presença é bem-vinda no Hades, ó filho de Morpheu” – Diz a rainha do Hades
“Também não estou satisfeito de estar aqui, mas minha estadia será breve, se assim seu esposo permitir”
“Isso será discutido em breve”
E após dizer isso sobe as escadarias que levam até um enorme salão onde sentado em um trono de marfim está me esperando o soberano absoluto do Hades.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Sentimento

quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Por que?
sábado, 25 de setembro de 2010
Réus confessos

Pelas ruas sinuosas o passado não mais se fazia presente.
Já não se perguntavam o porquê de tantas brigas e desentendimentos, apenas experimentavam aquele raro e novo momento de paz.
Não entendiam ainda como haviam chegado ali, eram apenas dois jovens enamorados em busca da realização de um sonho.
Engraçado os corações apaixonados, mesmo presentes em corpos já talhados pelo tempo, o que caracterizava a seriedade da maturidade, pulsavam com o mesmo ardor de outrora.
Fazia um pouco de frio lá fora, o vento gelado daquele início de outono levava embora todas as nódoas e mágoas fincadas naqueles âmagos inocentes. Nada tinha sido feito de maneira intencional, apenas inseguranças inerentes aos corpos inocentes.
A reconstrução daquele amor, agora mais sólido do que antes, tranqüilizava aquele jovem apaixonado. Era difícil controlar os impulsos perante àqueles que se atreviam em tocá-la.
Maldade não havia, mas julgamentos de uma sociedade vil e cruel não permitiam que seus integrantes se regozijassem ao raiar da liberdade.
Como água cristalina de nascente que brota da pedra mais bruta, seu íntimo se aquietava.
Ao ouvir as verdades ditas por bocas mudas, sentiu vergonha e quis morrer. Mas como deixar àquele que lhe era tão amado nessa terra de amarguras?
A melodia do céu triste que dava vigor não só àqueles que por ela sempre clamavam, assemelhava-se ao rosto umedecido fruto da vergonha alheia.
Tortuoso caminho adiante estava juntamente com toda a incerteza de um futuro desconhecido.
Apenas a liberdade os guiava por entre aquelas ruas testemunhas dos amantes incompreendidos, réus confessos do crime amor.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Só te amo

Eu poderia fazer uma canção desesperada
Dizendo que a minha vida sem você não é nada
nela eu diria que lembro de você ao ver a lua
que um dia sonhei com você toda nua
Eu diria mais que a verdade
fugiria da minha realidade
Pensaria em sentimentos divinos
quando o que dizer é
Só te amo
Ler o que se pensa e sente nos olhos é impossível
Meu bem, só não diga que sou insensível
O mundo não é meu para eu te presentear
e as estrelas estão tão altas que nunca iremos tocar
Eu diria mais que o necessário
E gritaria sem dar conta do horário
Repetiria mil vezes por dia
quando o que dizer é
Só te amo
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Porque eu não votaria na Marina Silva, mas agora votarei
Denúncia
terça-feira, 14 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
Histórias de ninguém
É o ano de 2010, estamos no outono, um outono sem folhas caindo ao sabor do vento, um outono tropical.
A cidade? Bem, essa cidade é maravilhosa nos lábios de poetas desavisados, mas é tenebrosa aos olhos de crianças famintas nos sinais. Estou no Rio de Janeiro. E há muitos lugares bem feios olhando de perto.
Através da respiração sinto o dinamismo dos carros a minha volta no momento em que o sinal abre. A cidade pulsa, enquanto caminho por suas veias. Junto comigo outros seis milhões de habitantes a fazem pulsar. Paro, respiro e lembro. Lembro que a parcela da população que sustenta com seu suor o pulso é vista como um câncer, o qual deve ser expurgado, esterilizado,afastado, periferizado...
Entro em um Shopping, estaciono o carro e caminho um pouco pelos corredores. Olho para as lojas desiludido com o que buscam as centenas de individuos que vejo. Mulheres que buscam formas de acentuar a beleza de um corpo perfeito que esconde uma alma podre, homens que usam dinheiro para mostrar seu poder aos demais, e assim continuarem a acreditar que detém tal poder, crianças que choram enlouquecidas por coisas que não desejam, apenas pelo prazer de ganhar, mesmo que com expressões frias, um carinho dos pais.
Deixo este antro da modernidade caminhando, irei andar um pouco a pé, lentamente, para olhar melhor, mais de perto, a cidade. Hoje tenho um pouco de tempo.
Não foi preciso caminhar muito para ver situações diversas. Homens e mulheres desesperados vendem futilidades por migalhas da riqueza imperial da cidade. Pelas janelas dos carros são lançados os pedaços de pão deste grande circo. Em uma barraquinha modesta há um homem com apenas uma nota de baixo valor nas mãos, ele olha para uma pequena tiara infantil. Seu olhar denuncia insegurança, ele sabe que não tem dinheiro para a tiara e para a janta, sua filha irá entender... Ele vira as costas e sai cabisbaixo, na capital do Império a plebe não tem direito a beleza, se a pobreza se torna bela, ela se torna mais simpática, e mais perigosa, deixe-mo-la imunda e detestável.
Volto ao estacionamento, pego meu carro, hoje vou trabalhar em Niterói. Vou para a ponte, pego um congestionamento no Vão Central, sorrio e olho a cidade, para vê-la de longe, novamente bela.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Porque eu não votaria no Serra.
sábado, 4 de setembro de 2010
Porque eu não votaria na Dilma.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
o verso que ninguém lê...
“Curioso isso. Na verdade sempre me perguntei o contrário: porque vocês, homens sem maldições, se interessam tanto por poesia? Talvez eu chamaria de outra coisa isso que você nomeia de “inspiração” e “sensibilidade”. Muitas vezes vocês seguem o que dizemos como a uma escritura sagrada, se identificam com o que escrevemos, enquanto o fazemos esperando que faça sentido para alguém. Há vezes que nos vemos como deuses por isso, mas quando nosso “dom” nos põe para pensar, percebemos que somos tão mais fracos que os humanos normais que, até sentimos o que dizemos, mas nos reprimimos em nossas estrofes.
Sabe... quando gostamos de alguém criamos personagens e histórias que gostaríamos de ser e de vivenciar com elas, nossos sonhos talvez, e assim com o que deveríamos dizer, palavras que nunca saem naqueles momentos em que deveríamos aprender algo com nossos próprios sentimentos, e transformamos aquela seriedade em inexpressividade no momento em que poderíamos chorar, sorrir, assustar, sermos surpreendidos, menos nos abstermos da verdade.
Invejamos os motivos que vocês tem para dizer “eu te amo”, para abraçar uma pessoa e dizê-la o quanto a gostam, para simplesmente sorrirem e pensar que tudo vai melhorar, que para mostrarmos tudo isso ainda escrevemos em versos, e sempre com a dúvida se o leitor vai saber se quem escreveu foi uma pessoa ou um poeta, pois tememos tanto os olhos dessas pessoas que preferimos usar palavras que toquem seus corações, porém sempre são tão fracas, que não passam dos olhos que nos amedrontam.
Enfim, não tente compreender uma poesia, ela não é escrita para ninguém, mas se faz sentido para você, apenas a sinta, que ficaremos felizes, mas sobre isso nunca escreveremos.”
Uma vez perguntaram a um poeta de onde vinha sua inspiração e sensibilidade... um vez...
domingo, 22 de agosto de 2010
Eis a questão...
ter ou não ter?
ir ou não ir?
ganhar ou participar?
com ou sem?
agora ou depois?
um ou outro?
eu ou você?
eu ou o mundo?
sozinho ou equipe?
verdade ou mentira?
luta ou corrida?
rolling stones ou beatles?
John ou Paul?
vivo ou morto?
doce ou salgado?
homem ou mulher?
ovo ou galinha?
escolha ou genético?
praia ou montanha?
mandioca ou aipim?
costume ou inovação?
pai ou mãe?
banco ou colchão?
judeu ou mulçumano?
Papa ou Galileu?
bater ou correr?
nacional ou importado?
capitalista ou comunista?
Grécia ou Roma?
Siegfried ou Sigurd?
mago ou guerreiro?
arroz ou feijão?
física ou química?
windows ou linux?
Vadinho ou Teodoro?
norte ou sul?
leste ou oeste?
bolo ou torta?
chuva ou sol?
frio ou calor?
água ou fogo?
preto ou branco?
stricto ou lato?
continuar ou parar?
vale a pena pensar?
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Luto indizível
O indizível é aquilo
que dói além da dor,
que torna cabisbaixo
até mesmo o sonhador.
Olho em volta e percebo
vidas cinzas e a morte latente,
olho em volta e me impressiono,
com o devaneador, descontente.
Hoje falarei do inefável,
num ímpeto de ousadia direi o inexprimivel.
Mas sou incapaz de em uma frase abarcar,
tristeza, dor, luto e pesar.
Deveras é digno de se duvidar,
que este pobre homem o faça com facilidade ou maestria.
É possível mesmo questionar:
"Qual o intuito de escrever nessa noite fria?"
Bem, cá deixo minha humilde explicação,
quando se ama também se sofre,
e os amantes, em seu rito de expiação,
vertem lágrimas como moedas de um cofre.
Quando se luta o sentimento é também forte
por isso é necessário alto bradar,
no calor das batalhas de grande porte,
onde verte sangue o guerreiro que este brado honrar!
Ao poeta, só lhe resta verter rimas.
Por isso cá estou, a verter melodioso pranto avermelhado.
Verdade voraz das vidas virtuosas,
esse vórtice vertical veladamente pranteado.
Pranteio por aquela que amei,
e ao lado da qual lutei,
e que neste momento me faz
perceber o significado de paz.
Neste momento que a olho,
cercada dos velhos amigos,
que desorientados formam um molho
de almas perdidas em momentos antigos.
É... hoje é um dia de luto
no qual o sorriso se esvai em pranto
e a garganta sufoca tanto
que em minaha alma sinto um clamor bruto.
Me vem a mente uma criança deitada
pendendo os olhos mas dizendo-se sem sono
pedindo que outra história fosse narrada
e ela sorria e contava mais uma, como se o infante fosse seu dono.
Lembro-me de todas as onças, corças,
bruxas, aberrações, fadas, Joões e Marias
diferente de muitas das crianças
ainda sei de cor cada uma dessas narrativas
Prova disso é que há um mês,
em pé diante de sua cama,
era eu quem com certa altivez
contava histórias como quem ama.
Tive tempo de mostra-la que a lição aprendi,
no entanto numa noite que vai entrar pra memória
o sol há de se pôr mais triste,
partiu desse mundo a mestra do contador de histórias.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Lágrima

E a lágrima esquivou-se sobre as marcas
que o choro contido deixava em seu rosto,
em um soluço escapa-lhe da face e cai
em direção aquele solo roto.
Ação por onde seu orgulho esvai,
essa ação de por amor chorar.
Aprendera que homens aguentam desgraças,
sem deixar lágrima alguma rolar.
Pro inferno com o que aprendera!
Como era possível de outra forma reagir
ao ouvir da boca que antes beijara,
"Vá embora, não te quero mais aqui!"?
Incrédulo o jovem se exaspera,
"Não podes finjir que tudo acabou!"
Impassível a mulher impera,
"Desapegue daquilo que passou."
Enquanto observado pelos olhos escuros,
o garoto sentia em sua garganta um nó.
Não compreendia como seu relacionamento
sucumbira assim do ouro ao pó.
"Não podes renegar ao esquecimento",
num ímpeto de ousadia ele bradou,
"aquilo que guiou nossos futuros!"
Mas ela com um olhar o censurou.
E depois ternamente lhe disse,
"Por que me acusas, como vilã impiedosa?
Acreditas mesmo que não ficarei mal?
Pensa então que nessa dor sou eu quem goza?
Para mim isso não é algo banal!
Me dói no peito igualmente esse fim,
mas ignoras, como se agora não me visse
não faça isso, não piore mais pra mim!"
A brisa fresca do entardecer de inverno
cortava as almas como a mais fina navalha,
enquanto a jovem de olhar piedoso e terno,
sentia ganha essa épica batalha.
Vencido, o jovem desabafa seu triste pezar,
"Qual o intuito de se sentir saudade,
do que nos é impossível conquistar?
Por que nos é proíbido a eternidade alcançar?"
Com um sorriso ela se aproximou
e lhe perguntou segurando sua mão,
"Se todas as coisas durassem para sempre,
você saberia o quão importantes são?"
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Tudo numa coisa só

Ele estava ferrado.
Havia se apaixonado por um punhado de garotas e não tinha certeza qual escolher para viver para sempre ao seu lado.
Havia a garota dos brownies que conseguiu conquistar o seu sentimento pela barriga, que alem desses bolinhos em sua casa quase sempre havia pizza! Como não se apaixonar por essa garota?
Então quase em seguida ele se lembrava da garota da dança de salão... Por Deus! Como algum ser poderia ser tão belo movimentando seu corpo com a leveza e a sensualidade de quem tem certeza de que está executando algo divino, sem se importar se está fazendo exatamente o passo que o professor havia ensinado. É, com certeza ela é a melhor escolha! Se não fosse pela menina de olhos brilhantes...
Essa menina fazia as coisas de forma única, seja ver televisão, rir de uma piada, ou simplesmente recostar sua cabeça em seus braços e fechar os olhos, essa mesma menina é a que gosta de dias de sol e parques, ouve musicas “fofinhas” e gosta de animais. Claro que é a garota mais doce que ele já viu, seria ela a melhor opção?
Tem também aquela com ar de mais velha, que tenta derramar sua sabedoria e sempre tomar decisões corretas e lógicas, é quase o oposto da menina de olhos brilhantes, mas ela não é fria, suas atitudes, mesmo que muito sérias, são repletas de carinho e do sonho de fazer sempre o melhor.
Ele estava realmente ferrado.
Pensou que ia enlouquecer, pois tinha certeza que havia convidado uma para sair, mas na hora outra aparecia. Ficava perplexo quando estava em um parque com a garota de olhos brilhantes e de repente ela desaparecia e a garota dos brownies aparecia com alguma delicia para ele provar!
Ele começou a pensar que era um azarado maluco, até que um certo dia teve um epifania brilhante, iria convidar as quatro para sair e decidir com qual ficaria! Simples e prático, o plano era perfeito!
Então para sua surpresa, percebeu que na verdade não era tão azarado assim, na verdade era o homem mais sortudo do mundo, pois as quatro garotas, na verdade era uma só!
A.A.A.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Ah quando eu morrer...

Quando eu morrer quero entrar para a história. Colocarão uma frase dita por mim no epitáfio e me imortalizarão. Todos estudarão sobre minha vida e serei citado por décadas, quiçá séculos... Meu velório durará três dias. Terão passeatas da igreja até o cemitério. Pessoas que nunca vi na vida se perguntarão o que será de suas vidas agora.
Ah não, melhor: quando eu morrer quero que seja igual novela. As pessoas que me conhecem e seus conhecidos se lembrarão de mim até o fim de suas histórias. Terei um significado ainda na cabeça de cada um que esteve comigo ou me viu passar... No meu velório vai chover. Todos usarão preto. Haverá pessoas ali contra a vontade, tudo bem. Haverá também pessoas querendo pular na cova junto comigo, tudo bem também.
Ou seria mais legal: quando eu morrer quero que seja como num filme. A solução de uma história ou o início de vidas que nunca saberemos como serão. Em meu enterro, numa manhã ensolarada, num cemitério que mais parece um jardim, haverá poucas pessoas, somente as que realmente me amaram ou que tenham algum interesse na minha morte. Meu filho mais velho tentará explicar ao mais novo o que aconteceu enquanto consola minha viúva e disfarça suas lágrimas.
Sem dúvidas essa: quando eu morrer quero que seja como todos que já vi na vida real. Ninguém ficará de luto depois, ninguém se vestirá de preto. No meu túmulo apenas “um filho amado” e datas de nascimento e morte. No velório piadas serão permitidas pelos mais jovens, desde que somente eles ouçam, pessoas que não víamos há meses dando condolências, sem nem saberem ao menos o significado da palavra, algumas flores perto do meu corpo, despedidas emocionantes antes de fecharem o caixão. No cemitério os mais devotos de alguma religião cantarão canções adequadas, não espero que chova, nem muito sol, não quero causar esforço a quem está se dedicando ao último favor prestado a mim, e, realmente, espero uma salva de palmas no final de tudo, espero ter feito diferença na vida de alguém de forma positiva.

sábado, 17 de julho de 2010
Guia do Vestibulando - parte 03 (Final)
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Invejando anjos

Já fazia mais de um mês que estava naquele quarto de hospital recuperando-se de uma lesão no tendão de sua perna direita.
Os dias se passavam de maneira lenta e sutil, o que atormentava ainda mais o espírito audaz da jovem. Tantos sonhos e desejos, tantas conquistas já possuía mesmo sendo tão nova! Mas a idade não era empecilho para aquela que deslizava por entre os olhos de espectadores atentos aos seus movimentos mais singelos.
Desde a infância fora privilegiada pelo som das notas musicais que saíam do piano onde sua mãe tocava com maestria.
Ah! Quanta felicidade rodeava aquela pequena criatura que ensejava os primeiros passos de bailarina. Cada nota ecoada era recebida por um gracejo ou um pequeno passo realizado de maneira quase perfeita pela pequena.
Agnes era dotada de uma notável beleza desde tenra idade; sua pele branca praticamente reluzia aos raios do sol primaveril juntamente com seus longos cabelos loiros encaracolados. Seus olhos azuis tinham um brilho indescritível, semelhante ao de safiras.
Lágrimas corriam pela face meiga e doce da sonhadora bailarina que sentia uma ponta de inveja ao poder ver as outras meninas patinando no lado congelado da cidade.
Já fizera isso tantas vezes, mas só agora dava a devida importância, já que sentia o peso de nunca mais poder dançar em sua vida.
Fechou os olhos e lembrou-se dos aplausos da última apresentação. Quantas rosas brancas e vermelhas foram arremessadas ao palco; luzes ofuscantes mal permitiam que ela divisasse a platéia que estava de pé a lhe homenagear.
Ao som de Clair de Lune de Debussy, a bela moça/mulher parecia que flutuava pelo palco. Ali fora seu grande momento; música e dançarina se completavam como chuva em solo árido e infértil.
Cada rodopio, cada salto, cada gracejo no ar eram realizados na mais perfeita sintonia; seu corpo era tão belo que todos os anjos naquele momento pecaram ao sentir inveja daquela abençoada que podia ser tocada por qualquer outro humano.
O fim da música ainda ecoava em sua mente; sabia que poderia voltar a andar, mas agora as alegrias vividas seriam apenas recordações, enquanto que a dor se faria presente pelo resto de sua vida.